Profª Mestranda Thayna Fabiana Ribeiro
Pesquisadora do Laboratório do Movimento Humano
20.12.2021Antes de iniciarmos, é preciso deixar claro que o exercício físico não consegue alterar a sequência do nosso DNA, ou seja, o nosso código genético. Entretanto, é consensual que os genes não são os únicos responsáveis por repassar características hereditárias e biológicas de uma geração para a próxima. Assim, o indivíduo que faz escolhas mais saudáveis hoje em seus hábitos e estilo de vida, proporciona a sua geração de descendentes, uma condição favorável à saúde.
Uma área que ganhou grande destaque na comunidade científica por ser um conjunto de mecanismos complementares ao funcionamento dos genes. Pense em uma orquestra sinfônica. A epigenética seria o maestro que, com apenas um gesto da batuta, transmite a mensagem de acalmar as cordas enquanto aciona os instrumentos de sopro. A sinfonia como um todo permanece intacta, mas o som muda completamente.
Mas o que isso quer dizer?
Fatores ambientais, incluindo nutrição, stress psicossocial, toxinas, perturbações endócrinas, uso de tabaco ou de álcool, e alterações na microbiota, podem afetar enquadramentos epigenéticos individuais e, portanto, uma cascata de reações moleculares, de maneiras que diferem entre os sexos. Entende-se então que, os genes não são estáticos. Eles são ativados ou desativados, dependendo dos sinais bioquímicos que recebem de outras partes do corpo. A expressão ou a inibição de genes pode ser determinada por alterações bioquímicas específicas no material genético, como metilação de DNA, acetilação, influência de microRNAs entre outros. Cada uma dessas alterações pode induzir importantes modificações no organismo do indivíduo.
Neste sentido, a nossa dieta, nosso convívio social, nossa interação com o meio em que vivemos e também nosso estilo de vida (sedentário ou fisicamente ativo), está por trás dessas alterações epigenéticas, modulando e influenciando dinâmicas moleculares. Dessa forma, a literatura científica demonstra que o exercício físico realizado de forma aguda ou crônica pode influenciar de maneira positiva a expressão gênica, através de mecanismos epigenéticos.
Pesquisadores de todo o mundo e entidades governamentais de saúde preconizam a importância da prática crônica de exercícios físicos, na proteção de doenças cardiometabólicas, como o diabetes, a hipertensão e demais eventos cardiovasculares. Isto posto, um estudo buscou investigar as alterações epigenéticas do exercício cardiorrespiratório quando relacionado à pressão arterial (PA) e, como conclusão, apresentou que a metilação do DNA também tem um papel na redução da PA dos participantes de diferentes idades. Os autores adotaram 12 semanas de treinamento com prática semanal de 4 vezes e duração de 40 minutos.
Como esperado, o exercício aeróbio apresentou diversos benefícios físicos e bioquímicos, reduzindo os níveis de colesterol LDL e a pressão arterial, por exemplo. No sentindo biomolecular, os níveis apresentados de metilação demonstraram associações benéficas com os valores da PA dos participantes, de forma que os autores vincularam o mecanismo de metilação com o treinamento físico e as inúmeras alterações do desempenho cardiovascular.
Portanto, após repetidas sessões de exercício físico adaptações metabólicas, aprimoram respostas biomoleculares, ou seja, mudanças benéficas regulares ocorrem dentro dos tecidos musculares e nas células de gordura, com a adoção de exercícios físicos. Assim sendo, o exercício agudo leva a mudanças transitórias na metilação do DNA no músculo esquelético e altera a metilação de genes responsivos ao exercício de maneira dose-dependente.
A epigenética fornece um ponto de vantagem para a compreensão dos paradigmas de controle da transcrição e alterações do DNA. Em particular, essas vias podem representar o substrato molecular para a modulação da susceptibilidade à doenças cardiovasculares. Entretanto, a relação dos exercícios físicos com a epigenética e o quais os reais efeitos e papéis funcionais de cada um, ainda necessitam de mais investigações, pois se trata-se de um novo campo da ciência que está conquistando espaço em grupos de pesquisa e revistas científicas. O importante é saber que sim, nós possuímos a liberdade de escolher hábitos de vida mais saudáveis, e estes podem sim modular os processos fisiológicos e moleculares do nosso organismo, bem como, quais interações faremos com o ambiente e, dessa forma, guiar quais marcas epigenéticas vamos proporcionar ao nosso DNA.
Por conseguinte, demais estudos que venham responder estas questões e preencher essas lacunas na literatura acerca da epigenética se fazem necessários, uma vez que, podem revelar impactos dos nossos hábitos que ainda não conhecemos, permitindo que façamos escolhas com sabedoria e sempre com o pensamento na sua vida ao longo prazo, afinal, a realização de atividades físicas durante a vida, é uma verdadeira fonte de juventude e saúde!
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Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira