Prof. Dr. Marcelo Callegari Zanetti (Docente na Universidade São Judas)
Docente da Universidade São Judas
06.12.2021Estamos a menos de um mês de 2022 e as promessas e planos do ano novo já começam a brotar em nossas cabeças e nas redes sociais. “Projeto verão”; “Plano fitness” são integrantes-chave das expectativas para uma vida mais saudável e equilibrada.
Em janeiro lotam-se as academias, clubes, parques etc., em busca da concretização desses projetos e sonhos, que acabam sendo abandonados ou autossabotados ao longo de fevereiro e março, com outra parcela encerrando definitivamente o plano em abril (em média 50% das pessoas desistem desses programas antes de 90 dias). Sabe o que é... abril já começa a esfriar e fica mais difícil se exercitar, essa é uma das principais desculpas para quem conseguiu vencer esses três árduos meses de exercícios, que será retomado em um novo projeto, em um ciclo que parece não ter fim.
Mas, por que é tão difícil manter a rotina de exercícios físicos? Inúmeros cientistas têm tentado ao longo das últimas décadas responder a essa pergunta, propondo hipóteses, modelos e teorias que buscam explicar a dificuldade de as pessoas aderirem à prática de exercícios físicos, mesmo que elas tenham consciência da importância desse comportamento para uma maior saúde física e psicológica.
Apesar das evidências relacionadas a adesão a programas de exercícios físicos estarem mais robustas nos últimos anos, elas pouco integram as proposições aos pretensos praticantes, seja em academias, escolas, clubes e/ou centros que promovam tais atividades. As mídias (TV, rádio, jornais etc.) também dão mínima contribuição nesse sentido, pois na maior parte das vezes se encarregam apenas de apresentar os benefícios relacionados à prática dessas atividades, ou valorizam formas físicas atléticas, com foco em corpos perfeitos, e difíceis de serem atingidos por “meros mortais”, o que acaba sendo insuficiente para promover mudanças significativas na rotina de exercícios dessas pessoas.
Fazer qual exercício? Com quem? Quando? Com que frequência e intensidade? Para que? Essas são perguntas que devem ser respondidas previamente para que a chance de se manter ativo seja aumentada. Aqui vale a pena ressaltar que não há exercícios melhores ou piores para benefícios e objetivos x ou y, mas, talvez exercícios mais adequados.
Você já se imaginou correndo em um parque? Nadando em um clube? Suando em um aparelho de musculação que você pensa não ter nenhuma habilidade? Pois é, se essas imagens que vieram à sua cabeça despertam um sentimento de repulsa, sofrimento ou inquietação você já está consciente que não deve adotar nenhuma dessas práticas em seu “projeto verão”. Isso mesmo, atividades físicas, exercícios físicos e esportes não devem ser fonte de sofrimento, mas sim de saúde, afinal, não é para isso que no fundo nos exercitamos?
Que tal pensar agora em uma caminhada com amigos, com o cachorro, ou pular corda no hall do seu prédio durante 5 minutos? Essas práticas parecem mais agradáveis e convidativas? Se a resposta foi SIM, abrace essa causa e comece hoje a se exercitar, pois você não precisa de um projeto para isso.
Cabe ressaltar que seria fundamental a orientação de um Profissional de Educação Física para uma prática mais segura e saudável, mas, pequenos passos como os apontados no parágrafo anterior podem auxiliar para que a adoção do exercício na sua rotina diária possa ser facilitada, pois quando realizamos os exercícios físicos, e esses nos trazem como respostas imediatas prazer e vitalidade há maior chance de continuarmos a praticá-lo.
Nesse sentido, não adianta começar a se exercitar como um atleta que treina há anos, ou muito menos correr com aquele amigo que já participou de diversas maratonas. Inicie sua prática de forma leve, convidativa, equilibrada e aos poucos aumente o volume, ou seja, a distância que você irá caminhar e/ou correr, o tempo de prática ou a quantidade de repetições que você fará, para que depois você possa aumentar a intensidade, que está atrelada à velocidade da caminhada, da corrida ou a quantidade de pesos que irá levantar.
Como recomendação final tente tornar essa prática mais fácil, seguindo três propostas:
Escolha um tipo de exercício físico que você goste de fazer;
Busque uma pessoa que possa lhe acompanhar e/ou apoiar essa prática;
Faça atividades em que você se sinta confiante.
Se você seguir essas diretrizes e acreditar que o exercício pode realmente mudar sua qualidade de vida, sem dúvida será muito mais fácil se exercitar.
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Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira