M. Carolina Galletti

Especialista em Bem-Estar

por Bernadete Siqueira

20.05.2020

Cidadão e Repórter entrevistou a Especialista em Bem-Estar, Maria Carolina Galletti, 40 anos, graduada em Educação Física pela FMU, em 2001.

Possui o "Curso avançado de condicionamento físico para grupos especiais" pela Faculdade de Medicina da USP e pós-graduação também pela USP em Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento.

CeR: Como foi a sua trajetória profissional?

M. Carolina: Entrei na Educação Física para ser técnica de vôlei, desde sempre gostei de praticar esporte, sendo o meu predileto o vôlei, porém nunca me profissionalizei. Fui me distanciando do vôlei, fiz estágio na área escolar, que não me agradou, fiz estágio também em academias ‘convencionais’, o que também não me agradou do jeito que era demonstrado. Foi quando conheci uma academia de ginástica que trabalhava com pequenos grupos, praticando exercício físico de forma orientada, que me achei na profissão. Fui me especializando mais em exercícios de reabilitação.

Trabalhei em uma academia pequena que depois cresceu e em paralelo era personal trainer de alguns alunos. Depois de um tempo surgiu a ideia de ter uma sala para atendê-los e daí nasceu a Academia Corpo & Equilíbrio, em 2004.

CeR: A que você atribui a procura de alunos na terceira idade, para a sua academia?

M. Carolina: A minha vontade sempre foi trabalhar com o público mais velho e foi isso que aconteceu, o público da academia hoje varia entre 40 e 80 anos. Claro que já atendi e atendo pessoas mais novas ou mais velhas que esta faixa etária. Por ministrar aulas somente para turmas pequenas e orientar os exercícios como personal, houve o interesse desse público pela academia.

CeR: Você percebe a procura por academia de pessoas na terceira idade?

M. Carolina: A procura tem aumentado muito para a prática de atividade física. Sabe-se que a expectativa de vida está aumentando cada vez mais, da necessidade de se cuidar do corpo e da mente. A terceira idade dos tempos atuais tomou consciência, acho que em sua maioria, de que precisa se cuidar. A geração anterior não o fez e agora está dando muitas vezes, um trabalho, pelo simples fato de não terem contato com esse corpo.

CeR: Qual é a maior procura de alunos, considerando homens e mulheres?

M. Carolina: A maior procura, sem sombra de dúvida, é de mulheres, claro que dentro do parâmetro da minha academia. Me parece que na terceira idade, ainda, o cuidar do corpo se atribui mais ao sexo feminino. O que, na minha opinião está mudando, os homens mais jovens estão procurando se cuidar mais que na geração anterior.

CeR: O aluno que procura a academia é levado por algum motivo específico?

M. Carolina: A maioria vem por queixas de dor, limitação de movimento e indicação médica. Ainda infelizmente, não aparecem de livre e espontânea vontade. Por outro lado, noto uma diferença nas gerações mais novas que procuram espontaneamente.

Os alunos da terceira idade estão preocupados, na sua maioria, em não sentir dor, em aumentar a força muscular, na melhora de sua saúde, e também porque os médicos indicam muito (quase que por obrigação). A procura por estética ainda existe um pouco, mais nas mulheres na casa dos 60 anos, acima disso, não passa a ser mais uma preocupação. O que percebi ao longo desses anos, a estética pela ´prática de exercício físico’, não é tão simplesmente alcançada e gera algumas “decepções nas expectativas”, passam-se alguns anos e alguns alunos retornam já com outra postura.

CeR: Em que ajuda a ginástica na terceira idade?

M. Carolina: Os efeitos da prática regular de exercício físico são aumento de flexibilidade articular, aumento da coordenação motora (geralmente isso é muito falho), aumento da força muscular, diminuição de dor, aumento da circulação sanguínea (por onde são transportados nutrientes e oxigênio ao corpo todo). No âmbito mental, existe um estímulo cerebral muito grande (cérebro ativo é importante), melhora o convívio social e melhora a compreensão consigo mesmo ao ver que o outro também tem a mesma limitação. Os alunos encontram o bem-estar físico e social, criam laços de amizade fora da academia.

CeR: O que prejudica e quando prejudica a ginástica na terceira idade?

M. Carolina: Todo exercício mal feito prejudica qualquer corpo. Mas na terceira idade, com baixa hormonal, diminuição da força e mobilidade articular, exercícios mal orientados, de alto impacto, com muito peso de uma só vez, são bem prejudiciais. Mas a terceira idade pode fazer qualquer exercício, desde que bem orientado e bem feito.

CeR: Qual é a frequência que deve ser aconselhada e o tempo de duração de uma aula?

M. Carolina: A boa frequência de prática de exercício físico é todo dia. O corpo foi feito para se mexer o tempo todo, mas em relação à frequência em academias de ginástica, é sempre recomendado de 2 a 3 vezes, por semana, no mínimo. Mas, reiterando, o corpo precisa se mexer sempre. Aulas de 30 min, 45 min ou até de 1h são boas para a prática de exercício físico.

CeR: Quais são os cuidados da academia para receber um idoso?

M. Carolina: Os cuidados principais é não ter coisas miúdas no chão, para não tropeçar, não cair. O piso não pode ser escorregadio. E um cuidado na hora da orientação e com todo o material usado por conta do peso, tipo de elástico e com os aparelhos de musculação. Quando for utilizado a bola, o jump ou outros materiais para equilíbrio, preciso estar próxima, caso se desequilibrem (lembra que falei da descoordenação?). E se for trabalhar com uma terceira idade mais debilitada, o banheiro da academia precisa ser adaptado.

CeR: Do que mais reclamam durante os exercícios e do que mais gostam?

M. Carolina: A reclamação é constante: que não consegue fazer, que dói, que não dá e pelo medo de tentar algo novo, também é bem comum. Quando eles aprendem o real sentido do fazer e sentir o exercício, eles sentem o benefício da prática, e continuam ‘choramingando’, mas sabem que precisam fazer, porque vão se sentir melhor depois (E SE SENTEM).

CeR: Como você está atendendo os seus alunos neste período de quarentena?

M. Carolina: Neste momento, sugiro aos alunos que façam o possível para se mexer em casa, e não só com os afazeres domésticos, mas que façam exercício mesmo, que vejam vídeos na internet, fotos de exercício, ou simplesmente se lembrem dos exercícios que sempre dou em aula. E mesmo em casa ainda temos muitas possibilidades de nos exercitarmos. Lembrem-se de que os exercícios beneficiam o corpo e a mente!

Desde o início da quarentena mantenho contato com os alunos por telefone, diariamente posto vídeos no grupo da academia pelo WhatsApp, onde realizo os exercícios para que eles repitam em casa. E a partir de maio passei a enviar aulas on line, estas individuais e personalizadas de acordo com a necessidade de cada aluno. Esta iniciativa está dando super certo!! O feedback tem sido muito positivo.

Exercício físico faz bem para o corpo e a mente em qualquer momento, independente da quarentena. Se mexa!


Assista a entrevista:

Entrevista com M. Carolina Galletti - Especialista em Bem-Estar

Revisado por Maitê Ribeiro