OMS e médicos famosos orientam sobre COVID

O texto envolve a OMS, o Brasil e médicos famosos, todos personagens de séries de TV, atazanando a vida do senhor Tedros Adhanom (diretor da OMS).

Laerte Temple

23.05.2021

Como a coisa não anda lá muito boa para o seu Tedros, ainda mais depois das confusões do americano que deixou a organização e cortou a verba. Para complicar, um líder sul-americano insiste em tratamentos alternativos contra o Covid em vez de prestigiar a vacina. Tedros pegou o jato da OMS rumo a Buenos Aires para tentar convencer o líder a adotar os procedimentos preconizados pela OMS. Ao desembarcar em Ezeiza, disse ao oficial da imigração que tinha urgência em falar com o presidente Jair no Planalto.

— “Nuestro presidente es Alberto y esto es Buenos Aires, Argentina!”

Um faxineiro ouviu a conversa e disse que o presidente Jair mora em Brasília. Então vamos para a Bolívia, disse Tedros ao piloto, mas o faxineiro sugeriu que era melhor irem para o Brasil.

Rumo à Esplanada, o táxi de Tedros parou numa manifestação junto ao cercadinho. O presidente reconheceu o estrangeiro e foi conversar com ele. Concordou em apoiar a vacina, a máscara e o lockdown, mas fez duas exigências: apoiar a Cloroquina e convencer o seu vizinho, o Gianni Infantino, presidente da FIFA, para reconhecer o mundial do Palmeiras. Ele disse que até poderia prestigiar a Cloroquina, mas com a FIFA era mais difícil.

— O Infantino acha que eu inventei a pandemia para paralisar o futebol e levar a próxima Copa do Mundo para a Eritréia.

— Eri o quê?

— Eritréia, minha terra natal. Além disso, a sede da OMS fica em Genebra e a da FIFA em Zurique. É muito longe.

— E daí, porra! Você queria falar comigo e foi para Buenos Aires! Pelo menos eu não errei de país, tá OK?

Tedros viu que não ia conseguir nada e resolveu voltar para casa, mas não sem antes saborear algumas caipirinhas, feijoada e Tubaína. De repente, ele se viu presidindo uma reunião com pessoas conhecidas, mas não se lembrava quem eram. Pediu a cada um que se apresentasse e discorresse.

— Sou o doutor James KILDARE, e estes são meus colegas Marcus WELBY e Bem CASEY. Parece que você precisa de ajuda de médicos famosos. Nossas séries foram famosas nos anos 60.

— Sou o Diretor Geral da OMS e estou precisando de ajuda, mas para resolver a questão do Covid-19. Nada a ver com séries de TV.

— Se quiser nos contratar, fale com os nossos agentes.

— Vamos parar com essa baboseira. Vão ou não liberar a Hidrocodona?

— Quem é você e para que quer Hidrocodona?

— Sou o Dr. Gregory HOUSE. Hidrocodona é um componente do Vicodin, o opióide que eu tomo para amenizar a dor na perna e acabei me viciando. Você não assistiu à minha série?

— Estamos discutindo a liberação ou não da Hidroxicloroquina para combater o Covid-19. Nada a ver com Hidrocodona.

— Saco! Eu sei o que é Cloroquina. Sou infectologista, via minha série? Vou falar com a doutora Cuddy para ver se descolo uma receita.

— E você, garoto, será que está na sala certa?

— Não sou garoto. Meu nome é SHAUN Murphy. Sou o Bom Doutor.

— Todos somos bons doutores aqui rapazinho – alguém protestou.

— Desculpe à doutora Meredith GRAY. Não quis ofender. O Bom Doutor é o nome da minha série. Também assisto Gray 's Anatomy.

— E o senhor aí quietinho? Também é médico famoso de alguma série?

— Sou o doutor Roger e sou muito famoso. Fizeram até uma série sobre mim, mas o que eu tenho mesmo é uma série de problemas com a justiça. Não sei porque estou aqui, mas meu advogado mandou ficar calado. Só falo em juízo.

— Poura! O que está acontecendo aqui? Eu sou o rei dos doutores. Doctor Rey, o famoso cirurgião plástico de Hollywood e da TV.

Tedros, de cabeça quente com os chiliques das celebridades, abriu os olhos, viu-se deitado numa maca de campanha, observado por dois médicos.

— Olha quem acordou!

— Quem são vocês? Onde estou? Que coceira é essa?

— Aqui é o Mobile Army Surgical Hospital – M*A*S*H – Somos os capitães médicos do Dr. Franklin PIERCE e Dr. John McINTYRE.

— MASH? Isso também não era um seriado?

— Sim, um seriado famoso nos anos 70. Me diga o que você tem contra a Cloroquina? Usamos muito aqui na Guerra da Coreia. Também foi usada na Segunda Guerra e nunca houve registro de problemas graves. Outra coisa: pare de dar ouvidos ao chinês.

— Eu estava numa reunião com médicos famosos da TV. Sou o diretor geral da OMS. Por que estou numa maca e com coceira no reto?

— Também somos médicos famosos. Você fala tanta bobagem sobre o Covid-19 que eu disse ao Dr. McIntyre que tinha vontade de examinar sua próstata. Pronto, já examinei. Ela tá legal, mas tivemos que operar a hemorroida. Correu tudo bem. Agora é só relaxar.

— Próstata? Hemorroida? Vou processar vocês dois, seus malucos!

— Cabo RADAR, chame a enfermeira. Diga para aplicar Benzetacil nesse babaca. Vai mancar por uma semana, mas ele merece. Dê também Cloroquina pra ele largar a mão de ser besta.

Doutor Tedros, é o comandante falando. O senhor está bem? Não devia ter abusado da caipirinha, muito menos da feijoada apimentada. A tripulação também está com cólicas e coceira no reto. O senhor deve ter tido pesadelos terríveis. Delirou e resmungou a noite toda. Aperte o cinto. Vamos pousar em Genebra em cinco minutos.


Revisão ortográfica: Anne Preste


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