Vantagens de começar a prática de atividade física na infância


“Brincar na rua: O dia dura menos que um dia, e já estão chamando da janela: É tarde! Ouço sempre este som: é tarde, tarde.”- Carlos Drummond de Andrade


Profª Mestranda Thayna Ribeiro

Pesquisadora do Laboratório do Movimento Humano

16.08.2021

Brincar de pega-pega, queimada, pular amarelinha, pedalar, jogar bola, nadar, pular corda. Em geral, essas brincadeiras aconteciam na rua ou no quintal de casa, com os pés descalços e sujos, mas sem grandes preocupações. Afinal, éramos crianças.

Em uma sociedade cada vez mais imediatista e sedentária, a era da tecnologia o uso dos computadores, smartphones e videogames passaram a ocupar a maior parte do tempo das crianças e adolescentes. Como resultado, um fenômeno caracterizado pelo ato de cultivar os “isolamentos em bolha” vem sendo gerado, onde muitas destas crianças e adolescentes preferem ficar conectados a este mundo de influenciadores, a fazer uma atividade ao ar livre. Mas, você querido leitor já se perguntou como estes pequenos indivíduos em formação podem estar sendo lesados de forma irreparável? No conteúdo de hoje abordaremos a importância e as vantagens da prática de atividade física na infância.

"As crianças de hoje sabem tantas coisas que logo deixam de acreditar em sonhos" - Peter Pan

Dias chuvosos e aula de Educação Física na sala, quem nunca ficou frustrado quando o professor vinha com essa notícia? Pois é, todo estudante, jovem ou criança, já passou por isso. E esse sentimento de insatisfação se dá porque a disciplina é vista, muitas vezes, como um momento de lazer, diversão e a saída da sala de aula. Neste sentido, a prática de atividades físicas regulares proporciona vários benefícios as crianças, principalmente ligados à melhoria da saúde e qualidade de vida, bem como ao controle dos fatores de risco de várias doenças.

O “brincar” favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Uma forma espontânea, e quando bem orientada, poderá auxiliar na difusão de habilidades essenciais no desenvolvimento da vida da criança, que por consequência, irá conduzir a formação de um adulto mais paciente, tranquilo e sociável.

Quando uma criança participa de uma brincadeira tradicional, como amarelinha, ela está não somente desenvolvendo as habilidades motoras de locomoção, estabilização e manipulação, como também permite que outras habilidades sejam desenvolvidas e aperfeiçoadas como a destreza, atenção, concentração, cognição e sequência numérica, facilitando o entendimento de conceitos e outros conteúdos que exigem o trabalho em sala.

Além disso, dados da Organização Mundial de Saúde apontam o sedentarismo como a quarta principal causa de morte no mundo, indicando que a promoção da atividade física deve ser considerada uma das operações prioritárias no campo da saúde pública. Tão nocivo quanto o sedentarismo, outro extremo conhecido como “síndrome de overtraining”, é caracterizado pela busca de aprimoramento de performance, em que muitos adolescentes, excedem sua capacidade física em super treinamentos e ficam sujeitos a lesões e estresse emocional.

Entidades governamentais de todo o mundo e grandes associações médicas reiteram que para crianças e adolescentes, um maior nível de atividade física contribui para melhorar o perfil lipídico e metabólico, reduzindo a prevalência de obesidade infantil. Um problema mundial grave. O excesso de peso pode provocar o surgimento de vários problemas de saúde como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. Cerca de 15% das crianças e 8% dos adolescentes sofrem de problemas de obesidade, e oito em cada dez adolescentes continuam obesos na fase adulta.

Portanto, crianças e adolescentes devem ser encorajados a participar de uma variedade de atividades físicas agradáveis e seguras, que contribuam para o seu desenvolvimento saudável. Para esta faixa etária, a OMS preconiza que sejam realizados ao menos 60 minutos diários, não necessariamente contínuos, de atividade física de intensidade moderada a vigorosa.

Sendo assim, deixamos um apelo a você, caro leitor: incentive as crianças e adolescentes ao seu redor a participar de brincadeiras e atividades que estimulem os movimentos do corpo, tratando a prática de atividade física como uma conduta primordial no dia-a-dia e não apenas como uma alternativa.

Bibliografia consultada:

  • Lazzoli, José Kawazoe et al. Atividade física e saúde na infância e adolescência. Revista Brasileira de Medicina do Esporte [online]. 1998, v. 4, n. 4pp. 107-109. doi.org/10.1590/S151786921998000400002.

  • Barros R. Exercício físico realmente promove a saúde dos adolescentes: solução ou problema? In: Residência Pediátrica. Sociedade Brasileira de Pediatria 5(3) S1 set/dez 2015. p. 32-34.

  • World Health Organization. Global recommendations on physical activity for health. Geneva: World Health Organization; 2010. Disponível em http://apps.who.int/iris/ bitstream/10665/44399/1/9789241599979_ eng.pdf acesso em 11 de agosto de 2021.

  • Seabra AE, Mendonça DM, Thomis MA, Anjos LA, Maia JA. Determinantes biológicos e sócio-culturais associados à prática de atividade física de adolescentes. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro. 24(4):721-736. 2008.

  • Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Departamento de Promoção da Saúde. Physical Activity Guidelines for the Brazilian Population; Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 54 p. ISBN978-85-334-2885-0. CDU 616.39.

  • Nuneset al. Atividade física como prevenção da obesidade e síndrome metabólica na infância e adolescência: uma revisão integrativa. Multidisciplinary Reviews4: e2021009.DOI: 10.29327; 2021.


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Revisão ortográfica: Anne Preste


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