Geração nem-nem: 23% dos jovens brasileiros não estudam e nem trabalham


Com a demanda no mercado de trabalho cada vez mais exigente, muitos deles se encontram sem perspectivas de seguir os seus sonhos e perdem o interesse após ver tantas barreiras


Isabela Alves

03.05.2021

Até o fim de 2020, a taxa de desemprego entre os jovens de 18 a 24 anos foi de 29,8%, o que representa um aumento de 6% em relação ao ano anterior.

Os dados foram divulgados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa foi a maior taxa de desemprego entre jovens desde o início da série histórica, iniciada em 2012.

No entanto, a situação do jovem brasileiro já era vulnerável antes mesmo da pandemia. Conforme os dados da mesma pesquisa que foram divulgados em 2018, dos 48,5 milhões de brasileiros com idades entre 15 e 29 anos, 11,2 milhões (23,0%) não trabalhavam e nem estudavam.

Conhecidos como “geração nem-nem”, muitos desses jovens não trabalham e nem estudam por falta de oportunidades. Com a demanda no mercado de trabalho cada vez mais exigente, muitos deles se encontram sem perspectivas de seguir os seus sonhos e perdem o interesse após ver tantas barreiras.

Além disso, a falta de estrutura familiar e nas escolas, além da carência em políticas públicas, fazem com que muitos jovens sofram com uma grande evasão escolar e tenham menores oportunidades no mercado de trabalho.

Natália Oliveira, de 25 anos, é um exemplo disso. Moradora do bairro de Guarapiranga, zona sul de São Paulo, ela tenta entrar no mercado de trabalho desde os 14 anos através de programas sociais, como o Jovem Aprendiz.

No entanto, ainda na adolescência, ela viu a sua vida desmoronar após ter sua casa alagada. Sua família perdeu todos os seus pertences no dia da enchente e a situação voltou a se repetir ainda por duas vezes.

“Vivemos de doações por muito tempo. É muito triste você ver que tudo o que lutou na vida foi levado de uma vez só”, conta a jovem. Por conta da frequência das enchentes e o medo de morrer em uma dessas situações, ela se casou cedo para sair de casa.

Apesar de fazer alguns bicos na área de cabeleireira, ela sonha em estudar administração, mas não consegue, porque sua renda familiar vem apenas do salário do marido. “Agora também estou produzindo conteúdos para a internet. Espero que as coisas melhorem após a pandemia”.

Outro caso, foi de Gabriela Veras, de 22 anos, moradora do bairro do Grajaú. No caso dela, a jovem trabalha desde os 15 anos, mas se viu perdida após ter sido demitida da área de telemarketing em novembro do ano passado.

“O meu seguro desemprego acabou em janeiro e eu não pude mais me inscrever para a terceira chamada do auxílio emergencial. Estou desesperada, porque é muita conta para pagar”, afirma.

Agora, Gabriela vive com a doação em dinheiro e de alimentos de amigos da sua igreja. Ela afirma que muitas comunidades humildes de São Paulo estão se reunindo para ajudar uns aos outros nesse momento tão delicado.

Por só ter o Ensino Médio, ela afirma que só consegue emprego na área de telemarketing, o que é muito estressante para ela. “Diariamente as pessoas me maltratam ou batem o telefone na minha cara. A gente tenta não levar para o pessoal, mas é difícil”. Agora ela espera conseguir um emprego em outra área e vai continuar realizando o trabalho comunitário na igreja.


Revisão ortográfica: Anne Preste


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