Hoje me lembrei de um amigo que escreveu um livro sobre boêmia.
Tive a honra de conhecê-lo em Campos do Jordão, em março de 1992. Era um advogado famoso, o mais importante da Serra da Mantiqueira, mas tinha como hobby a arte de escrever.
Historiador nato, tudo que sei de Campos do Jordão foi por meio de seus livros que conheci e aprendi a respeitar a magia da montanha que tanto amava. Pois montanha tem vida própria, tem os Devas que cuidam dos bosques, do ar puro da natureza, da fauna, da flora e das sombras que chegam no começo da noite, que apagam ou brilham à luz da lua, que regem o som das aves e harmonizam seus tons conforme o vento sopra.
Pedro Paulo Filho me lembrava um tio muito querido, irmão de minha mãe, tio Oswaldo Neves. Tinham o mesmo olhar, o mesmo jeito de falar e ambos, polêmicos e bom papo.... Sabiam de tudo, principalmente de política, de poesia, de literatura clássica. Tive o prazer de conviver com ambos, um na minha longa infância e adolescência, o outro no início da maturidade.
Ambos boêmios, hoje tenho certeza que se tivessem se conhecido, seriam amigos tipo "alma gêmea". Mas o destino fez que eu fizesse essa ponte, não se conheceram, mas eu os conheci.
Segundo Pedro Paulo Filho: a boêmia, o motivo destas linhas, não é só gostar de bares, da vida noturna, mas muito mais profundo, é pura filosofia!
"Boêmio é o que gosta da noite, dos bares, vivendo vida despreocupada e alegre". Os franceses passaram a comparar escritores e artistas parisienses aos "bohêmiens" ciganos oriundos da Boêmia, região da antiga Checoslováquia.
O escritor francês Henri Murger (1822/1866) descreveu em Cenas da vida boêmia, a vida mundana dos intelectuais: "Os costumes sociais da modernidade abalaram as estruturas da boemia da Belle Epoque, em razão da ocupação geral e intensa dos intelectuais em trabalhos que exigem rígida disciplina, cumprimento de prazos, horários e tarefas preordenadas.”
Mas o desemprego, marca das sociedades industriais em todo o mundo, está levando a um reavivamento da boêmia. Em razão disso, a alegria antiga já não é a mesma e à beira de copos e rostos, em vez de chistes imaginosos e frases antológicas, o que mais se ouve são confidencias com travos da luta pela sobrevivência" *
E nesse delicioso livro Notáveis bacharéis na vida boêmia, Pedro Paulo Filho não podia imaginar como estava certo em dedicar seu precioso tempo para pesquisar sobre o ócio, sobre o lazer em vez dos problemas sociais que se repetem e geram brigas, revoluções... mas muitas das soluções encontradas para os problemas do mundo sempre acontecem ao redor de uma mesa, com copos e garrafas.
Pedro Paulo Filho não está mais aqui, mas deixou um legado para ser lido e sempre lembrado. Como sua admiradora e fã, tenho muito que contar sobre o amigo que conheci nos Campos do Jordão!!!