VIVER BEM ‣ Comportamento

O Japão é conhecido pela educação e cultura. É um país moderno, tecnológico, a terceira maior economia do mundo, mas carrega muitas tradições ancestrais. O omotenashi é um legado cultural essencial transmitido por gerações. É uma imersão na antiga sociedade japonesa de muitos séculos.

A palavra deriva de 3 expressões japonesas:

1. URA OMOTE NASHI, significa sem frente (omote) e verso (urá), isto é, sem dupla face, sinônimo de integridade, o puro e genuíno.

2. A expressão de compromisso, cumprir o combinado, por inteiro, dito como MONO O MOTTE NASHITOGERU, é fazer o combinado até o fim, com capricho e de todo o coração.

3. A expressão literal de entreter, surpreender, encantar, dita como MO TE NASU.

As 3 expressões juntas englobam os significados de Integridade, Compromisso e entreter o outro.

A tradicional cerimônia do chá é o mais antigo e conhecido comportamento omotenashi no Japão. O ritual para tomar o chá verde foi trazido por monges budistas da China ainda no século IX, e se tornou a bebida mais consumida no Japão, sendo cultivada por todo o país e consumida rotineiramente. Inicialmente usado de forma medicinal, foi seguido como protocolo restrito ao Budismo praticado pelos monges nos templos xintoístas e zen budistas no Japão. A prática evoca o senso de coletividade já que o preparo é ofertado ao outro e nunca para si próprio.

A cerimônia do chá, em pintura do século 19, da Era Meiji

O conceito do omotenashi extrapola um simples encontro, pretende dar ao convidado uma experiência única de forma impecável. Ainda hoje, a ideia do altruísmo e entretenimento se conserva íntegro na sociedade japonesa, a de tratar os outros como cada um gostaria de ser tratado. Não propagar o indesejável, a maledicência.

O ritual minimalista da cerimônia do chá transcende a disciplina do preparo minucioso, e são necessários anos de prática para se atingir o equilíbrio entre dominar a técnica, a extrema limpeza, saber a proporção dos ingredientes na medida exata sem desperdício. O ambiente silencioso e os suaves gestos do mestre do chá são um convite à meditação que antecede a apreciação da bebida pelos convidados. É de uma sensação inigualável, um aprendizado de desprendimento em um ambiente sereno e um breve sentimento de felicidade. O mundo lá fora não pode invadir a mente neste momento.

O universo da tradicional cortesia japonesa se aplica com igual excelência e com modernidade no setor de serviços de atendimento ao cliente atualmente.

A recepção omotenashi em lojas e hotéis prima pela atenção, até nos táxis que abrem as portas automaticamente sem que o passageiro precise tocar na maçaneta e o motorista dirige com luvas impecavelmente brancas.

Assim que um cliente senta em um restaurante, logo é recebido com uma toalhinha branca úmida e aquecida com um toque agradável e aconchegante para limpar as mãos sem precisar ir ao banheiro. Isso é omotenashi, estar a um passo à frente da necessidade ou vontade do cliente, com discrição, mas também aquém da invasão e inconveniência.

No Japão a prática se implantou em todos os estabelecimentos comerciais, uma das razões pelas quais Tokyo foi escolhida como a cidade mais adequada para as Olimpíadas passadas em julho, preparada para recepcionar com excelência mesmo em plena pandemia.

Recepcionistas em loja de departamentos: atenção com delicadeza

Na culinária, a arte de preparar e servir seduz os olhos com a beleza do design e cores. As louças desenhadas com motivos da natureza, como bambus, peixes, nuvens, montanhas e flores, remetem à arte com simplicidade. Este requinte e organização resume o espírito omotenashi. O cliente saboreia encantado com a apresentação dos pratos, às vezes comuns ao paladar, outras vezes surpreendendo os sentidos com uma exótica combinação.

Típico jantar japonês da alta gastronomia composto em tigelas separadas (imagem topphoto)

A apresentação de pratos quentes e frios, ensopados, grelhados, picles, legumes crus e cozidos acompanhados de molhos, compõem o kaiseki, que é servir separadamente em pratos e tigelas diferentes sabores e texturas.

O uso de máscaras em público é uma atitude omotenashi, altruísta poque sinaliza uma barreira de proteção para o outro. Este costume é normal no Japão, adquirido desde a epidemia da gripe espanhola, e se incorporou nos hábitos dos japoneses.

Mesmo antes da pandemia já era costume os japoneses usarem máscaras (Coisas do Japão)

Com o Projeto Cool Japan, o governo japonês pretende elevar o país como superpotência cultural do mundo, divulgando nas mídias sociais os tradicionais conceitos japoneses estendidos para o mundo moderno da tecnologia. Impulsionar a economia atraindo turistas com alto nível de atendimento em experiências inesquecíveis, deve ser o diferencial omotenashi do século XXI no Japão.

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Revisão ortográfica: Anne Preste