O par perfeito

Os pais sempre se preocupam com a escolha de parceiros pelos filhos. Orientam, sugerem, mas, no fundo, quando se tornam adultos, a sorte é lançada e ninguém consegue interferir nas escolhas.


Laerte Temple

04.07.2021
Imagem de Goran Horvat por Pixabay

Quem tem filhos sabe que um dia vai chegar o momento de conversar sobre coisas como de onde vêm os bebês, como papai e mamãe se conheceram, namoro, sexo, etc. Com Astrogildo e Amapola não foi diferente. Tão logo nasceram os gêmeos Sandro e Sandra, o casal leu tudo o que existia sobre educação infantil, adolescência, sexualidade, carreiras e outras coisas mais. Eram pais bastante abertos e os filhos foram bem educados.

Os gêmeos tinham personalidades muito diferentes. O rapaz era alegre, extrovertido, namorador, vivia viajando e a maior preocupação dos pais era ele engravidar alguém num qualquer “de repente”. Já Sandra era mais sossegada, igualmente estudiosa, gostava de dançar, ouvir música, ler e não era muito chegada à culinária e à decoração. Ele se tornou engenheiro químico e ela economista. Conseguiram excelentes empregos e ganhavam muito bem.

Numa conversa informal sobre o par perfeito, ou parceiro ideal, Gildo e Amapola sondaram os filhos sobre namoro, casamento, constituir família, etc.

Sandro, mais despachado, disse que ainda era cedo, mas descreveu a mulher ideal e disse que somente se casaria quando a encontrasse: sorriso sincero, prendada, gostar de crianças, saber receber e ser bem-vinda, amante de boa música, vinhos, etc.

Sandra não demonstrou tanto entusiasmo com o assunto. Afirmou que não tinha planos de se casar tão cedo e que só o faria se encontrasse uma alma gêmea, alguém que a completasse.

Para Amapola, ambos eram adultos, inteligentes e saberiam escolher. Gildo proferiu o que seria seu derradeiro conselho aos filhos: O homem deve se preocupar com apenas três coisas: onde coloca seu nome, onde coloca seu dinheiro e onde coloca seu pênis. Qualquer um desses, colocado em lugar errado, é ruína na certa. Já a mulher deve procurar três qualidades em seu parceiro: deve ser honesto, trabalhador e limpinho. O restante é mais fácil. Terminaram a conversa numa deliciosa pizza em família.

Dois anos mais tarde, os filhos anunciam para breve a união estável dela e o casamento tradicional dele. Novamente numa pizza apenas entre pais e filhos, Gildo lembrou-lhes a conversa anterior e perguntou:

— Sandro, conta como é e como conheceu sua noiva.

— Para sair na condicional, a Sheila precisava trabalhar e arrumou emprego como stripper num bar em Miami. Foi lá que a conheci. Detesta cozinhar, cuidar de crianças e prefere tequila ao vinho.

— Ela tem pelo menos algumas das qualidades que você procura?

— Nadinha, mas é lindíssima e eu estou apaixonado. O amor venceu.

— E você Sandra, ele é honesto, trabalhador, limpinho?

— Certamente. O Rui é maduro, divorciado, tem dois filhos, não é nenhum gatão, mas é um cara legal, sincero e me completa. Gosto dele.

— Querida — diz a mãe — toma cuidado, ainda mais com um homem maduro, divorciado, com filhos. Você o ama? Ele vai te fazer feliz? Você o acha legal e sincero, mas, no fundo, os homens são iguais.

— Discordo, mãe. Nem todos são iguais. Alguns sabem dançar e eu adoro dançar. Além disso, é fundamental, ele cozinha muito bem.

— E desde quando saber cozinhar é fundamental no casamento?

— Mãe, a beleza um dia acaba, mas a fome não!

O coração tem razões que a própria razão desconhece. (Blaise Pascal)


Revisão ortográfica: Anne Preste


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