Sonho e coincidências (parte 2)

por Appio Ribeiro

15.09.2020

Rua Saldanha da Gama com a Viela, Lapa, São Paulo, SP

(O importante não é o lugar, mas o que acontece nele.

Cada avenida, cada rua, cada beco da cidade foi testemunha de

acontecimentos que fizeram a história de muita gente.

Inclusive da sua. Este é um pedaço da minha.)


Na última publicação contava o sonho que tive e as coincidências ocorridas com a Rua Saldanha da Gama.

Contei do amigo que morava na casa que vi no meu sonho e que o reencontrei como cliente, anos depois. Contei do meu encontro com o “jornalista” Conde Sebastião Pagano no Correio Paulistano e, anos depois, o reencontro na faculdade, como professor titular e meu examinador no vestibular.

Agora conto a coincidência do “investimento” da minha namorada adolescente: Ela havia comprado cotas de participação num empreendimento que se chamava “Vasconcelândia”, que foi o sonho de um dos maiores artistas que o Brasil teve: o José Vasconcelos.

A ideia da Vasconcelândia era a construção de um grande parque de diversões, para crianças e adultos, numa área próxima da Capital. Seria como uma Disneylândia no Brasil. O empreendimento não deu certo. Faltou capital. Mas foi ele foi precursor do conceito de parque temático no Brasil, antecipando em várias décadas os parques como o Beto Carrero World e o Hopi Hari.

Pois é, eu era quase vizinho do dono desse empreendimento em que minha namorada investira: o artista, o cômico, o one-man-show, José Vasconcelos, que por coincidência morava quase na frente da casa do Conde Sebastião Pagano, na rua... Saldanha da Gama.

Eu contei também que meu pai gostava de boxe e falava de seus ídolos. Pois bem, eu devia ter uns 12 anos quando vi uma pequena aglomeração na Rua Saldanha da Gama e com a molecada me chamando pra também ir lá. Fui.

Mesmo que pequena, uma aglomeração naquela rua era algo inédito. Era na frente da casa do José Vasconcelos. Rodeado por algumas pessoas e muitos jovens e crianças, lá estava o grande cômico, com sua simpatia e humor, diante da própria casa, apresentando aos vizinhos, um amigo, um amigo italiano, que era um homem forte, grande, alto, enorme, que estava em visita ao Brasil. Era um dos ídolos do meu pai: o lutador várias vezes campeão mundial, Primo Carnera. Simpático, muito afável, brincou com os garotos, fingiu fazer defesas e ataques com “jabs”, diretos e dando a mão para todos. Mão que dava medo de tão grande!

Agora, vamos dar um salto dos anos 1950 para o ano de 2018, e da Rua Saldanha da Gama para a Rua Álvaro Alvim. Nessa rua fica a ESPM, e nela eu fazia o Curso Criativa Idade. Como colega de sala, só mais dois “rapazes”: o Galvão e o Augusto Luppi. Conversa vai, conversa vem, coincidência: nós havíamos trabalhado nas mesmas empresas, em anos diferentes. O Galvão havia trabalhado Agência Praxis antes de mim. E era sobrinho daquele de quem fiquei amigo, o Regastein Rocha.

Já o Luppi havia trabalhado na McCann-Erickson e saído um ano antes de eu começar. E fomos nos lembrando dos profissionais com quem trabalhamos. Vários deles.

E, nas conversas do tempo contemporâneo, o Luppi me contou das suas atividades em Atibaia, onde mora. Contou ser diretor do Conselho Municipal do Idoso da cidade, e das suas atividades para com essa parte da sociedade. De minha parte, contei das aulas que tivera recentemente na Universidade Federal de São Paulo, no curso da UATI, também para a terceira idade. Comentei da excelência dos professores, e particularmente da Dra. Beatriz Moura, especializada em farmacologia e do sucesso de suas palestras junto ao público sênior.

Resumindo: por meu intermédio o Luppi a convidou a Dra. Beatriz Moura para proferir palestra em Atibaia. Eu a acompanhei àquela cidade, onde fomos recebidos por um almoço (delicioso) na casa do Luppi. Foi quando, após o almoço, o filho dele comentou o hábito de realizar passeios de moto, e me levou para conhecer a sua bela máquina. Então, eu me lembrei e contei que minha experiência sobre duas rodas tinha se limitado à lambreta, da qual levei o maior tombo, ao entrar numa viela. E quis explicar o que era uma viela e onde ficava exatamente.

Para minha surpresa, o Augusto Luppi continuou a minha descrição, ao dar muito mais detalhes da tal viela. Era (e é) a viela que ligava a Rua Duarte da Costa à Rua... Saldanha da Gama.

Se já era muita coincidência ele a conhecer, mais ainda foi ele ter morado lá, isso mesmo, morado n Rua... Saldanha da Gama.

E o cúmulo da coincidência: o Luppi contou que como eu também estava lá entre os garotos, na frente da casa do José Vasconcelos, naquele dia em que o Primo Carnera apareceu na calçada, e lembrou que também deu a mão para aquele gigante. Pois é, éramos vizinhos na puberdade, quase colegas de profissão na juventude, mas nos conhecemos só 60 anos depois, e como alunos na ESPM.

E só descobrimos isso em Atibaia, a setenta quilômetros da Rua... Saldanha da Gama.

PS.: E maior cúmulo de coincidência: Eu não conheço pessoalmente o João Aranha, membro do Conselho Editorial deste Cidadão e Repórter. Mas recebi e-mail do Editor, em resposta ao envio desta crônica, a seguinte mensagem: “Diga ao autor (eu) que gosta de coincidências, que o Conde Sebastião Pagano foi meu professor de Sociologia no meu curso de economia no Mackenzie e o irmão dele Aúthos Pagano foi meu professor de estatística”.


Revisão: Maitê Ribeiro