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O bom jornalista checa a fonte, confere a informação e ouve o outro lado antes de finalizar a matéria. Jornalismo sério incomoda. Aplicando Valadares: “Se a versão vende mais do que o fato, publique-se a versão.” A audiência aumenta e gera mais receita com publicidade.
Patrono da minha turma de Direito, o jurista Heráclito Fontoura Sobral Pinto dizia que o advogado é o primeiro juiz da causa. Quando representa um réu e as provas são incontestes, deve garantir que ele não receba pena maior que a merecida em vez de tentar inocenta-lo. Porém, nem sempre é assim. Leis confusas, jurisprudência oscilante, recursos sem fim, prerrogativa de foro, prazo prescricional etc, levam a crer que às vezes o crime compensa.
Bons profissionais de Marketing consideram o termo “marketeiro”, depreciativo, assim como motoqueiro, para o motociclista. Parafraseando Sobral Pinto, o profissional de Marketing é o primeiro juiz do produto e não deve “empurrar” para o consumidor aquilo que não cumpre o que promete. É propaganda enganosa. Mas o “marketeiro de campanha” não pensa assim.
Numa sociedade ideal, policial não pratica crime, religioso não é pedófilo, advogado não tenta inocentar o culpado, juiz não vende sentença, mídia não divulga notícia falsa, publicitário não anuncia produto enganoso e político não faz promessa que não cumprirá. Mas nossa sociedade não é ideal.
Para Aristóteles, o homem é imperfeito, mas é perfeccionável. Porém, muitos buscam o sucesso, não pelo árduo caminho da perfeição, mas pelo leve atalho da enganação. Existem órgãos para fiscalizar e aparato judicial para processar e julgar abusos, instituições sérias, com membros falíveis e que erram por vezes na interpretação dos fatos. E é decepcionante ver os justos tratados segundo a cartilha dos injustos.
Nelson Rodrigues dizia que o dinheiro compra tudo, até o amor sincero. Se a grana é boa, sempre haverá um amoral a vender gato por lebre, fazer do bandido vítima da sociedade, divulgar o falso por dar mais audiência e acatar pressão de grupos de interesse em detrimento do coletivo. Como diz o samba de Correia da Silva e Brigadeiro:
“Camelô na conversa ele vende algodão por veludo,
Não tem bronca porque nesse mundo tem bobo pra tudo.”
Não é justo chamar de bobo quem não consegue checar o que ouve, lê ou assiste. Enganadores profissionais fazem com que até pessoas experientes e bem informadas sejam traídas por falsas narrativas. Importa o fim – vencer – e não os meios. No Código Penal, “fake news” não possui tipificação precisa.
A Justiça Eleitoral é lenta e há vários casos nos quais a sentença ocorre no final do mandato. Existe político cassado por abuso econômico e fraude nas contas, mas nunca por mentir na campanha ou descumprir promessa. Por isso, o eleitor é o primeiro juiz do candidato e o único a decidir quem merece o voto.
A pesquisa influencia o eleitor? O mundo tem vários casos de pesquisas viciadas e não há como avaliar sua interferência no voto. Conheci pessoas que diziam: “não perco meu voto”. Leia-se: “sempre voto no vencedor”. Pensam que votando no ganhador, também ganham. Pautam o voto pelas pesquisas.
Se alguém compra um produto errado ou inadequado, o vendedor idôneo substitui ou devolve o dinheiro. O mesmo não ocorre com o eleito que decepciona, mente, trai ou se afasta das promessas. Não há reembolso ou substituição. Só na próxima eleição. Político, como automóvel, deveria ter recall. Deu defeito, substitua-se quanto antes, sem prerrogativa de foro.
Não defendo ou ataco candidatos. Apenas apresento fatos e critérios para análise. Neste espaço, abordei: Ilusão Coletiva (4 Jan), Comportamento Humano Influenciado (10 Jan), Planos Irreais (17 Jan) e agora, Narrativas. Minha sugestão é que o eleitor escolha candidatos como escolhe seu dentista: conheça o profissional, busque referências, informe-se. Você confia sua saúde bucal no mais próximo, barato ou simpático? Não! Você quer o melhor que seu dinheiro pode pagar. Use esses critérios para escolher candidatos. Imaginou sofrer de dor de dente por 4 anos devido a escolhas erradas?
Revisão ortográfica: Anne Preste