Direto ao Ponto: Tirando da sombra os invisíveis

Entrevista: Janete da Costa Pedro Nogueira da Luz

por Lala Évan

31.10.2020

Eleições de 2020, aqui todos contam. Vamos dar voz a alguns candidatos com poucos recursos para concorrem às eleições para vereadores de São Paulo.

O Cidadão e Repórter, no cumprimento de sua missão de informar com total imparcialidade, está disponibilizando um espaço para ouvir os candidatos que estão na jornada das próximas eleições de 2020 na cidade de São Paulo. Traremos entrevistas de candidatos que nem sempre contam com recursos, quer sejam próprios ou de seus partidos, e costumam atuar localmente, conhecedores que são dos principais problemas de suas comunidades.

Saiba o que é mandato coletivo

O sistema democrático indireto tem como característica a participação popular na gestão do governo, através da eleição de representantes, na qual a sociedade delega sua soberania. No entanto, mesmo sendo uma das formas contemporâneas mais comuns utilizadas na gestão política, o sistema apresenta desvantagens referentes à disputa pelo poder e a desvinculação com sua função representativa, levando a um regime com pouca legitimidade.

Apesar dos processos eleitorais e liberdades civis presentes no Brasil, a atuação popular nas tomadas de decisão do governo é limitada e a cultura política ainda é baixa. Esse cenário acaba por colocar os cidadãos às margens dos processos de resolução política, de modo a gerar fragilidade nas instituições, problemas de governabilidade e crise de representatividade. Foi pensando em tudo isso que foi criado o sistema de mandato coletivo ou mandato compartilhado​ .​

Vamos entender como funciona essa forma de composição do gabinete com as explicações de Janete da Costa Pedro Nogueira da Luz.

Janete,​ graduada em Teologia pela Colégio São Bento, Tecnologia Eletrônica pela Faculdades Integradas Senador Fláquer, pós-graduada em Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual pelo Senac SP, em Gestão em Terceiro Setor pelo Mackenzie, em Educação pela PUC. Cursou Licenciatura Plena pela FATEC SP. Conta que mesmo após sua aposentadoria não deixou de estudar, porque entende como sendo sua maior riqueza, a cultura e educação.

Explicou que esse modelo não é tão novo, mas significa que o político se compromete a dividir seu gabinete e mandato com um grupo de pessoas voluntárias, compartilhando sua gestão e votando de acordo com as deliberações desse time. Dessa forma, o representante abre espaço para ações e posicionamentos plurais, que tendem a neutralizar interesses particulares. Inicialmente, o modelo foi colocado em prática no poder legislativo municipal, com membros da rede de colaboradores chamados covereadores. É um cargo eletivo com várias pessoas de várias nuances e vários olhares.

A composição de um mandato coletivo sugere a participação de um mínimo de 5 integrantes, porém no que ela participa, Partido Progressista - PP, é composto por 12 pessoas, entre ativistas e especialistas, dando condições de olhar a cidade como um todo e de forma mais integral.

Sobre sua visão de política na cidade de São Paulo, comentou que nunca teve uma ação política partidária, embora tivesse várias causas. Mencionou que muitas coisas lhe incomodam, como questões de moradores em situação de rua, o aspecto triste de São Paulo, uma cidade muito suja, com uma série de dificuldades e que com a pandemia ganhou uma lente de aumento, com problemas aumentando exponencialmente.

Diz que tem muitas coisas que precisam ser feitas por esta cidade, e não é preciso inventar a roda; tem várias pessoas que já começaram coisas boas e a ideia é dar continuidade ao que é bom.

Sobre a atuação de um vereador, Janete diz que ele tem uma responsabilidade enorme com as políticas públicas, executando as demandas que são necessárias, tendo muita articulação para que sejam cumpridas. Existem muitas questões sobre moradores em situação de rua, problemas de mobilidade humana, LGBTQI+, racismo e educação que são transversal a todos os problemas citados. “Somos em 12 pessoas debruçadas nestes problemas”.

"Vereador tem de ser humano​"

Quando questionada sobre sua avaliação com relação ao legislativo municipal neste último pleito, diz que talvez sejam necessários outros olhares. Fazer esta troca também é positiva, sem a intenção de se construir do zero, porque em São Paulo, querer reconstruir em quatros anos ela argumenta que é impossível.

Janete compartilha o quanto foi valioso conhecer e estar participando deste momento com o mandato coletivo, pois lhe proporcionou conhecer mais pessoas, mais causas, muito aprendizado efetivo e que independentemente de ganhar ou não, sempre haverá muito conhecimento.

Outra grande questão é a situação da mulher, dos negros e dos imigrantes.

Nesta sua trajetória, realizou parceria com uma ONG, iniciando através deles a contratação de mulheres imigrantes. Não só com empregabilidade mas capacitando-as, para que elas possam se erguer e "voar".

Trouxe o exemplo de uma moça do Haiti, que falava 6 idiomas, era enfermeira e veio para o Brasil refugiada, encontrando-se em uma situação horrível. Depois de 6 meses empregada fora de sua especialidade, conseguiu uma bolsa de estudos em Brasília e, retornando para São Paulo, foi contratada pelo hospital A.C. Camargo.

Finalizando nossa entrevista, agradeceu a oportunidade do espaço que o Cidadão e Repórter está trazendo para candidatos que não têm visibilidade e nem contam com recursos partidários ou próprios.


Revisão: Maite Ribeiro

Assista a entrevista: