Rimem (o escrivão não soube escrever He-Man) era apaixonado por Leididjeine (o mesmo escrivão), sua vizinha. O rapaz é inteligente, honesto, trabalhador, limpinho, porém fraco de feição e deficiente capilar. Mas é ótimo gestor, requisitado por grandes empresas. Ela é bonita, vistosa, esotérica e quase concluiu o ensino médio. Gosta de Rimem, mas o acha inodoro, sem açúcar e sem sal. Aparência, inteligência e dinheiro não lhe são irrelevantes. Para a moça, o que importa é a compatibilidade astral. Já para o rapaz, quase qualquer mulher serve, desde que seja bonita e role sexo. Leididjeine não é uma mulher qualquer.
Galateia, mãe de Rimem, leva vida simples e pacata, após juventude desvairada e não se lembra quem é o pai dele. Certo dia, a amiga Shunshine, mãe de Leididjeine, pediu a Pigmalião para cuidar da pequena Leididjeine enquanto viajava em busca de auto conhecimento no Tibet. Teve um rolo com um monge e nunca mais voltou. Ele não sabe se é o pai de Leididjeine, mas acolheu a bebê, criada pelos avós, donos de uma rede de lojas. Pigmalião abandonou os estudos, virou hippie, passou uns tempos em Arembepe e todos sabiam que perderia tudo após a partida dos pais.
Quando herdou as lojas, nem ele nem a filha, que não consegue somar números com mais de dois dígitos, queriam tocar o negócio. Por isso era interessante unir os jovens, tanto para a gestão do comércio quanto para a relação amorosa entre Pigmalião, macho alfa e Galatéia, que ainda dá um bom caldo. Ambos curtiram as mesmas loucuras juvenis e seriam boa companhia um para o outro. Eles bolaram um jantar para os quatro e os pais deixaram os jovens a sós depois da sobremesa.
— Belíssima casa, muito bom gosto. Parabéns.
— Era dos meus avós, a casa e a rede de lojas.
— Gosto muito de você Leididjeine. Que tal a gente namorar?
— Só namoro se for alguém compatível.
— Compatível em que sentido? Política, sexo, futebol, gosto literário?
— Constelação astral, numerologia, esoterismo. Qual é seu signo?
— Minha mãe disse que eu nasci gêmeo.
— Que dia e mês você nasceu?
— 16 de outubro.
— Então você é de Libra. Por que diz Gêmeos?
— Tinha um irmão gêmeo, mas só eu vinguei. Achei que era Gêmeos.
— Qual é seu ascendente?
— O que é isso?
Percebendo que Rimen era nó cego em astrologia, ela explicou que ascendente é o signo que estava no horizonte na hora do nascimento da pessoa. Explicou como se faz mapa astral, como medir a aura de alguém e outras coisas que integravam seu universo.
— Entendi. Não sei qual é meu ascendente. E você?
— Eu sou Virgem com Câncer.
— Virgem com câncer? Que pena! Dá logo, menina.
— Você não entendeu. Eu nasci em 16 de setembro, signo de Virgem. Câncer é meu signo ascendente.
— Ah bom! Que susto. Não entendo de horóscopo.
— Adoro astrologia, tarô e xamanismo. Bens materiais não interessam.
— A gente seria um belo casal. Temos tudo para dar certo.
— Pode ser, mas compatibilidade é fundamental. É científico, sabia?
— Acho você super linda, corpo fantástico. Seria ótima esposa.
— Você é forte, inteligente, meu pai diz que seria bom gestor para as lojas, mas insisto: será que temos alguma compatibilidade?
— Não sei. Minha vida foi só estudo e trabalho, sem hobbies, baladas, viagens. Meus prazeres eram só miojo, fanta uva e Banda Calipso.
— Caraca! miojo! fanta uva! Banda Calipso! Por que não disse logo? É muita compatibilidade, cara. Você pode ser o homem da minha vida! Claro que topo namorar, meu gatão!
“O coração tem razões que a própria razão desconhece.” Blaise Pascal.
Revisão ortográfica: Anne Preste