A começar pela educação, óbvio
É interessante pensar no discurso proferido a dias atrás do atual presidente do Brasil se referindo ao ENEM. Destaco aqui sua fala: “agora o ENEM começa a ter a cara do governo” (...) “antes tinham questões, temas de redação, que não tinham nada a ver com nada”.
Será que temas como: Cidadania e participação social; O poder de transformação da leitura; O trabalho infantil na realidade brasileira; Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil; Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil; entre tantos outros, não tem nada a ver com nada? Sabe aquela frase de que o “nada nunca é nada”. Pois é.
Fico me questionando, desde quando eu assisti ao vídeo da apresentação do PECIM - Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares e escutei a fala do presidente sobre a comunidade escolar poder opinar sobre a escola receber o programa ou não, que “não tem que aceitar, tem que impor”, o quanto a educação está sendo o alvo não de avanços na construção de um indivíduo com liberdade de pensamento, mas de retrocesso, onde é preciso impor "goela abaixo” “bons costumes”, “bem-estar social”, “igualdade” (que lê-se homogeneidade dos sujeitos) entre tantas promessas do programa.
A sensação que dá, a cada discurso, é que estão a força colocando um colar elizabetano (aqueles para cachorros) para que não possamos ver nada à nossa volta e sim só o que está a nossa frente, que não cutuquemos a ferida social. As possibilidades de pensar, obter conhecimento, questionar estão sendo, aos poucos, tomadas por uma faceta de governo que luta por um bem-estar social que não existe. O sujeito não pode se expandir. A educação a cada dia sofre interferência do governo, pois sabemos que a criança, o adolescente e o jovem são “futuros da nação” e se não forem domesticados poderão se tornar jovens livres, sem amarras, escancarando por aí suas diferentes formas de existir, suas diversas caras.
Talvez a “cara do governo” represente muitas pessoas, mas se desenharmos esses rostos, veremos sujeitos amarrados, com suas vozes e desejos calados, na tentativa de calar outras vozes e tampar outras caras que já se libertaram e estão se libertando de um ideal de sociedade inexistente.
Revisão ortográfica: Anne Preste