Meme é arte?


Observa-se uma crescente movimentação dos produtores de memes em busca de maneiras de capitalizar as suas criações, propiciadas pelo NFT, certificado que garante autenticidade ao arquivo digital.


Bruna Albuquerque

17.07.2021
Reprodução do meme Doge Foto disponivel na internet

Nas últimas semanas, os memes tem aparecido cada vez mais nas notícias do mundo artístico. O meme do cachorro Doge foi vendido por milhões de dólares e alcançou o posto de meme mais caro da história. Pode-se observar uma crescente movimentação dos próprios produtores de memes em busca de maneiras de capitalizar as suas criações, que tem sido propiciadas pelo NFT, certificado que garante autenticidade ao arquivo digital. A partir disso, surge uma indagação interessante: os memes podem ser considerado arte?

Os memes já são um fenômeno na internet e viralizam com muita facilidade. O termo foi cunhado por Richard Dawkins em seu livro “O Gene Egoísta” de 1976, onde ele trouxe o termo para explicar a unidade de replicação no darwinismo universal. Meme deriva da palavra grega “mimeme”, aquilo que é transmitido rapidamente. Eles também têm aparecido nos museus, em exposições e iniciativas como a realizada pela Universidade Federal Fluminense, o Museu de Memes, criado com o objetivo de gerar reflexão e preservar a memória. O fato é que os memes já fazem parte da nossa cultura e não se pode negar sua presença maciça.

Os memes carregam duas grandes características que se chocam com a arte: podem ser produzidos por qualquer pessoa e são meios de comunicação, portanto, seu entendimento depende da compreensão dos contextos que o cercam. A concepção de arte mudou ao longo do tempo, porém a história da arte se estabeleceu a partir do ideal clássico de arte, tendo originado um cânone artístico elitizado, europeu, branco e majoritariamente produzido por homens. E esse ideal ainda é perpetuado no nosso imaginário. Dessa maneira, há uma certa dificuldade em atribuir o nome de arte para manifestações que fogem desse ideal. Com o advento da arte contemporânea, houve um estranhamento e demora para reconhecer aquelas produções como arte. Atualmente, no mercado artístico, já está estabelecido a sua existência, porém ainda há o estranhamento por parte do público, que surge bastante do não entendimento do que está sendo proposto pelo artista. Ocorre algo semelhante com os memes. Essa manifestação de expressão também rompe com a figura do artista, figura fundamental na história da arte. Com o advento da internet e as características da sociedade pós moderna em que vivemos, todos podem produzir um meme, consequentemente todos poderiam ser artistas, indo de encontro com uma grande ideia que paira no imaginário das pessoas: o artista como gênio.

Andy Warhol, artista ícone da Arte Pop, que produziu os famosos quadros de Marilyn Monroe, e Marcel Duchamp, grande expoente do Dadaísmo, revolucionaram a arte. Ambos retiraram de suas obras, cada um, a sua maneira, o ideal de arte que era estabelecido até então. A arte deixava de ser o que Duchamp chamava de “arte retiniana”, bela e contemplativa, carregando outros atributos.

Houve uma subversão do que se considera arte e a partir disso, surgiram questionamentos: quem determina o que é arte? Por que a preocupação em determinar o que é arte? Quais os limites dentro disso? É necessário haver a figura de um artista para validar a produção? Se qualquer coisa pode ser arte, então nada é arte ou tudo pode ser arte?

Chego no último parágrafo trazendo mais questionamentos do que afirmações, mas é nesse espaço que reside a beleza da arte. Não há certo, nem errado, há uma sugestão a reflexão. A resposta para todas essas perguntas são iguais: depende. Mas a maior indagação seria: por que os memes não podem ser considerados arte?



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Revisão ortográfica: Anne Preste

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