Profa. Ma. Thayna Ribeiro
Pesquisadora do Laboratório do Movimento Humano
12.07.2021“Há muito mais coisas em seu corpo do que você pode imaginar. Cerca de 100 trilhões delas, para ser mais exata. Para cada célula humana em nosso organismo, há outras nove impostoras, pegando carona. Você querido leitor, não é formado apenas de carne e osso, sangue e músculo, mas também de bactérias e fungos. Não é um indivíduo, mas sim uma colônia, um ecossistema. Somos apenas 10% humanos” (Alanna Collen)
Até pouco tempo atrás, os micróbios eram vistos como invasores, inimigos, parasitas. Estávamos decididos a exterminá-los. Entretanto, a ciência vem revelando uma história bem diferente: os micro-organismos comandam nosso corpo e evoluíram numa relação de estreita simbiose (relação mutuamente vantajosa) com os humanos, de forma que impossibilitou ser saudável sem eles.
A microbiota, uma rica diversidade de micro-organismos presentes em nossos corpos, existentes no trato gastrointestinal humano, como bactérias, vírus e fungos, vem sendo cada vez mais estudada em virtude da sua relação com a saúde e doenças. Estes micro-organismos estabeleceram uma relação de interação mutuamente vantajosa com o seu hospedeiro, sendo assim, ambos se beneficiam dos nutrientes que são adquiridos através da alimentação. Tornou-se, portanto, uma fonte de estudo extremamente importante para o conhecimento e tratamento de determinadas doenças, visto que as expertises sobre estes micróbios, podem ser revertidas em diferentes estratégias para manipular as populações bacterianas e promover saúde.
Estudos indicam que a microbiota intestinal difere em indivíduos magros e obesos e ainda naqueles que mantêm hábitos alimentares diferentes, onde o tipo de dieta do indivíduo pode modificar a variedade de espécies presentes e, consequentemente, a dinâmica metabólica, ou até mesmo em indivíduos praticantes de atividade física. Há evidências de que as relações entre dieta, inflamação, resistência à insulina e risco cardiometabólico são em parte mediadas pela composição de bactérias intestinais, ou seja, a disbiose (alteração) causada neste sistema pode ser responsável pelo desenvolvimento de diversas doenças.
Desta forma, estes pequenos seres auxiliam nos mais diversos processos intracelulares do nosso organismo, como na fermentação de carboidratos, absorção de lipídios, metabolização de proteínas e vitaminas, assim como na motilidade gástrica e defesa do organismo através de mecanismos neuro imunes e neuroendócrinos.
Já sabemos que o exercício físico leva a diversos benefícios para a saúde. Seria, então, a microbiota intestinal capaz de afetar e ser afetada pelo exercício físico?
Recentemente, alguns estudos mostraram que atletas e praticantes de exercício físico apresentavam uma maior diversidade na microbiota intestinal em comparação com indivíduos sedentários. Como resultado, sim! A microbiota intestinal modificada promove importantes alterações para a recuperação muscular, melhorando o desempenho dos atletas.
Explicando este fenômeno, uma hipótese provável é que os músculos e as bactérias intestinais se comunicam através de um eixo envolvendo esses dois órgãos (músculos e intestino). Essa comunicação é pensada para funcionar nos dois sentidos: a microbiota intestinal influencia a saúde muscular e o exercício físico modula a composição da microbiota.
Por outro lado, o excesso de treinamento parece dar espaço para uma microbiota mais nociva, que levaria a um aumento da permeabilidade intestinal, inflamação, estresse oxidativo e susceptibilidade a infecções. Assim, quando a qualidade da microbiota está comprometida, a atividade das enzimas antioxidantes diminui, portanto, o atleta pode perder em desempenho geralmente devido à recuperação mais lenta e fadiga acumulada.
O que devo fazer para melhorar minha microbiota intestinal?
O primeiro passo é a readequação da dieta. Os micro-organismos da microbiota fermentam principalmente polissacarídeos derivados de plantas. Sendo assim: consuma vegetais! Além disso, a suplementação com probióticos também é uma maneira de modular o perfil da microbiota intestinal.
Probióticos são suplementos alimentares que contêm microrganismos vivos, especialmente bactérias. Eles estão disponíveis comercialmente em comprimidos, em forma de cápsula, em pó, ou em produtos lácteos como leite fermentado ou iogurte. Dessa forma, a ingestão de probióticos modifica a microbiota intestinal, e a saúde de forma geral. Melhorando a composição da microbiota, é possível melhorar o status inflamatório do corpo, e com isso, melhorar diversos outros processos. Assim, vale reforçar: não há nada melhor do que uma dieta equilibrada e com o mínimo possível de alimentos processados.
Por fim, pratique exercícios físicos! A prática regular de atividade física é potencializadora para a imunidade, envolvendo muito mais do que estética. Ela proporciona bem-estar físico e mental, além de contribuir para o bom funcionamento do coração, da circulação sanguínea, da respiração e até mesmo da sua microbiota. Os micro-organismos podem ser a chave para a saúde do corpo e da mente, portanto, lembre-se de cuidar de seus micróbios. Afinal, somos apenas 10% humanos!
Bibliografia consultada:
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Imagem fornecida pelo Laboratório do Movimento Humano
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Revisão ortográfica: Anne Preste