Olimpíada, esporte e ciência


Embora possamos ver um show de tecnologia e atletas de ponta, que a cada edição dos Jogos quebram recordes, precisamos entender que nem sempre os Jogos tiveram essa característica.


Prof. Doutorando Adriano dos Santos

Pesquisador do Laboratório do Movimento Humano

02.08.2021

Em meio ao caos da pandemia, estamos vivendo a chegada dos Jogos Olímpicos que estão ocorrendo em Tóquio, no Japão. Embora possamos ver um show de tecnologia e atletas de ponta, que a cada edição dos Jogos quebram recordes, precisamos entender que nem sempre os Jogos tiveram essa característica.

Os Jogos Olímpicos da Modernidade, lembram (e muito) os Jogos da Antiguidade, disputados na Grécia Antiga como forma de venerar aos deuses e que tinham como simbolismo uma trégua nas guerras, e um momento de paz entre os povos. Sendo assim, os Jogos Olímpicos da Antiguidade ocorriam em Olímpia, aos pés da colina de Cronos - pai de Zeus segundo a mitologia grega.

A data do primeiro evento é incerta, mas acredita-se que a primeira edição oficial dos Jogos Olímpicos da Antiguidade tenha ocorrido em 776 a.C.

Muitos historiadores e pesquisadores, discordam que os Jogos Olímpicos da Modernidade seja uma continuidade da Jogos Olímpicos da Antiguidade, uma vez que os primeiros eram sagrados, no qual os atletas compe­tiam para servir aos deuses. As Olimpíadas Modernas, por outro lado, foram idealizadas por Pierre de Coubertin, na Inglaterra, logo após a Revolução Industrial, como um evento laico (sem vínculo religioso).

O que não se pode discordar é que Pierre de Coubertin baseou-se nos Jogos Olímpicos Antigos, pois o próprio nome representa essa simbologia. Além disso, a prova de 100 metros do atletismo segue tendo grande importância assim como ocorria nos Jogos da Antiguidade.

Os cinco anéis representam cada um dos continentes e são entrelaçados para mostrar a universalidade do Olimpismo e do encontro de atletas do mundo.

Podemos ainda polemizar ao falar que os Jogos Olímpicos apresentam um viés político, na Antiguidade, como forma de alienar o povo com a política do “pão e circo” e na Modernidade, como forma dos países medirem forças e se estabelecerem como potências. Esse contexto fica mais claro com os eventos realizados durante os Jogos de Berlim (1936) na Alemanha nazista e durante os Jogos ocorridos no período da Guerra Fria.

Além do contexto histórico, qual é a relação entre esporte, ciência e Jogos Olímpicos? Ora, você já deve estar imaginando!

O esporte tem como característica, sua organização, regras rígidas e institucionalização por meio de suas entidades, ligas, associações e federações.

O esporte se tornou ou talvez sempre tenha sido um instrumento para a política e daí podemos pensar em sua ligação com a ciência também. Obter a supremacia esportiva é do interesse de diversas nações e esforços são feitos para que isso ocorra. Veja um exemplo importante: a Rússia foi privada de participar dos atuais Jogos Olímpicos devido ao seu comitê esportivo estar envolvido no uso de substâncias ilícitas, o doping, para obtenção de melhores resultados nas provas . O doping é assunto para matéria da próxima semana, aqui só cabe ressaltar o quanto as nações usam de artimanhas e investem para obtenção de resultados satisfatórios no esporte. A principal forma de atingir resultados positivos no esporte é através do investimento na ciência esportiva.

O investimento científico para que atletas superem os limites e recordes é cada vez mais claro, desde a detecção de um talento esportivo até disponibilizar recursos que possam contribuir para que o atleta corra mais rápido, se machuque menos, tenha mais força, salte mais alto, tenha maior precisão, etc. A ciência esportiva evolui ano a ano em diversas direções para que o atleta melhore cada vez mais o seu desempenho.

Você já deve ter se deparado com alguma criança que parecia ter potencial para ser atleta de algum esporte. Aquele menino que ao jogar bola na rua poderia ser o próximo Pelé, a menina que nas aulas de educação física se destacava nos jogos de basquete e que os colegas a apelidavam de Hortência, e tantos outros que “pareciam” ter nascido para o esporte, ao crescer seguiram outros caminhos. Saiba que a ciência do esporte tem meios para detectar possíveis talentos esportivos.

Um exemplo é o método criado pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs) que a partir de um cálculo matemático (Estratégia Z) consegue obter valores do quão acima ou abaixo da média é o desempenho físico (salto, corrida, força, entre outras aptidões físicas) de um potencial talento esportivo.

O treinamento esportivo evoluiu ao longo dos anos contribuindo para que as provas esportivas resultem cada vez melhores e isso é fruto de muitos estudos científicos para se chegar a tal feito. Alguns laboratórios atuam com pesquisas desenvolvidas para evitar lesões, como as análises no sangue para ajuste do treinamento esportivo e estabelecimento da melhor intensidade do treinamento para aquele período.

Para superar os limites físicos do desempenho humano, a indústria do esporte desenvolve melhorias através de bicicletas aerodinâmicas para os ciclistas e tecidos que aceleram a evaporação do suor ou que diminuam o atrito com meio aquático e propiciam mais eficiência aos nadadores, entre outros materiais desenvolvidos para resultar no esporte cada vez mais evoluído.

Tudo isso está associado à quebra de recordes constantes que vemos a cada Olímpiada ou qualquer competição esportiva. Podemos citar alguns exemplos, como: Michael Phelps, detentor de 4 recordes individuais e de 3 por equipes na natação, é o maior atleta da história da natação até o momento, como consequência de muito avanço científico, desde sua revelação como um talento esportivo para a natação, até os recursos nutricionais, físicos e materiais para que ele se tornasse o mais rápido.

Outro exemplo vem das pistas de atletismo: Usain Bolt, o maior corredor que já passou pelas pistas de atletismo até o momento, deixou um legado esportivo que nos faz refletir “até que ponto o corpo humano consegue ultrapassar barreiras?”. O primeiro recorde mundial em uma prova de 100 metros rasos no atletismo é datado de 1912 pelo norte americano Donald Lippincott, que correu em 10,6 segundos nos Jogos de Estocolmo. Usain Bolt detém o recorde atual estabelecido no mundial de Berlim com a marca de 9,58 segundos.

A pergunta que fica é: será que a ciência ainda pode contribuir para que recordes como o de Michael Phelps e Usain Bolt possam ser superados? Não sabemos ainda, só o tempo dirá! Enquanto isso, seguimos nos deleitando com as competições esportivas que cada dia nos encantam mais.

Viva o esporte, viva a ciência e viva os atletas brasileiros que estão dando um show nesses Jogos Olímpicos!

Referências consultadas:

  • CAMARGO, V. T. Ciência e tecnologia nos jogos olímpicos, [s.d.].

  • DE LIMA, M. A.; MARTINS, C. J.; CAPRARO, A. M. Olimpíadas Modernas: a História De Uma Tradição Inventada. Pensar a Prática, v. 12, n. 1, p. 1–11, 2009.

  • HELAL, R. O que é sociologia do esporte. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990.

  • KNIJNIK, J. D.; KNIJNIK, S. F. Sob o signo de Ludens*: interfaces entre brincadeira , jogo e os significados do esporte de competição**. R. bras. Ci. e Mov., v. 12, n. 2, p. 103–109, 2004.

  • RODRIGUES, V. K. Há ciência na detecção de talentos? Diagn Tratamento, v. 12, n. 4, p. 196–199, 2007.

  • SIGOLI, M. A.; JUNIOR, D. D. R. A história do uso político do esporte. R. bras. Ci. e Mov., v. 12, n. 2, p. 111–119, 2004.

  • VIVEIROS, L. et al. Ciência do Esporte no Brasil: reflexões sobre o desenvolvimento das pesquisas, o cenário atual e as perspectivas futuras. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 29, n. 1, p. 163–175, 2015.


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Revisão ortográfica: Sonia Okita


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