Profs. Adriano dos Santos – Doutorando em Educação Física & Helloã Salles Martins – Mestrando em Educação Física
Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano
18.10.2021O sistema cardiovascular é responsável pelo transporte de oxigênio e nutrientes necessários para o bom funcionamento do organismo, além de recolher coprodutos, como o dióxido de carbono (CO2), que podem afetar o funcionamento do organismo. Entretanto, maus-hábitos de vida e fatores hereditários podem contribuir para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Talvez você, leitor, já tenha ouvido falar em alguma pessoa que fumava demais e acabou sofrendo um infarto, ou alguém que bebia muito e acabou tendo um acidente vascular encefálico. Sabe aquela pessoa que vive estressada e nas horas de lazer come batata frita e fastfood, mas reclama constantemente de dores no peito e cansaço excessivo? Então, esses são sinais clássicos de que seu sistema cardiovascular não está funcionando bem.
A doença cardiovascular se caracteriza por doenças que afetam o coração e os vasos sanguíneos e de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o conjunto de doenças cardiovasculares são compostas por:
Doença Coronariana – afeta os vasos sanguíneos que nutrem o coração.
Doença Cerebrovascular – afeta os vasos sanguíneos que nutrem o cérebro.
Doença Arterial Periférica – afeta os vasos sanguíneos que nutrem os braços e pernas.
Doença Cardíaca Reumática – afeta o músculo cardíaco e as válvulas cardíacas devido a febre reumática.
Cardiopatia Congênita – malformação na estrutura do coração desde o nascimento.
Trombose Venosa Profunda e Embolia Pulmonar – coágulos sanguíneos nas veias das pernas, podendo se deslocar para o coração e pulmões.
Nem sempre o exercício físico fez parte da reabilitação de pacientes que tiveram algum evento cardiovascular, porém a partir da década de 80 o exercício físico passa a ser mais difundido para essa finalidade e na atualidade passou a ser mais utilizado no ambiente hospitalar.
O exercício físico para essa população, e qualquer outra, tem um componente interessante: o aumento da capacidade aeróbio máxima. O que isso quer dizer? Quer dizer que um indivíduo treinado tem maior capacidade de absorver mais oxigênio do ambiente em uma única respiração, transportá-lo às células e utilizá-lo para a geração de energia dos afazeres diários, visto que a nossa produção energética em repouso e exercícios de baixa intensidade, dependem da presença da molécula de oxigênio.
Essa capacidade aeróbia é muita das vezes um dos maiores problemas encontrado no indivíduo que acabou de se recuperar de um infarto ou está prestes a ter um. O exercício físico, por sua vez, tem a capacidade de causar alterações estruturais e funcionais no coração exemplos de alterações estruturais e funcionais são:
Estrutural: aumento da massa do coração (hipertrofia fisiológica). Nessa alteração estrutural a musculatura externa do coração aumenta de espessura, sem afetar a quantidade de sangue que entra nas cavidades cardíacas.
Funcional: o coração se torna mais eficiente e melhora sua contratilidade (capacidade de se contrair). O coração contrai com mais força e menos vezes em um intervalo de 1 minuto, fazendo que o coração trabalhe menos para levar uma quantidade adequada de sangue e nutrientes as células.
Além dos benefícios na capacidade aeróbia, o treinamento físico propicia aumento da força, potência muscular, flexibilidade e equilíbrio.
Durante a reabilitação cardiovascular, uma equipe multiprofissional deve conduzir o tratamento do paciente, sendo a equipe multiprofissional composta por: médicos, educadores físicos, fisioterapeutas, profissionais de enfermagem, nutricionistas, psicólogos e assistentes sociais.
A reabilitação cardiovascular é composta por 4 fases. Durante a fase 1, denominada de intra-hospitalar, o objetivo é que o paciente tenha alta hospitalar com melhores condições físicas e psicológicas. Os exercícios têm uma característica muito mais terapêutica, sendo de baixa intensidade combinados com técnicas de controle do estresse e programas de educação em relação aos fatores de risco da cardiopatia. Nessa fase a presença do profissional de educação física não é necessária, visto que os exercícios podem ficar a cargo do fisioterapeuta.
A fase 2 tem início logo após a alta hospitalar, a partir dessa fase a presença do profissional de educação física já se torna necessária com a aplicação de exercícios supervisionados ainda em ambiente hospitalar. Ou seja, o paciente retorna para as sessões de reabilitação. Já nas fases 3 e 4, os exercícios podem ser aplicados no ambiente domiciliar e com supervisão indireta ou a distância.
Estudos realizados em animais infartados mostraram que tanto o exercício aeróbio como os de força, são eficazes em promover melhora no prognóstico pós-infarto. Além disso, de acordo com um estudo de metanálise, a cada 1 semana de atraso no início dos exercícios após infarto, pode ser necessário 1 mês adicional de reabilitação com exercícios para obtenção de benefícios na função cardíaca.
A prescrição de exercício para essa população segue algumas condutas importantes e a intensidade e duração dos treinos vai se dar de acordo com a fase da reabilitação que o paciente se encontra.
Prescrição na fase 1:
Já nos primeiros dias de reabilitação o paciente deve progredir da posição deitada para sentada e em seguida para a posição em pé. Nos dias subsequentes o paciente pode progredir para caminhadas em cicloergômetro.
A quantidade de sessões recomendadas são de 2 a 4 por dia com duração de 5-10 minutos em intensidade de 40 a 60% da capacidade aeróbica máxima.
Prescrição na fase 2:
Essa fase costuma ter duração de 2 meses. A intensidade do exercício depende da capacidade física do paciente, podendo variar entre exercício de baixa à moderada intensidade. Após 30 dias dessa fase os pacientes devem ser reavaliados, e de acordo com o Colégio Americano de Medicina do Esporte, essa fase deve se encerrar quando o paciente for atingir uma classificação acima de 5 METs (valor padronizado utilizado para estimar o gasto energético da atividade física executada), estado médico estável, capacidade física suficiente para realizar suas tarefas diárias.
Prescrição na fase 3 e 4
Nessas fases o programa de treinamento segue a recomendação de prevenção para eventos cardiovasculares. A intensidade do exercício costuma ser utilizada em moderada intensidade e pode até chegar a alta intensidade, costuma ficar entre 50-70% da frequência cardíaca de reserva. Entretanto, pacientes que apresente isquemia ou angina durante o teste ergométrico, a frequência cardíaca máxima utilizada para o cálculo da intensidade de exercício é aquela em que a isquemia teve início.
O exercício físico é, de fato, uma ferramenta poderosa para amenizar os efeitos deletérios dos eventos cardiovasculares. Um estudo realizado em 118 pacientes submetidos a cirurgia de angioplastia coronariana, demonstrou que o exercício aplicado em 59 desses pacientes, foi capaz de aumentar o consumo máximo de oxigênio em 26%, comparado ao grupo sedentário. Além disso, houve melhora na qualidade de vida desses pacientes, redução na taxa de novos eventos cardíacos e menor número de hospitalizações nos pacientes treinados.
Enfim, não espere ser acometido por um evento cardiovascular, que muitas das vezes pode ser fatal. O exercício físico é uma ferramenta muito mais barata que qualquer outro tipo de terapia preventiva e de quebra, pode se tornar um hábito de vida muito prazeroso. Cuide bem do seu coração!!!
Referências:
BELARDINELLI, R. et al. Exercise training intervention after coronary angioplasty: The ETICA trial. Journal of the American College of Cardiology, v. 37, n. 7, p. 1891–1900, 1 jun. 2001.
CARVALHO, T. DE et al. Diretriz Brasileira de Reabilitação Cardiovascular – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 114, n. 5, p. 943–987, 2020.
HAYKOWSKY, M. et al. A Meta-analysis of the effects of Exercise Training on Left Ventricular Remodeling Following Myocardial Infarction: Start early and go longer for greatest exercise benefits on remodeling. Trials, v. 12, p. 92, 4 abr. 2011.
OPAS. Doenças Cardiovasculares. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/topicos/doencas-cardiovasculares>. Acesso em: 14 out. 2021.
RIBEIRO, P. R. Q.; OLIVEIRA, D. M. DE. Reabilitação cardiovascular, doença arterial coronariana e infarto agudo do miocárdio: efeitos do exercício físico. Revista digital [internet], v. 15, n. 1, p. 152, 2011.
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Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira