Evento

Sem Humanização não há transformação

por Cleo Brito

04.05.2020

"Esta pandemia lembra-nos que não há diferenças nem fronteiras entre aqueles que sofrem. Somos todos frágeis, todos iguais, todos valiosos.

É preciso cuidar de todos, com um olhar que não se detenha em diferenças políticas ou ideológicas. Viver em sociedade não traz apenas custos ou complicações. Ela possibilita e potencializa a solidariedade. Somos humanos. Ninguém está sozinho."

Papa Francisco (abril/2020)

Com a vulnerabilidade da população em situação de rua, a luta do movimento "Na rua somos um" continua com muita energia, com o objetivo não só de atendimento e uma acolhida imediata, mas também para a continuidade e aprimoramento do projeto.

Para uma situação hiperbólica da população de rua na cidade de São Paulo — estimada em 25 mil e com abrigo disponível para mais ou menos 12 mil pessoas —, é aflitivo imaginar o que acontece com os demais que não conseguem um lugar para se abrigar. Com esta estrutura, não é fácil a luta para grupos que vestem a camisa da solidariedade; o que, no entanto, não deixa de ser um desafio que os fortalece.

Devido ao Covid-19, a maioria dos coletivos suspendeu os serviços voluntários junto à população de rua, privando-os dessa esperada assistência. Os coletivos, representados pelo projeto "Na rua somos um", estão chamando atenção do poder público para que olhem para esses cidadãos com maior cuidado e compaixão. Colocam-se à disposição para um trabalho conjunto, pois a grande maioria já estabelece uma cumplicidade com essa população, oferecendo não só alimentos, mas também um ombro amigo e orientação para que possam ter uma melhor qualidade de vida, como atendimento médico, obtenção de documentos etc.

Felizmente a Prefeitura de São Paulo se mobilizou para disponibilizar refeição pelo Bom Prato, porém, essa solução atende uma pequena parcela da população de rua. Para amenizar e tentar alcançar um maior número de pessoas, foi lançado um edital de convocação pública para o credenciamento de restaurantes ou similares, inscritos e situados na cidade de São Paulo, para prestar serviço de fornecimento de refeições à população em situação de rua, com entrega em pontos fixos indicados pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania – SMDHC.

O principal apelo do movimento "Na rua somos um" —, tambem já adotado em outras cidades, é de uma acolhida que tenha condições básicas e dignas em hotéis, pousadas, hospedarias e assemelhados. Um trabalho já realizado e apresentado à Prefeitura de São Paulo foi o mapeamento com os respectivos custos de vagas em estabelecimentos que possam disponibilizar essas hospedagens.

A Prefeitura já aprovou uma lei que disponibiliza hospedagem para os profissionais de saúde, moradores de rua e mulheres vítimas de violência.

A grande expectativa é de uma rápida tramitação, devido ao curto tempo para amparar a população de rua, principalmente se houver ocorrência de contaminação pelo vírus. Os líderes do movimento batalham para urgenciar a realização deste projeto, pois além do combate ao coronavírus, há a preocupação com o inverno que está chegando e com ele o iminente risco de contaminação da gripe H1N1.

A transformação que o mundo está vivenciando antevê que o voluntariado não será mais o mesmo; assim, todo trabalho está sendo visto não só como ajuda, mas uma troca, com a percepção social da nova era considerando que a população de rua é sustentável, nômade e minimalista, invisível aos olhos do poder público e da maioria dos cidadãos.


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Revisado por Maitê Ribeiro