Giovanna Carolina Bueno
Orientadora: Profa. Dra. Nathalia Bernardes
Laboratório do Movimento Humano
04.10.2021Embora existam diversas pesquisas na busca da origem ou “causa” do TEA, ainda há neste ponto, um mistério. Mas, até o momento, o TEA é considerado um transtorno multifatorial, o que significa ter em sua etiologia, influências genéticas e de fatores ambientais e, individualmente ou na combinação de ambos, estão presentes no indivíduo as disfunções nos genes e nos tecidos neurais. Sabemos também que a prevalência do diagnóstico do TEA é quatro vezes maior em indivíduos do sexo masculino do que no feminino.
Dentre os sintomas frequentemente identificados no TEA, temos atrasos do desenvolvimento da linguagem, a hipersensibilidade à estímulos externos, uma ausência do interesse social, comportamentos repetitivos, muitas vezes vistos também nos comportamentos agressivos e inquietos, com interações sociais e ambientais (com as pessoas e com o mundo que o cerca) incomuns ou fora dos padrões quando relacionadas às crianças típicas (são aquelas que não têm o diagnóstico de TEA).
E ao falarmos de TEA, observamos também que, além de todas as dificuldades de interação com o mundo causadas pelo transtorno, seus acometidos muitas vezes também desenvolvem transtornos psicológicos comórbidos, como alguns dos tipos de transtornos de ansiedade e depressão. Para um transtorno tão complexo e de impacto tão intenso na vida de seus acometidos, se faz necessário uma constante evolução das tecnologias e alternativas efetivas de tratamentos, e de preferência, que gerem cada vez menos efeitos colaterais e até mesmo danos aos organismos humanos.
Pesquisas recentes sobre o TEA ganharam destaque na comunidade científica, sobre o tratamento com canabidiol. O canabidiol (CBD) vem da cannabis, sendo uma planta, e possuí inúmeras substâncias que podem ser extraídas e utilizadas. O CBD em especial, tem potencial ansiolítico, antipsicótico, anti-inflamatório e antioxidante, com alto limiar de toxicidade.
O canabidiol possui múltiplos alvos, regulando a atuação dos neurotransmissores glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA). Esses neurotransmissores atuam, dentre outras áreas e funções, no sistema endocanabinóide, conhecido por controlar várias funções cerebrais complexas.
Embora não seja ainda totalmente elucidado o efeito do canabidiol em pacientes com TEA, sabe-se que envolve possivelmente a regulação de receptores dos neurotransmissores GABA e glutamato. Os tais neurotransmissores que regulam uma série de atividades, incluindo o sono, aprendizagem, memória e dor, incluindo melhora na comunicação e na organização global, que podem estar relacionados com diversas doenças neurológicas e psiquiátricas, e estão envolvidos na fisiopatologia do TEA.
De acordo com um estudo publicado na revista científica Nature Scientific Reports, em 2019, pais de crianças com TEA, tratadas com canabidiol durante 6 meses, reportaram melhora significativa ou moderada em seus filhos em aspectos do dia a dia como; a melhora do humor, na qualidade do sono e da concentração, nas habilidades de higiene e de se vestir independentemente, e quanto aos sintomas comuns que citamos a pouco, em 84,6% das crianças que apresentavam convulsões, foi relatado o desaparecimento da condição, em 91% foi relatado melhora na inquietação e em 90,3% foi relatado melhora dos ataques de raiva.
Considerando que o TEA apresenta uma redução nos níveis de endocanabinóides no organismo, se o canabidiol, extraído da planta cannabis, e tem potencial ansiolítico, antipsicótico, anti-inflamatório e antioxidante, que atua na regulação dos níveis de endocanabinóides no organismo, sendo que esses parecem influenciar os processos cognitivos essenciais nas diversas ações e interações do indivíduo com o mundo que o cerca... A utilização do canabidiol para o manejo do TEA, apresenta-se como uma opção bem tolerada, segura e efetiva para o alívio dos sintomas presentes no TEA, bem como os seus transtornos comórbidos, incluindo convulsões, estereotipias, depressão, inquietação e agressividade.
Referências:
APA - AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and statistic manual of mental disorders. 5th ed. Revised. Washington, D.C.: American Psychiatric Publishing, 2013.
APA-AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Porto Alegre: ARTMED. 5. ed. 2014.
BAR-LEV SCHLEIDER L, MECHOULAM R, SABAN N, MEIRI G, NOVACK V. Real life Experience of Medical Cannabis Treatment in Autism: Analysis of Safety and Efficacy. Sci Rep. 2019.
CAMPOS, A. C., FOGACA, M. V., SCARANTE, F. F., JOCA, S. R. L., SALES, A. J., GOMES, F. V., et al. Plastic and neuroprotective mechanisms involved in the therapeutic effects of cannabidiol in psychiatric disorders. Frontiers in Pharmacology, 2017.
COSTA, JLG et al. Neurobiologia da Cannabis: do sistema endocanabinoide aos transtornos por uso de Cannabis. J. bras. psiquiatr. Rio de Janeiro, v. 60, n. 2, p. 111-122, 2011.
KARHSON DS, KRASINSKA KM, DALLAIRE JA, LIBOVE RA, PHILLIPS JM, CHIEN AS, et al. Plasma anandamide concentrations are lower in children with autism spectrum disorder. Mol. Autism. 9:18. 2018.
MATSUZAKI H, IWATA K, MANABE T, MORI N. Triggers for autism: genetic and environmental factors. J Cent Nerv Syst Dis. 2012.
POSAR, A; VISCONTI, P. Autismo em 2016: necessidade de respostas. Jornal de Pediatria. Porto Alegre, v. 93, n. 2, p. 111-119, Apr. 2017.
PREMOLI M, ARIA F, BONINI SA, MACCARINELLI G, GIANONCELLI A, PINA SD, TAMBARO S, MEMO M, MASTINU A. Cannabidiol: Recent advances and new insights for neuropsychiatric disorders treatment. Life Sci. 2019.
PRETZSCH CM, FREYBERG J, VOINESCU B, LYTHGOE D, HORDER J, MENDEZ MA, WICHERS R, AJRAM L, IVIN G, HEASMAN M, EDDEN RAE, WILLIAMS S, MURPHY DGM, DALY E, MCALONAN GM. Effects of cannabidiol on brain excitation and inhibition systems; arandomised placebo-controlled single dose trial during magnetic resonance spectroscopy in adults with and without autism spectrum disorder. Neuropsychopharmacology. 2019.
REGO, SWSE. Autismo. Fisiopatologia e Biomarcadores. Dissertação. Universidade da Beira Interior. Covilhã, 2012.
SAITO, V.M.; WOTJAK, C.T.; MOREIRA, F.A. Exploração farmacológica do sistema endocanabinoide: novas perspectivas para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão? Revista Brasileira de Psiquiatria. v.32.I. 2010.
SALGADO, C. A., CASTELLANOS, D. Autism Spectrum Disorder and Cannabidiol: Have We Seen This Movie Before? Global Pediatric Health, vol. 5, 2018.
SANDIN S., LICHTENSTEIN P., KUJA-HALKOLA R., LARSSON H., HULTMAN C.M., REICHENBERG A. The familial risk of autism. JAMA. 311(17):1770-7. 2014.
Conheça as matérias do Laboratório do Movimento Humano
Revisão ortográfica: Anne Preste