No Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, as pessoas travestis, transsexuais e transgêneros compõem cerca de 2% de toda a população brasileira. A abreviação “trans” é utilizada para identificar aqueles indivíduos que não se identificam com o sexo o qual foi atribuído ao nascer.
Profs: Fernanda Queiroz de Mello e Silva e Hunter Douglas de Souza Lima
Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano
15.11.2021'No Brasil, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA, as pessoas travestis, transsexuais e transgêneros compõem cerca de 2% de toda a população brasileira, sendo representada pela letra T da sigla LGBTQIA+. A abreviação “trans” é utilizada para identificar aqueles indivíduos que não se identificam com o sexo o qual foi atribuído ao nascer.
O Sistema Unificado de Saúde - SUS, e a Política Nacional de Saúde Integral LGBTQIA+ oferecem serviços de atendimentos específicos para a comunidade trans. Entretanto, poucos possuem acesso a esta rede de referência ao tratamento. Além disso, é relatado no próprio sistema, transfobia aos indivíduos que tentam acesso ao tratamento e intervenção médica. A Organização Mundial da Saúde - OMS, no documento do CID 11, afirmou que a transexualidade não é configurada ou reconhecida como nenhum tipo de desordem mental, portanto não deve ser tratado de tal forma, ou questionado sobre a motivação do paciente sobre a sua identidade de gênero.
Para que pessoas trans possam se sentir bem em relação à aparência do corpo, e assim serem reconhecidas pelo gênero a qual se identificam, elas podem passar por diversas modificações transitórias e/ou permanentes como: uso de próteses, uso de substâncias tópicas, procedimentos estéticos, treinamento muscular e/ou vocais, ou até mesmo as cirurgias.
A terapia hormonal é permitida no Brasil a partir dos 16 anos, com acompanhamento médico, porém, a comunidade médica aponta riscos principalmente em relação à saúde cardiovascular. Há evidências que apontam um aumento da incidência de tromboembolismo venoso em mulheres transsexuais, devido à terapia com estrogênio.
Além disso, tais terapias provocam uma mudança significativa na composição corporal, relacionada ao aumento na gordura, principalmente visceral, a redução na massa muscular e outras alterações fisiometabólicas. Em contrapartida, os níveis de colesterol tendem a diminuir, o que pode apresentar uma diminuição nos riscos cardiovasculares, mas ainda são necessárias mais pesquisas para enfatizar com veemência.
Em homens trans, a terapia altera os parâmetros lipídicos, isto é, apresentam colesterol elevado e triglicerídeos mais aparentes, fatores esses que se relacionam diretamente á composição corporal. Especialistas descrevem que os pacientes relataram um aumento do peso corporal e de massa muscular em compensação a uma diminuição da porcentagem de gordura corporal.
Existem poucos estudos publicados associando atividade física a essa população, o que pode estar ligado a grande variedade de dosagens e padronizações da terapia hormonal para pessoas trans, e isso dificulta estudar os possíveis danos gerados a saúde.
Já comentamos em outras matérias sobre a importância da atividade física para população em geral, e quão importante é o exercício para a saúde cardiovascular, na regulação do metabolismo e saúde mental. Essa correlação se faz importante na busca de atividade física para os trans, principalmente a musculação, sendo algo primordial! Visto que, pode ser um fator determinante na busca da modificação e identificação corporal, de forma saudável.
Um estudo realizado por Jones e colaboradores em 2018, procurou analisar as experiências de pessoas trans na prática esportiva. Verificando, o nível de atividade física realizado por pessoas trans, quando, comparado a pessoas cisgêneros. Em relação à prática de atividade física, pessoas cisgêneros praticam mais atividade física se comparando a pessoas trans. Já, pessoas trans que fazem algum tipo de terapia hormonal o número de praticantes é maior, quando comparado aos que não fazem. Porém, quando perguntados da razão pela qual não praticam atividade física, 79% dos participantes transsexuais responderam que a transfobia é uma barreira quando se pratica atividade física.
Portanto, além dos benefícios cardiomodulares e fisiometabólicos proporcionados pela prática de atividade física regular, a padronização dos treinos é benéfica psicologicamente, visto que auxilia no “molde corporal”, fazendo com que a pessoa se sentir mais próximo do seu íntimo e de como ela se designa. A população trans necessita de cuidados e de um direcionamento mais eficaz de profissionais da saúde.
Referências consultadas:
ROCON, Pablo Cardozo; WANDEKOKEN, Kallen Dettmann; BARROS, Maria Elizabeth Barros De; DUARTE, Marco José Oliveira; SODRÉ, Francis. ACESSO À SAÚDE PELA POPULAÇÃO TRANS NO BRASIL: NAS ENTRELINHAS DA REVISÃO INTEGRATIVA. Trabalho, Educação e Saúde, [S. l.], v. 18, n. 1, 2020. DOI: 10.1590/1981-7746-sol00234. Disponível em: http://www.scielo.br/j/tes/a/NGpjbDZLqR78J8Hw4SRsHwL/?lang=pt. Acesso em: 8 nov. 2021.
CENTRO DE ESTUDO DE CULTURA CONTEMPORÂNEA (CEDEC). Mapeamento das Pessoas Trans no Município de São Paulo. [s.l: s.n.]. Disponível em: https://nucleotrans.unifesp.br/noticias/mapeamento-das-pessoas-trans-no-municipio-de-sao-paulo-relatorio-de-pesquisa. Acesso em: 8 nov. 2021.
O atendimento de pessoas trans na Atenção Primária à Saúde - SBMFC. [s.d.]. Disponível em: https://www.sbmfc.org.br/noticias/o-atendimento-de-pessoas-trans-na-atencao-primaria-a-saude/. Acesso em: 8 nov. 2021.
SEAL, Leighton J. Cardiovascular disease in transgendered people: A review of the literature and discussion of risk. JRSM Cardiovascular Disease, [S. l.], v. 8, p. 204800401988074, 2019. DOI: 10.1177/2048004019880745. Disponível em: /pmc/articles/PMC6775543/. Acesso em: 8 nov. 2021.
JONES, Bethany Alice; HAYCRAFT, Emma; BOUMAN, Walter Pierre; ARCELUS, Jon. The levels and predictors of physical activity engagement within the treatment-seeking transgender population: A matched control study. Journal of Physical Activity and Health, [S. l.], v. 15, n. 2, p. 99–107, 2018. DOI: 10.1123/jpah.2017-0298. Disponível em: https://doi.org/10.1123/jpah.2017-0298. Acesso em: 8 nov. 2021.
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Revisão ortográfica: Anne Preste