Prof. Me. Wantuil Ferreira de Paula Filho & Prof. Me. Bruno Nascimento-Carvalho
Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano
05.07.2021Em um comunicado feito à imprensa no dia 27 de maio de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma existir mais de 420 milhões de pessoas no mundo com Diabetes. Essa doença está entre as 10 principais causas de mortalidade na população brasileira e americana (AHMAD et al., 2021). A cada dois brasileiros, um possui Diabetes (OMS, 2021) Desta população, boa parte ainda não sabe da doença, ou seja, há indivíduos diabéticos que não estão realizando as medidas necessárias para o seu tratamento.
Segundo a Associação Americana de Diabetes, a doença é composta por um grupo de doenças metabólicas determinadas por hiperglicemia resistente (excesso de açúcar no sangue), resultante de defeitos na secreção de insulina, e/ou na ação ineficiente da insulina (hormônio que contribui para retirada de glicose do sangue). Nesta coluna abordaremos os dois tipos de Diabetes mais comuns (a Diabetes Tipo 1 e a Diabetes Tipo 2) e como a prática de atividade física pode auxiliar no controle da doença.
A Diabetes Tipo 1 se caracteriza pela destruição das células β-pancreáticas que são responsáveis pela produção de insulina. Podendo ter causa autoimune, ou seja, o próprio corpo ataca as células responsáveis pela produção de insulina (tipo 1A), ou idiopática, onde a causa não é conhecida (tipo 1B). Esse tipo de Diabetes acomete entre 5 e 10% dos diabéticos.
Simplificando o processo: na Diabetes Tipo 1 no corpo passa a atacar e destruir as células responsáveis pela produção da insulina, por acreditar serem prejudiciais, por isso o nome de doença autoimune. Após esse processo, a produção de insulina passa ocorre de forma inadequada.
A insulina é um hormônio que atua no controle de glicose no sangue. Quando nos alimentamos, a glicose sanguínea aumenta (em níveis acima dos normais), então o pâncreas começa a produzir insulina e liberá-la para retirar essa glicose excessiva do sangue e levar às células de outros órgãos, como o músculo. Quando estamos muito tempo sem nos alimentar, a produção de insulina diminui. Os níveis de glicose sanguínea em indivíduos saudáveis variam na faixa entre 70 e 100 miligramas por decilitro (mg/dL). A tabela abaixo apresenta os valores preditores de Diabetes.
Fonte: Tabela do Livro Cardiologia do Exercício - do Atleta ao Cardiopata. Cap. Diabetes e exercício físico (edição 3 - página 473).
O que ocorre com o diabético tipo 1 é justamente essa ausência ou má produção da insulina, tornando a pessoa insulinodependente. Esse tipo de Diabetes é geralmente descoberto na infância.
A Diabetes Tipo 2 acomete entre 90-95% das pessoas com Diabetes, essa disfunção é conhecida também como Diabetes não insulinodependente. Ao contrário da Diabetes tipo 1, as células β pancreáticas não são destruídas inicialmente, porém, os indivíduos desenvolvem resistência a ação da insulina.
A obesidade é a causa mais comum de resistência à insulina. O desbalanço no consumo alimentar sobrecarrega o pâncreas devido o constante aumento de glicose no sangue, fazendo que o órgão produza mais e mais insulina. Esse processo repetida vezes torna o organismo resistente a ação da insulina. Então, na Diabetes tipo 2 o problema não está na produção da insulina, mas na sua interação com a glicose no sangue.
Simplificando o processo: em relação a obesidade a capacidade de funcionamento do pâncreas é excedida, e temos uma produção acima do normal de insulina, que em um segundo momento inviabiliza sua função. Exemplo: É igual aquele amigo chato que todo mundo tem e que sempre pede um favor... No início, quando os pedidos de favores são moderados, você até atende, mas quando esse colega começa a pedir demais, você acaba deixando-o de lado e não realizando o favor pedido por ele.
O nível de glicose sanguínea alterada em qualquer indivíduo pode trazer prejuízos à saúde. Por isso a insulina é tão importante para o bem-estar do organismo. E como resolvemos o problema da falta de insulina no diabético tipo 1 e a resistência insulínica no diabético tipo 2?
No diabético tipo 1, a solução do problema é a aplicação de insulina. Isso mesmo que você leu. O diabético tipo 1 recebe insulina de forma exógena através de aplicações, geralmente, no abdômen. Vale lembrar, que esse tipo de Diabetes não tem cura, mas um estilo de vida ativo pode trazer uma série de benefícios funcionais à vida do indivíduo.
No diabético tipo 2 ocorre a resistência à insulina, se descoberta precocemente os malefícios dessa doença podem ser minimizados com estilo de vida ativo, reeducação alimentar e perda de peso. Caso a doença seja descoberta tardiamente, o mais adequado é que haja um acompanhamento multidisciplinar, com a prescrição dos medicamentos adequados para reajuste da ação da insulina associado a um estilo de vida ativo.
A prática regular de atividade física é essencial na adesão de hábitos mais saudáveis e no controle do Diabetes. Conforme as “Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica: Diabetes Mellitus”, publicado pelo Ministério da Saúde, tanto o exercício físico quanto a atividade física aumentam a captação de glicose pelo músculo por mecanismos independentes daqueles mediados por insulina. Como o treinamento físico também apresenta capacidade de melhorar a ação da insulina.
Além de melhorar o controle glicêmico, um estilo de vida ativo contribui para a perda de peso, diminui os fatores de risco para doença coronariana, melhora o bem-estar, além de prevenir Diabetes Mellitus Tipo 2 em indivíduos de alto risco.
O estudo Action for Health in Diabetes verificou o efeito da atividade física e dieta nos desfechos cardiovasculares em pessoas portadoras de Diabetes Tipo II com sobrepeso ou obesidade. Depois de quatro anos, as pessoas que praticaram mudanças intensivas no estilo de vida obtiveram benefícios em relação à composição corporal, na capacidade funcional, no controle pressórico e no aumento do HDL-colesterol e no controle glicêmico (WING, 2010).
O ministério da saúde recomenda tanto para o diabético 1 e 2 que a atividade física seja iniciada gradualmente, como caminhadas rápidas com duração entre 5 e 10 minutos em terreno plano, progredindo para 30 a 60 minutos por dia, por pelo menos 5 dias da semana. A intensidade deve ser progressiva, passando de caminhadas para corridas leves/moderadas.
A prática de exercício físico para o diabético apresenta algumas particularidades, veja:
Exercícios aeróbicos ou de resistência:
Para que o exercício aeróbico resulte em melhorias para o controle glicêmico, diminua ou mantenha o peso e reduza riscos de doenças cardiovasculares, deve ser realizado de forma habitual, com um total de 150 minutos/semana.
Exercícios de força ou resistidos (musculação):
Abranger a maior pluralidade de grupos musculares possíveis melhora a circulação geral e periférica, e a captação de insulina.
Vimos como acontece e porquê acontece a Diabetes Tipo I e II, e vimos também que dieta, atividade física e o exercício físico podem auxiliar no controle glicêmico. Porém, a prática de exercício físico em diabéticos necessita de alguns cuidados.
Deve-se orientar a pessoa a não coincidir o pico de ação da insulina com o horário da atividade, diminuindo o risco de hipoglicemia;
Atentar-se a sinais de alerta para sintomas de hipoglicemia durante e após o exercício;
Deve-se orientar a pessoa a carregar consigo uma fonte de glicose rápida para ser utilizada em eventual hipoglicemia (ex.: suco adoçado e balas).
É recomendado monitorar o nível de glicemia até 48 horas após o esforço em pessoas com Diabetes Tipo I e II que utilizam grandes doses de insulina e não demostram produção endógena, devido à captação de glicose aumentada pós-exercício.
A Diabetes não tem cura e sempre será necessário o uso de remédios para o seu controle. Porém, o exercício físico é visto como uma importante intervenção para o bem-estar diário do diabético.
Referências consultadas:
AHMAD, Farida B.; CISEWSKI, Jodi A.; MINIÑO, Arialdi; ANDERSON, Robert N. Provisional Mortality Data — United States, 2020. MMWR Surveillance Summaries, [S. l.], v. 70, n. 14, p. 519–522, 2021. DOI: 10.15585/mmwr.mm7014e1.
AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care, [S. l.], v. 33, n. Supplement_1, p. S62–S69, 2010. DOI: 10.2337/dc10-S062. Disponível em: http://care.diabetesjournals.org/cgi/doi/10.2337/dc10-S062.
IRIGOYEN, Maria Cláudia et al. Exercício físico no diabetes melito associado à hipertensão arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens vol, v. 10, p. 2, 2003.
NEGRÃO, Carlos Eduardo et al. Cardiologia do exercício: do atleta ao cardiopata [4. Manole, 2019.
OMS. Nova Resolução da WHA para trazer o impulso necessário para os esforços de prevenção e controle do diabetes. 2021. Disponível em: https://www.who.int/news/item/27-05-2021-new-wha-resolution-to-bring-much-needed-boost-to-diabetes-prevention-and-control-efforts. Acesso em: 29 jun. 2021.
WING, Rena R. Long-term Effects of a Lifestyle Intervention on Weight and Cardiovascular Risk Factors in Individuals With Type 2 Diabetes Mellitus. Archives of Internal Medicine, [S. l.], v. 170, n. 17, 2010. DOI: 10.1001/archinternmed.2010.334. Disponível em: http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?doi=10.1001/archinternmed.2010.334.
Imagens fornecidas pelo Laboratório do Movimento Humano
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Revisão ortográfica: Anne Preste