Festas juninas


Cleo Brito

01.06.2020

Lembranças maravilhosas das festas juninas. Na minha infância, em família, sempre comemoramos com muita alegria e permeada com a fé da minha avó materna Ana. Lembro-me das brevidades, das petas (biscoito frito de polvilho), dos doces de banana, abóbora e, claro, do cuscuz, tudo elaborado por ela. Com um moedor manual preparava a farinha para o cuscuz, após os grãos secos de milho terem ficado a noite inteira de molho. As espigas de milho verde e a batata-doce eram assadas na fogueira. Com as danças e cantorias, obrigatórias, seguiam-se os desafios masculinos — a provocação de quem seria capaz de atravessar a fogueira pisando descalço por cima das brasas, apagadas, mas quentes!!! Muitos passavam. Não me recordo de queimaduras em ninguém. E ainda os rojões e os balões saudando os três santos homenageados: Santo Antônio, São João e São Pedro.

Um costume, já esquecido, era a fogueira em pé onde montava-se no centro um robusto galho de árvore com prendas; geralmente eram doces, frutas como laranja, banana etc. e bebidas, no caso era cachaça. Gerava uma grande expectativa na criançada que observava o galho se queimando, porém, só os adultos ficavam por perto no momento de sua queda para disputar as prendas. Era uma grande diversão. Enquanto isso, as moças sonhadoras e casadoiras se juntavam para as adivinhações, principalmente, para saber se iriam casar-se em breve.

Outro hábito, para fortalecer os laços de amizades, era de se tornarem compadres e comadres ou padrinhos e madrinhas. Pulando a fogueira diziam:

São João dormiu,

São João acordou,

Vamos ser compadre/comadre (padrinho/madrinha)

Que São João mandou

As festas juninas no Brasil tem caráter multicultural e se desenvolveram bastante entre as populações rurais. Com a chegada dos jesuítas portugueses, os festejos juninos se fundiram entre a tradição cristã, crenças, costumes indígenas e cultos de origem africana. Os índios que habitavam o Brasil faziam rituais importantes em junho. Eles tinham várias celebrações ligadas à agricultura, com cantos, danças e muita comida. Culturalmente, os indígenas se identificavam bastante com rituais e cerimônias que utilizassem fogo e danças; assim como o ritual com danças ao redor de fogueiras também representava forte apelo aos escravos de origem africana, fato que contribuiu para as aproximações com os festejos juninos. Os instrumentos usados como cavaquinho, sanfona, triângulo, reco-reco etc., são originados da música popular e folclórica portuguesa e foram trazidos ao Brasil pelos povoadores e imigrantes. As roupas caipiras ou rústicas são uma clara referência ao povo campestre que povoou principalmente o Nordeste.

Com o processo de êxodo rural e consequente urbanização, os costumes mais tipicamente ligados ao campo foram transportados para a cidade. Dessa forma, observa-se que a partir da década de 1970, as festas juninas foram perdendo o seu sentido mais religioso e místico, assumindo um caráter folclórico e cultural; uma tradição que permanece nas escolas e igrejas católicas, onde as quermesses se tornaram sinônimos de festas juninas. Excetuando-se as alegres e famosas festas de São João, em todo o Nordeste, com grande apelo turístico.

Uma informação interessante: o uso de comidas, bebidas e danças, presentes hoje nas festas juninas, deve sua origem — dentre outros fatores — a mistura realizada entre o culto cristão e o culto a Dionisio (deus grego da alegria e do vinho, e também das colheitas), chamado Baco entre os romanos. Nos cultos populares que os gregos e os romanos ofereciam a Dionisio/Baco, verificavam-se farta alimentação e bebidas, música, danças, com uma forte tendência à sensualidade. Ocorriam também adivinhações para o casamento e prognóstico para o futuro.

A cada geração é notada a transformação das raízes culturais, que vão se adequando a cada situação e ocasião. Felizmente, a principal essência sempre permanece, representada na cultura do folclore de um povo.




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Revisão: Maitê Ribeiro