Conhecimento


Os 3 tipos de conhecimento, filosófico, teórico e prático, são testados por 3 jovens interioranos ingênuos em termos de sexo. Um deles vai se dar bem.


Laerte Temple

15.08.2021

Existem três tipos de conhecimento: empírico, científico e filosófico. O empírico, também conhecido por sabedoria popular, deriva da experiência, da tradição. Já o científico é fruto de estudos e experimentos. O conhecimento filosófico vem da capacidade reflexiva do ser humano. É teórico, abrange questões subjetivas e raramente pode ser testado.

Exemplificando: a lavadeira pendura o lençol no varal para secar ao sol, mas se for possível, prefere quarar (essa é só para os mais antigos), ou seja, estender sobre a grama. Ela não entende a razão, mas sabe que seca mais rápido. Um aluno do ensino médio diz que seca mais rápido porque além do calor e da ação da gravidade, a área exposta ao sol é maior. O filósofo não liga para nada disso. Ele pensa no sol. Por que existe sol? Por que ele gera luz e calor? Como surgiu? De onde viemos? Para onde vamos? E não chega a qualquer conclusão. Seu lençol vem lavado e passado da 5àSec.

Murilo, Oswaldo e Bentinho nasceram e cresceram em Poeira D’Oeste, terra do meu amigo Eduardo. A família de Murilo, leitor voraz, é religiosa e quer que ele se torne padre. Oswaldo, o maior CDF da cidade, sabe de tudo, mas tem dificuldade para se relacionar com meninas. Bentinho é o mais humilde dos três. Filho de lavrador, concluiu só o ensino fundamental e trabalha na farmácia do seu Fernando. Resumindo, o primeiro é filosófico, o segundo científico e o terceiro empírico.

Aos 17 anos, os três observavam o footing no lago da Matriz. Nas pequenas cidades do Interior, footing é uma instituição. Depois da missa vespertina, os rapazes ficam nas laterais da praça observando o passeio das moças. Trocam sorrisos e às vezes surge uma conversa, sempre com testemunhas, para não virar “moça falada”. O trio estava preocupado com a possibilidade de alguma dar trela a um deles, pois não saberiam o que fazer.

O footing terminou e o assunto dos rapazes mudou para sexo. Todos eram neófitos, virgens, curiosos. A dúvida era sobre como ter a iniciação naquele fim de mundo. Bentinho disse que existe uma casa de tolerância no caminho para Cucuí de Las Palomas e alguns homens passam na farmácia antes ou após frequentar a tal casa. Os três decidiram conhecer o lugar. A iniciação seria mais fácil com uma profissional do ramo.

Lá chegando, Murilo e Oswaldo logo foram abraçados cada um por uma moça e conduzidos a cômodos reservados. Em uma hora, reencontraram-se no bar com uma curiosidade: como foi a experiência? Murilo começou.

— Joguei fora R$ 50,00. A Margô não sabe o que é amor platônico, nunca ouviu falar em Eros e nem na energia psicossomática gerada no intercurso. Perdi um tempão tentando explicar e de repente bateram à porta dizendo que o tempo terminou.

Comigo também não foi bom (disse Oswaldo). Perguntei qual o método contraceptivo ela usava, como fazia a assepsia, se conhecia as técnicas do Kama Sutra etc. Ela não sabia nada disso. Tentei explicar, mas o tempo esgotou, perdi R$ 50,00 e continuo virgem.

Eu me dei bem (disse Bentinho). Ouço conversas na farmácia e sei que alguns homens compram remédios para disfunção elétrica.

Erétil! É disfunção erétil. Dificuldade para transar – disse Oswaldo.

Então, vi que na promoção sai R$ 12,00 a caixa com 4 genéricos. Tinha um lote perto do vencimento e seu Fernando me vendeu com 50% de desconto. Comprei 10 caixas.

Dez caixas? Caramba! Bentinho, conta logo o que aconteceu.

Eu tive de esperar por uma moça. A dona do inferninho puxou conversa e perguntou o que eu fazia na vida. Disse que estava testando comprimidos para um laboratório. Expliquei as vantagens e ela falou que tem muito homem que vai lá, fracassa, fica com vergonha de voltar e dá prejuízo. Aí eu falei que tinha tomado um comprimido para testar e fiz uma proposta: se o resultado fosse bom, ela poderia revender para os clientes com lucro. Ficariam satisfeitos, voltariam sempre e ela ganharia mais.

A mulher topou?

Sim. Mandou chamar a Samantha, moça nova na casa, e pediu para dar um trato legal em mim. Amigos, foi uma experiência incrível.

O remédio funciona?

Sei lá! Eu não tomei. Só sei que a Samantha conversou com a dona Eni, a proprietária, que me chamou para negociar. Resultado: tive uma hora grátis incrível com a Samantha e vendi 40 comprimidos por R$ 3,00 cada. Além de não gastar meus R$ 50,00, lucrei R$ 60,00 líquidos. A dona Eni disse que quando acabar o estoque ela compra mais e a moça é por conta da casa. Negócio fechado!

Isso é sabedoria popular, na prática, na veia. Esse Bentinho vai longe!


Revisão ortográfica: Anne Preste


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