por Myrian Becker (pesquisa) e João Aranha (texto)
11.11.2020
Assim que começaram as restrições de circulação nas grandes cidades, animais começaram a aparecer nos centros urbanos e outros, como os pássaros, começaram a se fazer notar.
Elizabeth Derryberry, especialista no comportamento dos pássaros da universidade americana do Tennessee realizou um estudo comparando as diferenças observadas no canto urbano em relação ao que é notado em zonas rurais.
Derryberry considerou o período de restrição de circulação entre abril e junho de 2020, na bacia de São Francisco nos Estados Unidos, devido à pandemia.
A pesquisadora comparou o ouvir do canto dos pássaros àquele observado ou nas zonas rurais ou nas cidades americanas na década de 1950.
Observou-se que os pássaros urbanos estavam com um canto mais suave, com tons mais graves e com uma maior variação de voz. Com tons mais graves, o canto vai mais longe, tornando-se mais complexo e mais cheio de conteúdos, similar ao canto dos pássaros ouvido nas áreas rurais.
A questão a ser resolvida seria esclarecer se os pássaros sentiram a diferença dos sons urbanos ou simplesmente estavam cantando da mesma forma que sempre cantaram. Ocorre que os pássaros, notadamente os pardais machos, cantam para defender seu território e atrair sexualmente suas companheiras.
A conclusão a que o estudo americano chegou é que, havendo um mínimo de poluição sonora, os pássaros voltaram a ser ouvidos e ajustaram suas vozes. Isso também acontece com os seres humanos que, em ambientes com músicas em alto volume, por exemplo, tendem a falar mais alto para serem ouvidos.
Em São Paulo, Fabio Olmos, biólogo da Unicamp, estudou o comportamento do sabiá-laranjeira, o qual teve que iniciar suas cantorias cada vez mais cedo, para que seu canto pudesse ser ouvido e não sobrepujado pela intensa poluição sonora dos grandes centros.
Olmos diz que os nossos sabiás são mais vistos em áreas com muitas árvores e essa adaptação do horário tem gerado reclamação de pessoas que são acordadas logo cedo com o trinar desse pássaro e também dos bem-te-vis e sanhaços.
A essas pessoas o biólogo brasileiro diz que não há porque reclamar dos pássaros e sim da poluição sonora, cada vez mais impactante em nossas vidas.