Eleição: ilusionismo coletivo?


Em 2022, o foco das atenções será a disputa presidencial, com governadores em segundo plano, senadores e deputados talvez em plano algum


Laerte Temple

04.01.2022

Foto : Elza Fiuza/Agencia Brasil

Em 2022, o foco das atenções será a disputa presidencial, com governadores em segundo plano, senadores e deputados talvez em plano algum. Alguém se lembra o nome do senador ou deputado em que votou em 2018? Parece de que em toda eleição ocorre um ilusionismo coletivo. Explico:

Ilusionista é um artista com habilidade para criar uma boa distração enquanto sua “mágica” acontece diante de todos. A plateia se surpreende e aplaude o “mágico” que a enganou. Não acredita em ilusionismo? Antes de continuar a leitura, assista com muita atenção ao vídeo a seguir: “The monkey business illusion” – Daniel J. Simons. É rapidinho.

Assistiu? Acertou a resposta? 16 passes? Ficou feliz porque acertou?

Bem, quem não conhece o vídeo pode não ter reparado no enorme gorila que atravessou o palco e acenou para a câmera. Ainda que você tenha notado o gorila, talvez não tenha visto os outros dois eventos: a cortina mudou de cor e uma atleta do time preto deixou o palco.

Utilizei esse vídeo em aulas e palestras. Costumava pausar a imagem, comentar e depois continuar. As pessoas ficavam atônitas ao saberem que se concentraram no problema (distração), três eventos aconteceram e não notaram: gorila, cortina e atleta indo embora.

Neste ano, candidatos e mídia levarão o eleitor a focar no debate presidencial (distração) e ignorar os candidatos ao legislativo. Qualquer que seja o presidente eleito, dependerá do Congresso para governar e é aí que mora o perigo. Já vimos de tudo para obter apoio: troca de favores, ministérios, cargos e autarquias com “porteira fechada”, verbas, compra de voto com dinheiro público etc. É fácil cooptar o parlamentar aético e/ou imoral (aquele que conhece, mas descumpre as regras éticas). Ele não está nem aí para o Brasil. Vende voto e apoio em troca de cargos, favores ou dinheiro. Não é leal a ninguém, exceto a si próprio.

Essa distração, a campanha presidencial, permite que muitos gorilas desfilem pelas urnas. Quando notamos, já era! E assim, centenas de políticos ficha suja, aéticos, réus e até condenados são reeleitos facilmente.

O eleitor, tendo ou não simpatia por um político ou partido, deve estudar a vida do candidato antes de votar. Vários blogs apartidários acompanham as atividades dos parlamentares, analisam como votam e apontam os melhores. Um deles é o: Blog Politicos. Convém analisar antes de votar.

Exemplo recente: o Congresso editou lei triplicando o Fundo Eleitoral (dinheiro público para campanha), de 2 para 5,7 bilhões, mas o presidente vetou. Porém, em 17 de dezembro, 317 deputados e 53 senadores derrubaram o veto e restabeleceram os 5,7 bi para gastar à vontade na eleição, além do 1 bilhão do Fundo Partidário. Temos 13 milhões de desempregados, economia capengando, brasileiros passando fome e eles triplicam o gasto com eleição! Quer saber como cada senador e deputado votou? Visite: Congresso em foco.

Somos livres para escolher, mas seremos escravos dessa decisão. O que acontecerá no Brasil nos próximos 4 anos dependerá das escolhas que fizermos em outubro de 2022. Não adianta dizer que você vota bem, mas a população não. É preciso encorajar familiares, parentes e amigos a conhecer melhor os candidatos ao legislativo e não votar em pessoas inidôneas. Cuidado com as distrações. Elas ocultam e elegem gorilas. Não seja enganado. Com Congresso ético e competente, nenhum presidente faz o que bem entende.

Pense nisso.


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