Prof. Me. Adriano dos Santos
Pesquisador do Laboratório do Movimento Humano
28.06.2021Em nossa matéria anterior, abordamos os benefícios do exercício físico para populações mais velhas. Caso ainda não tenha lido, corre lá!
Em nossas próximas matérias falaremos sobre os benefícios do exercício físico para a população acometida por alguma doença crônica. Como ponto inicial, abordaremos o papel do exercício físico no controle da pressão arterial (PA) em hipertensos.
A PA é a força necessária para o sangue alcançar os tecidos e órgãos (músculo, cérebro, rins, fígado entre outros...), levando oxigênio e nutrientes. Essa pressão não pode ser muito alta porque pode causar lesão nos vasos sanguíneos e não pode ser muito baixa porque não irriga os tecidos e órgãos adequadamente.
Para que a PA se mantenha estável nosso organismo dispõe de componentes nos vasos sanguíneos das artérias aorta e carótida que emitem informações ao sistema nervoso central, informando sobre essas oscilações, mandando nosso coração aumentar o diminuir sua frequência de batimentos e/ou mandando os vasos sanguíneos dilatarem, ou contraírem.
Você já deve ter sentido uma sensação de tontura ao levantar-se subitamente da cama (hipotensão com mudança repentina da postura) e, em poucos segundos, essa sensação desaparece (a pressão retorna aos níveis normais). Saiba que isso ocorre devido a uma ação integrada dos vasos sanguíneos, coração e cérebro para que rapidamente nossa PA fique estável.
Pensando sobre PA estável, você sabe qual o nível pressórico considerado adequado? A tabela abaixo representa as diferentes classificações de PA para indivíduos saudáveis e hipertensos conforme o American College of Cardiology.
As diferentes classificações de PA para indivíduos saudáveis e hipertensos
Todos sabemos que uma vez diagnosticado com hipertensão, jamais o indivíduo se livrará do uso de remédios. O porquê disso? Não há cura para hipertensão ainda. Os mecanismos de controle da PA são complexos e envolvem muitos sistemas e órgãos para seu funcionamento adequado e quando o indivíduo é diagnosticado com hipertensão ao menos um dos mecanismos de controle da PA passa a não funcionar direito.
Os custos da hipertensão para o Brasil são muito altos. Um estudo de levantamento apontou que em 2018 houve 1.829,779 internações devido à hipertensão arterial, diabetes e à obesidade no SUS. Correspondendo à cerca de 16% das internações hospitalares no período. Além disso, em termos financeiros, resultou em um custo de R$ 3,84 bilhões. A hipertensão isolada, correspondeu a 59% desse valor, ou seja, mais de R$ 2 bilhões. Um medicamento que pode prevenir essas condições e que está ao alcance de todos é o EXERCÍCIO FÍSICO.
Qual a importância do exercício físico para esse contexto?
O exercício físico age como fator preventivo para hipertensão, além de servir como terapia auxiliar ao remédio anti-hipertensivo. É importante para o hipertenso estar envolvido com a prática de exercício físico, principalmente devido à ação que o exercício desempenha em todo o nosso organismo, além de reduzir a PA, melhora a estética, aumenta massa muscular, reduz gordura e o mais importante, MUDA O ESTILO DE VIDA, tornando essa pessoa mais ativa e mais disposta às atividades diárias.
Durante a prática de exercício é natural que a PA aumente, a quantidade desse aumento depende da intensidade do exercício. Entretanto, sua importância está relacionada ao seu efeito hipotensor pós-exercício. Uma única sessão de exercício físico já pode reduzir a PA e essa redução é ainda maior em indivíduos com hipertensão.
Mas qual modalidade de exercício exerce maior redução na PA? A literatura científica indica que o exercício aeróbio (caminhar, correr, nadar, andar de bicicleta...) causa maior redução na PA que o exercício de força (geralmente realizado com pesos, bandas elásticas ou o próprio peso corporal). De acordo com estudo, o exercício aeróbio pode exercer redução de 5-7 mmHg e essa redução pressórica estaria relacionada a redução de 14% de acidente vascular cerebral, 9% de doenças cardiovasculares e 7% de mortalidade. Já o exercício de força estaria relacionado a redução de 2-3 mmHg e relacionado a redução de 6% dos acidentes vasculares cerebrais, 4% das doenças cardiovasculares e 3% da mortalidade.
Independente da modalidade escolhida, exercícios em intensidade leve/moderada podem ser mais efetivos para reduzir PA do que exercícios realizados em alta intensidade, como “aqueles realizados para aumentar a força”.
A junção de exercício aeróbio e exercício de força, podem causar benefícios ainda maiores. Dessa forma, o American College of Sports Medicine recomenda uma frequência de treino diário, em intensidade moderada, com duração semanal em torno de 90-150 minutos, podendo ser aeróbio, de força ou as duas modalidades combinadas, além da adição de exercício neuromotores e flexibilidade.
Alguns cuidados devem ser considerados com a prática de exercício pelo hipertenso. O exercício gera redução da PA após realização da sessão e associado a algumas classes de remédios anti-hipertensivos podem causar uma redução muito elevada (maior do que o esperado) da PA. Então, o ideal é que a prática seja supervisionada por um profissional capacitado, além de trocas de informações constantes entre o médico cardiologista e o profissional de Educação Física.
De forma geral: exercite-se! Não espere que uma doença crônica como a hipertensão lhe acometa. A prevenção é o melhor remédio e o exercício físico pode e deve ser usado como prevenção de doenças para a saúde populacional.
Referências consultadas:
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Imagens fornecidas pelo Laboratório do Movimento Humano
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Revisão ortográfica: Anne Preste