Tânia Plens Shecaira
Pesquisadora do Laboratório do Movimento Humano
27.09.2021A depressão é uma condição psiquiátrica muito comum que afeta o funcionamento psicossocial e a qualidade de vida de milhares de indivíduos pelo mundo. Os transtornos depressivos são caracterizados por uma série de sintomas emocionais, motivacionais, somáticos, comportamentais e interativos, onde normalmente sintomas físicos e mentais são apresentados concomitantemente. É típico dos episódios depressivos a presença de humor deprimido, autodesvalorização, perda de interesse ou prazer, aumento de cansaço, disfunções alimentares e de sono, retardo psicomotor e diminuição de interação social. Sendo um dos transtornos mentais mais frequentemente diagnosticados, e comumente associado a outras doenças, se mostra também como um agravante nos índices de mortalidade e morbidade de doenças relacionadas, como exemplo a hipertensão, doença coronariana e diabetes. Estas, são acompanhadas por uma alta incidência de depressão, o que pode afetar o tratamento e o prognóstico.
Para o tratamento do transtorno depressivo, há uma regular recomendação clínica de terapias psicológicas e fármacos antidepressivos, entre eles, os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRSs) que conseguem aumentar a disponibilidade de serotonina no organismo, a fim de causar melhora no humor. Entretanto, os ISRSs não são eficazes para um terço dos pacientes deprimidos. Isso ressalta a necessidade de novas abordagens para o tratamento. Com isso, atualmente também foi preconizado o exercício físico para o manejo desta doença.
Sabe-se que a prática de exercício físico também está associada a uma importante melhora da saúde mental, assim como a inatividade física pode ser um fator de risco para sintomas depressivos. Neste sentido, o sedentarismo não contribui apenas para os efeitos nocivos à saúde física, como no desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer, mas também como um fator associado a um risco aumentado de transtornos mentais.
Um dos potenciais contribuintes para o desenvolvimento da depressão é a inflamação. Aumentos agudos e crônicos de moléculas que favorecem o processo inflamatório causam alterações no metabolismo dos neurotransmissores, na função neuroendócrina e nos sintomas comportamentais comuns em indivíduos com depressão, incluindo anedonia, diminuição da atividade e retraimento social. Estes fatos sugerem que a inflamação pode contribuir para a etiologia do distúrbio. Nesse contexto, estudos evidenciaram que o exercício físico regular também se apresenta como opção terapêutica anti-inflamatória, demonstrando assim que este pode ser eficaz na prevenção e controle dos sintomas depressivos.
Comparado a outras terapias, alguns estudos demonstram não haver diferença nos níveis de gravidade da depressão quando tratada com exercício físico, fármacos antidepressivos ou terapia cognitiva. Estas são importantes descobertas que sugerem que o exercício é tão eficaz no manejo da doença quanto os tratamentos tradicionais comumente utilizados.
Nesse sentido, diversos estudos foram desenvolvidos para avaliar variáveis como tempo de duração do programa, de sessão, frequência e tipo de exercício de modo a auxiliar na indicação de dosagem mais eficaz para o tratamento. Foram relatados benefícios em programas de duração de 10—16 semanas igualmente eficazes em programas superiores a 17—26 semanas. Quanto a frequência das sessões de exercício, 3 a 4 vezes por semana foram suficientes para se obter resultados satisfatórios. Além disso, a eficiência em sessões curtas de 20—30 minutos também foi igualmente comparada a sessões mais longas, com duração maior a 45 minutos. Em relação ao tipo de exercício, efeitos maiores foram encontrados para atividades aeróbicas. Embora ainda haja mais a ser explorado, não restam dúvidas de que o exercício físico ocasiona efeitos positivos no manejo do transtorno depressivo estabelecido. Além disso, um estudo que avaliou 1.900 indivíduos por 8 anos, demonstrou que o exercício regular reduziu o risco do desenvolvimento da depressão.
Dadas estas evidências, que tal reorganizar sua rotina e dar espaço a uma prática regular de exercício físico no seu dia a dia? Não se esqueça de que a disciplina é muito importante, a prática deve ser executada regularmente para o combate à depressão. Sem dúvidas, atendendo a estes critérios você não só combaterá os sintomas depressivos, mas também poderá experimentar os benefícios na sua saúde física, qualidade de vida e disposição para as tarefas diárias! Escolha ser saudável e feliz!
Referências consultadas:
ANSTEY, K. J. et al. Body mass index in midlife and late-life as a risk factor for dementia: a meta-analysis of prospective studies. Obesity Reviews: An Official Journal of the International Association for the Study of Obesity, v. 12, n. 5, p. e426-437, maio 2011.
CAREK, P. J.; LAIBSTAIN, S. E.; CAREK, S. M. Exercise for the treatment of depression and anxiety. International Journal of Psychiatry in Medicine, v. 41, n. 1, p. 15–28, 2011.
FAVA, M.; DAVIDSON, K. G. Definition and epidemiology of treatment-resistant depression. The Psychiatric Clinics of North America, v. 19, n. 2, p. 179–200, jun. 1996.
LARUN, L. et al. Exercise in prevention and treatment of anxiety and depression among children and young people. The Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 3, p. CD004691, 19 jul. 2006.
NORTH, T. C.; MCCULLAGH, P.; TRAN, Z. V. Effect of exercise on depression. Exercise and Sport Sciences Reviews, v. 18, p. 379–415, 1990.
NUTT, D. J. et al. Mechanisms of action of selective serotonin reuptake inhibitors in the treatment of psychiatric disorders. European Neuropsychopharmacology: The Journal of the European College of Neuropsychopharmacology, v. 9 Suppl 3, p. S81-86, jul. 1999.
PAOLUCCI, E. M. et al. Exercise reduces depression and inflammation but intensity matters. Biological Psychology, v. 133, p. 79–84, 1 mar. 2018.
RETHORST, C. D.; WIPFLI, B. M.; LANDERS, D. M. The antidepressive effects of exercise: a meta-analysis of randomized trials. Sports Medicine (Auckland, N.Z.), v. 39, n. 6, p. 491–511, 2009.
RIMER, J. et al. Exercise for depression. Cochrane Database of Systematic Reviews, n. 7, 2012.
STRÖHLE, A. Physical activity, exercise, depression and anxiety disorders. Journal of Neural Transmission, v. 116, n. 6, p. 777, 23 ago. 2008.
TENG, C. T.; HUMES, E. DE C.; DEMETRIO, F. N. Depressão e comorbidades clínicas. Archives of Clinical Psychiatry (São Paulo), v. 32, p. 149–159, jun. 2005.
WEGNER, M. et al. Effects of exercise on anxiety and depression disorders: review of meta- analyses and neurobiological mechanisms. CNS & neurological disorders drug targets, v. 13, n. 6, p. 1002–1014, 2014.
Conheça as matérias do Laboratório do Movimento Humano
Revisão ortográfica: Anne Preste