Criação na violência


O que acontece com essa geração de adultos que tiveram filhos, mas parece que não?

O que acontecerá com essas crianças que se tornarão adultas tendo sido criadas pela sombra da maternidade e paternidade?


Lelyane Martins

12.07.2021
Foto disponivel na internet

Certamente você já ouviu alguém dizer “apanhei quando criança e não morri” no meio de um discurso do por quê a violência contra crianças não deve ser tolerada. A verdade é que o trabalho dos pais não é de criar sobreviventes, e sim de cuidar de seus filhos para que eles saibam aonde voltar quando o mundo não for tolerante com eles.

Mesmo que você tenha “sobrevivido” a violência, não quer dizer que ela não tenha marcado você em algum âmbito da vida. Você pode não ter morrido, mas sobreviveu para aprender a perpetuar a cultura da violência, reproduzindo com seus filhos ou futuros filhos, a mesma violência que você recebeu.

Se a criança é capaz de entender o que fez de errado, para que agredir? Se ela não sabe o que está fazendo, para que agredir? Isso não corrige o comportamento, e sim gera medo. Se não se bate em um adulto quando comete um erro, ou num idoso quando se está sendo teimoso, qual o propósito de bater em uma criança que ainda tem a vida inteira para aprender?

A verdade é que a violência doméstica é normalizada. A facilidade está em pensar que isso resolve os problemas mais rapidamente, que a impaciência corrige um problema, que a criança não é um indivíduo também. A geração de crianças que nasce atualmente está dividida entre as que também crescerão normalizando a violência e as que os pais se importam tão pouco que serão criadas por telas de celulares.

Criar filhos no século XXI parece mais difícil que antigamente. O tempo passa rápido demais, é necessário trabalhar demais, o lazer é pouco e os dias são estressantes, as crianças ficam com o que sobra dos pais após terem sido sugados o dia inteiro, o que não deveria acontecer.

O que acontece com essa geração de adultos que tiveram filhos, mas parece que não? O que acontecerá com essas crianças que se tornarão adultas tendo sido criadas pela sombra da maternidade e paternidade?

É um questionamento que devemos fazer, somos nós quem lidaremos com ambos os públicos. Crianças precisam ser livres: errarem, aprenderem, caírem, mexerem, olharem, correrem... O caminho da felicidade infantil não é fácil e exige paciência, mas isso faz parte de ser pai e mãe, no entanto, ainda assim, é mais fácil ser feliz criança do que adulto, por isso o papel dos pais é tão importante, e ao delegar esse papel a outras coisas, como celulares, tablets, desenhos, etc., estará terceirizando a educação e os conhecimentos que essa criança desenvolverá ao longo da vida.

Sendo assim, ao se tornar pai e mãe, é importante se tornar um ser humano novamente, aprendendo diariamente também, não criando ciclos de violência e desinteresse, pois crianças criadas com celulares tem dificuldades em lidar com o tédio e vivem estressadas. Ao se tornar pai e mãe, é necessário REALMENTE se tornar pai e mãe.


Onde denunciar ?

Disque 100: mantido pelo Governo Federal, recebe, encaminha e monitora denúncias de violação de direitos humanos. A ligação pode ser feita de telefone fixo ou celular e é gratuita. Funciona 24 horas, mesmos aos finais de semana e feriados. A denúncia pode ser anônima.

Aplicativo “Proteja Brasil”: disponível para smartphones e tablets, o aplicativo gratuito, mantido pelo Governo Federal, recebe denúncias identificadas ou anônimas. Também disponibiliza os contatos dos órgãos de proteção nas principais capitais.

Conselho Tutelar: é o principal órgão de proteção a crianças e adolescentes. Há conselhos tutelares em todas as regiões. A denúncia pode ser feita por telefone ou pessoalmente, e as unidades estão funcionando em horários diferenciados.

É possível encontrar os contatos pela internet. Na cidade de São Paulo, a Prefeitura disponibiliza telefones e endereços na página: www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_humanos/criancas_e_adolescentes/conselhos_tutelares/index.php?p=167426

Delegacias de Polícia: seguem abertas 24 horas. Tanto as delegacias comuns quanto as especializadas recebem denúncias de violência contra crianças e adolescentes.

Polícia Militar: em caso de emergência, disque 190. A ligação é gratuita e o atendimento funciona 24 horas.


Diga não à violência infantil. Denuncie.

Assista o vídeo "Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes" do Tribunal de Justiça de São Paulo - Oficial

Revisão ortográfica: Anne Preste

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