Normopatia – a busca desenfreada pela aceitação social


É certo que nós, seres humanos, somos notadamente gregários e sociais.


Myrian Becker

31.01.2022

Imagem: Reprodução internet

É também esperado e saudável, que seja mantida nossa individualidade. Porém, em cada pessoa existem duas forças antagônicas: uma força que promove a individuação e outra força que promove a socialização. Todos queremos nos reafirmar como indivíduos únicos e autênticos, mas ao mesmo tempo sentimos a necessidade de pertencer a um grupo e receber um certo grau de validação e aceitação social.

Ocorre que, em algumas pessoas, a necessidade de aprovação social é mais forte que a socialização. E pode ser tão severamente perseguida a ponto de quase esquecerem-se de sua individualidade

Muitos psicólogos e psicanalistas definem tal comportamento como Normopatia.

Trata-se de um impulso anormal em direção a uma suposta normalidade. Portanto, uma normalidade patológica. Essas pessoas não praticam a introspecção, não desenvolvem autoconhecimento ou têm curiosidade sobre sua vida interior, mas se esforçam para buscar validação social, segundo Christopher Bollas, psicanalista e escritor britânico e figura de destaque na teoria psicanalista contemporânea.

Pessoas que possuem esse comportamento são chamadas de normopatas. Sofrem de um tipo particular de ansiedade: têm medo de olhar para si mesmas e examinar seus conteúdos psicológicos. Ao invés de vez de explorar suas preocupações, desejos e motivações, se concentram tanto em se integrar à sociedade e se ajustar às normas, que praticamente se torna uma obsessão que acaba afetando seu bem-estar. Para elas, a aprovação e validação social é de tal importância que supera até mesmo a perda de sua individualidade e autenticidade. Na verdade, há um medo da própria individualidade, já que não se permitem discordar ou ser diferente dos outros. A dependência da validação externa acaba desenvolvendo um “falso eu”, pronto a atender às demandas externas e silenciar seus próprios impulsos e desejos. Profissionais estudiosos do assunto se referem a uma perda da conexão vital, em casos extremos.

O que leva Normopatia

O cidadão ideal que muitas sociedades anseiam é o normopatia, aquela pessoa que se adapta às regras e regulamentos que seguem a multidão sem questionar nada. Isso significa que todos nós, de uma forma ou de outra, inoculamos o germe da normopatia.

A normopatia também foi associada a experiências traumáticas que geraram grande vergonha. Ser rejeitado ou menosprezado pode gerar uma vergonha enorme, uma experiência que pode deixar uma ferida tão profunda que leva a pessoa a se desconectar de seu “eu”.

No entanto, essa condição patológica não é apenas o resultado de pressões e opressões sociais ou de certas experiências pessoais traumáticas, mas é sustentada por um profundo medo de olhar para dentro e não saber como lidar com suas sombras.

Um “eu forte”, o antídoto para a normopatia

A saída para a normopatia é desenvolver um “eu forte” e aceitar as sombras que nos habitam. É se abrir para o nosso eu, explorá-lo e reconstruí-lo com uma atitude curiosa e compassiva. Para fazer isso, precisamos nos livrar da ideia de que normal é adequado, correto ou desejável. Devemos entender que às vezes a normalidade – entendida como a norma e o normalizado, o regulador e a maioria – às vezes pode causar muitos danos. Precisamos resgatar a importância da discordância, refletir sobre o nosso meio e validar nossa diferença.

Fontes:Christopher BollasJoyce McDougall
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