O futebol feminino não pode ser palco para impunidade - caso Chu Santos.

Mulher, negra e periférica, esse é o perfil de Chu Santos, atacante do Sociedade Esportiva Palmeiras e da Seleção Brasileira. A jogadora ganhou visibilidade nas últimas semanas, mas não de maneira positiva.


Ana Neves

22.05.2021

Publicado em uma página de religião de matriz africana, intitulada como Maria Padilha, no Facebook, o post que gerou a polêmica enaltecia a trajetória e carreira do cantor evangélico Lázaro e do ator Paulo Gustavo. Mostrando como ambos eram pessoas positivas e de luz mesmo seguindo caminhos distintos.

A atacante palmeirense, após ver a postagem, comentou publicamente que a única diferença entre os dois era que o cantor gospel iria para o céu e o ator para o inferno.

Ficou claro a motivação do ódio gratuito: homofobia e intolerância religiosa.

O assunto que começou a ganhar forma no Twitter, horas depois pulou para os grandes sites e portais, instagrans de jogadoras famosas e até telinhas de tv com apresentadores exercendo sua opinião sobre o assunto.

Na plataforma, tornou-se um dos assuntos mais comentados do, entrando nos “assuntos do momento”. A jogadora, ciente da repercussão, postou um vídeo como pedido de desculpas, mas que não convenceu os internautas e cresceu a indignação de quem acompanhava o caso.

As críticas aumentaram e, pressionada, Chu decidiu trancar seu perfil na rede social. Em contrapartida, grandes jogadoras como Cristiane, Tamires e Marta se posicionaram contra a atitude homofóbica e intolerante de Chu.

Além delas, diversas jogadoras também criticaram a atitude da jovem, os portais e sites deram destaque ao assunto e após toda a repercussão o Palmeiras publicou uma nota tímida em suas redes sociais:

“A atleta Chú se manifestou de maneira equivocada em sua rede social, reconheceu o erro e prontamente se desculpou.

O assunto foi tratado internamente e a atleta foi orientada para adequação de seu comportamento.”

Não foi tratado. Mais tarde, à noite, a jogadora entrou de titular no clássico Dérbi (Corinthians x Palmeiras) pela Série A1 do Brasileirão Feminino. Não houve nenhuma punição, nem afastamento ou demissão, como muitos, inclusive torcedores palmeirenses, sugeriram.

Dias após o acontecido o assunto pareceu ter sido jogado para debaixo do tapete, nada aconteceu, nada foi falado, nada foi divulgado.

É uma pena que o Palmeiras tenha se calado diante de um assunto tão necessário de se debater, e não, não estamos aqui clamando pela demissão de uma jogadora de futebol, mas sim, clamando pelo debate, pelo diálogo com o elenco e sociedade. É necessário desconstruir e a desconstrução só acontece quando alguém dá o pontapé inicial.

17 de maio

No dia Internacional contra a Homofobia (17/05), o SE Palmeiras publicou sobre o dia de luta e combate. O post que subiu para as redes sociais com a #Palmeirasdetodos terminou repleto de comentários que relembram o caso da atacante.

O clube pode ter esquecido, a jogadora pode ter esquecido, mas a própria torcida e centenas de outras pessoas não esqueceram. O futebol feminino tem em suas mãos a oportunidade de ser justo, de reeducar, de transformar e não será se calando que isso irá acontecer. Que o futebol feminino possa ser exemplo para a sociedade.

Nós, amantes do futebol, esperamos que casos como esse não se repitam e se, por um acaso, lamentavelmente volte a se acontecer, que seja tratado da forma correta, sem mão na cabeça e sem omissão.

Que o futebol feminino seja palco de grandes espetáculos, lutas e conscientização!


Revisão ortográfica: Anne Preste


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