Atenção! Mulheres na direção!


Este não é um alerta sobre preconceito, ao contrário, é para mostrar que lugar de mulher é onde ela quer estar.

Sonia Okita

12.03.2021

Chefe de polícia, vice-presidente de banco, comandante de navio, embaixador, CEO de grifes internacionais, monge budista, empreendedor de alto nível e de projeto social premiado, jogador de futebol, são algumas das ocupações onde predominam os homens. Quando as mulheres ocupam estes mesmos cargos, os resultados são muito melhores porque transpor barreiras do machismo, preconceito e segregação fortalecem as mulheres que acreditam no talento e na força que carregam. Leia a seguir histórias inspiradoras de algumas mulheres batalhadoras e suas trajetórias vitoriosas.

A chefe de polícia e delegada Nadine Faria Anflor, faz um importante trabalho social sobre violência contra a mulher. Motivo de orgulho onde trabalha na Polícia Civil do Rio Grande do Sul, a Chefe Nadine recebeu o prêmio Mulheres Brasileiras que Fazem a Diferença 2020, oferecido pela Embaixada e Consulado dos Estados Unidos no Brasil como reconhecimento de líderes mulheres que prestam relevantes serviços à comunidade. Defensora da Lei Maria da Penha, atua no resgate da mulher vítima de preconceito e violência. Casada e mãe de um adolescente, Nadine se preocupa na educação do filho num cenário de intolerância ainda muito presente nos dias de hoje.

Nadine Faria Anflor, chefe de polícia e delegada. - Foto: Naomi Machado (PCRS)

Cristina Junqueira, engenheira paulista e destaque na área financeira, é sócia fundadora e vice-presidente da startup Nubank, uma fintech inovadora no sistema de bancos no Brasil. Ela e outros 2 sócios, inconformados com taxas de serviços abusivos arriscaram tudo para transformar e simplificar o tradicional sistema de atendimento dos bancos, tornando-o essencialmente digital. Com êxito, agora miram o mercado de ações internacional. Cristina é a única brasileira na edição 2020 da Fortune's 40 Under 40 para empreendedores líderes de inovação no mundo dos negócios financeiros. Para a mulher conciliar trabalho e maternidade é parte da vida e “temos que considerar que somos cidadãs, filhas, esposas, mães” e gerenciar todos os papéis para buscar o equilíbrio, declarou em entrevista ao site Engenharia360.

Cristina Junqueira, engenheira e co-fundadora do Nubank.Foto para a Forbes que repercutiu positivamente por mostrar o lado pessoal da mulher nos negócios(Imagem: forbes.com.br)

A capitã paraense Hedilene Lobato Bahia é a primeira comandante mulher a ocupar o posto mais alto da hierarquia da Marinha Mercante Brasileira. Em 2012, aos 36 anos, foi nomeada capitã de longo curso, e é a única mulher no Brasil apta a navegar pelos mares do mundo inteiro. Hedilene ingressou na Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante, onde a grande maioria da sua turma era formada por homens. Mais tarde passou para o quadro da Transpetro onde foi recebida com certo receio, porém quebrando o tabu, provou que era capaz de exercer qualquer função no meio masculino com igualdade (portalnaval.com.br). Sua rotina bastante atribulada é estimulante e compensadora, motivo de orgulho da família por ter alcançado um posto tão importante e incomum para uma mulher.

Hildelene Lobato Bahia, comandante do navio Rômulo Almeida (Foto: Divulgação/Renata Mello/Transpetro

Thereza Maria Machado Quintella, foi embaixadora em Viena e em Moscou e cônsul geral do Brasil em Los Angeles. Carioca, casada e mãe de 6 filhos, atualmente aos 83 anos está aposentada. Formou-se em Letras Neolatinas no Instituto Santa Úrsula e logo em seguida ingressou no Curso de Formação de Diplomatas. Alguns anos depois, foi promovida a Ministra de Primeira Classe e passou a dirigir o Instituto Rio Branco, sendo a primeira mulher neste cargo (fgv.br/cpdoc/acervo). Em um evento comemorativo de um século de mulheres diplomatas no Itamaraty, discursou ressaltando que as mulheres eram designadas somente para áreas administrativas e consulares, e nunca na área política “porque a área política é que dá visibilidade e poder, e o que os homens não queriam era a possibilidade de dividir o poder. Este é um problema até hoje para as diplomatas”, declarou (Agência Brasil). Como diretora geral do Instituto Rio Branco, foi homenageada tendo seu nome numa sala deste Instituto.

Thereza Quintella, embaixadora

Monja Cohen, como é conhecida, é na realidade Cláudia Dias Baptista e Souza. Numa entrevista à Revista Cláudia em 2017, a já bisavó Monja Coen, contou como foi mãe precoce aos 17 anos e sobre a sua juventude rebelde típica dos anos 60. Foi repórter do Jornal da Tarde, morou no Nordeste onde conheceu a pobreza e a aridez da vida, tentou suicídio e foi presa por tráfico de LSD, entre outras peripécias. Ainda jovem, encontrou o significado da vida dentro de um templo budista onde permanece ativista do Zen Budismo até hoje aos 73 anos. Tem seu próprio reduto no bairro do Pacaembu, em São Paulo, e é considerada uma monja pop por inúmeros seguidores na Internet (monjacoen.com.br) e com diversos livros publicados sobre o Budismo e suas práticas, além do que, compartilha mensagens de paz e otimismo nas redes sociais e no Youtube. Em defesa da violência contra a mulher, declarou em entrevista para a revista Isto É em janeiro de 2020 que “as mulheres são vítimas de um carma coletivo, os homens se acham no direito de agredir e explorá-las sexualmente” e que briga de casal com agressões e violência é caso de polícia.

Monja Cohen

Perto de completar 50 anos, Rachel Maia, nascida e criada na zona sul de São Paulo, é considerada um prodígio como executiva de grandes empresas internacionais. Formada em Ciências Contábeis, com especialização em Harvard e pós-graduação na USP, desenvolveu sua carreira como contadora a chefe executiva nas empresas Seven Eleven, a farmacêutica Novartis, joalheria Tiffany &Co., nas filiais da Lacoste, Pandora e outras grifes da moda. Em 2017 foi nomeada para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Governo Federal.

“A sociedade precisa se acostumar com mulheres no comando de empresas”, declarou em entrevista à revista Pequena Empresas Grandes Negócios, em 2018.

Em seu recém lançado livro “Meu caminho até a cadeira número 1” conta sua história de mulher negra da periferia que não desistiu de seus objetivos de empreendedora e sempre acreditou que chegaria ao topo.

Rachel Maia, contabilista e empresária brasileira

Sueli Carneiro Jacoel, 70 anos, nascida em São Paulo, é filósofa e doutora pela USP. Escritora e ativista do movimento negro no Brasil, é fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, que atua na área da saúde, política e jurídica. O nome Geledés é originário de um festival africano que celebra o poder feminino da fertilidade e procriação da terra, que celebra as mães.

Sueli recebeu em fevereiro de 2021 o prêmio Kalman Silvert LASA 2021 (em referência ao cientista político estudioso das manifestações culturais na América Latina) como reconhecimento de sua produção literária e acadêmica centrada no feminismo negro. Recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog em 2020, concedido a personalidades de destaque na defesa dos direitos fundamentais dos cidadãos, e em 2017 o Prêmio Itaú Cultural – Mobilizar. Em 2003 recebeu o diploma Mulher - Cidadã Bertha Lutz, dado pelo Senado Federal às mulheres em destaque pelos direitos femininos em questão de gênero. Sueli Carneiro é também uma das fundadoras da Articulação Mulheres Negras Brasileiras, referência nacional sobre este tema.

Em sua fala na Sociedade Brasileira de Medicina e Saúde da Comunidade, SBMFC, questiona o estereótipo que certos segmentos da publicidade não se dão conta ao “enfiar um negro no meio de uma multidão de brancos em um comercial para assegurar suposto respeito e valorizar a diversidade étnica e racial para se livrar de acusações de exclusão” porque um indivíduo em propaganda povoada de brancos não pode representar uma coletividade. A questão é bem mais complexa. Em suas publicações esse tema recorrente é tratado com muita lucidez e realismo.

Sueli Carneiro, doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP) e fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra.

Hoje já é possível fazer uma lista das 11 melhores jogadoras de futebol brasileiras. Contratadas por grandes times, onde a maioria em campo são os homens, não deixam nada a desejar e tem conquistado um público cativo cada vez maior. Até há alguns anos atrás, as mulheres estavam ainda iniciando suas carreiras.

Marta Vieira da Silva encabeça esta lista e dispensa apresentações. Natural de Dois Riachos, Alagoas, Marta tem 35 anos. Segundo o blog Elas no Ataque, do Correio Brasiliense, é a melhor jogadora da história do futebol feminino no Brasil, eleita a melhor por seis vezes, é a maior artilheira de todas as Copas do Mundo, entre homens e mulheres, e chegou a 17 gols na França. Marta atua nos Estados Unidos no Orlando Pride, desde 2017.

Conquistou os Jogos Panamericanos em 2003 e 2007, três títulos na Copa América, em 2003, 2010 e 2018, foi vice-campeã da Copa do Mundo em 2007 e ganhou duas medalhas de prata nos Jogos Olímpicos em 2004 (Atenas) e 2008 (Pequim).

Como se não bastasse esta longa lista de conquistas, Marta é muito lembrada na Suécia, onde jogou por 10 anos.

Agora está em compasso de espera desde o ano de 2020 para as Olimpíadas de Tokyo adiada para 2021.

Marta Vieira da Silva, jogadora de futebol - Foto: Skysports.com

Pelas histórias dessas e tantas outras mulheres com todo esse fôlego para estudar, trabalhar, cuidar de filhos e família, e ainda fazer a diferença com atitudes inovadoras, todas merecem um troféu com a inscrição: Só podia ser mulher!


Revisão ortográfica: Geyse Tavares


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