Prof. Me. Adriano dos Santos & Prof. Me. Nicolas da Costa-Santos
Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano
07.06.2021O Laboratório do Movimento Humano aborda, nesta matéria, a atividade física e exercício físico para um estilo de vida mais saudável. Diferente do muito que se aborda sobre exercício por aí afora, aqui será tratado na sua efetividade à luz da Ciência.
Seguem alguns dados epidemiológicos muito conhecidos dos últimos meses:
30 de janeiro de 2020: A Organização Mundial da Saúde (OMS) declara a COVID-19 como uma emergência de saúde pública requerendo preocupação internacional;
11 de março de 2020: O diretor geral da OMS “Tedros Adhanom” declara a COVID-19 como uma condição pandêmica;
14 de março de 2020: Iniciam-se as medidas preventivas no Brasil a fim de conter a contaminação pela nova pandemia de COVID-19;
Até o dia 2 de junho de 2021, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, mais de 171 milhões de pessoas já foram contaminadas pelo vírus e dessas, 3.567.030 pessoas morreram em decorrência da contaminação pelo vírus. No Brasil, a taxa de mortalidade está próxima de 500 mil pessoas;
Todos esses dados epidemiológicos são impactantes, mas qual a relação entre COVID-19 e o sedentarismo?
Durante a COVID-19, o organismo é acometido por uma inflamação generalizada e, na tentativa de controlar esse processo inflamatório, o sistema imunológico, através da imunidade inata, produz de forma excessiva, diversos mediadores inflamatórios (citocinas inflamatórias) nos locais da inflamação. Essa tempestade de citocinas pela qual o organismo passa a ser acometido, pode levar a anormalidades como a Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo e em alguns casos as complicações da COVID-19 podem ser fatais.A contaminação pelo vírus SARS-CoV-2 pode ocorrer com qualquer pessoa, porém nem todas desenvolvem sintomas graves da doença. Esse é um fator que pesquisadores têm se debruçado para obter melhor compreensão sobre o vírus e, por consequência, propor melhores formas de tratamento aos pacientes.
Sabe-se que a obesidade tem sido apresentada como um fator de risco independente para o agravamento da COVID-19, não só pelo fato de ser tratar de uma condição inflamatória crônica de baixo grau, mas pelo fato dos depósitos de gordura, ectópicas (deposição de gordura em outros órgãos que não seja o adiposo) e visceral (gordura em volta dos órgãos viscerais, incluindo o tecido adiposo) sendo condições que agravam quadros clínicos inflamatórios.
Outras condições além da obesidade, podem agravar os sintomas da COVID-19, como algumas doenças crônicas (hipertensão, diabetes, câncer, aids, doenças reumáticas), já que em todas essas condições o sistema imunológico está prejudicado. De forma geral, indivíduos do sexo masculino com comorbidade associada e com idade mais avançada parecem ser os mais suscetíveis ao agravamento da doença. Embora crianças sejam em sua maioria assintomáticas, um estudo de revisão sistemática apontou que crianças com alguma comorbidade ou obesas podem apresentar sintomas mais graves da COVID-19.
Pensando nisso, surge a dúvida: ser fisicamente ativo poderia atuar como fator protetivo contra a COVID-19? Infelizmente, não há evidências científicas de que o exercício físico proteja contra a COVID-19 diretamente. Entretanto, o exercício físico é um importante aliado na prevenção de comorbidades ligadas ao agravamento da COVID-19.
Uma condição que pode ligar ao melhor prognóstico de pessoas fisicamente ativas à sintomas mais brandos da COVID-19 é a expressão de um receptor conhecido como PPARα (proteína que regulam o equilíbrio metabólico de glicose, lipídeos e inflamação) que tem se mostrado reduzido na COVID-19, afetando o metabolismo de células epiteliais do pulmão e com a prática de exercício físico esse receptor é mais expresso.
O exercício aeróbio de intensidade moderada, realizado de forma crônica, aumenta a expressão de células do sistema imunológico. Em contrapartida, o excesso de exercício, ou em intensidade muito elevadas parece não beneficiar o sistema imunológico.
Sabendo de tudo isso, não seria uma surpresa se o exercício físico servisse como fator preventivo para a COVID-19, ou até mesmo terapêutico (realizado em pacientes que se recuperaram da COVID-19) para minimizar suas sequelas, principalmente para aqueles que se recuperam de formas mais graves da doença, já que é bem estabelecido que em outras doenças como a hipertensão arterial, câncer e a aids, o exercício é utilizado como conduta auxiliar na terapia dessas doenças.
Outro fator a ser destacado é que com o processo de imunização das vacinas contra o vírus da influenza, pessoas que se exercitam apresentam uma maior produção de anticorpos que as pessoas sedentárias.
Então, ter um estilo de vida mais ativo, ter um corpo mais fortalecido, aumentando a massa muscular e reduzindo os níveis de gordura corporal pode ser considerada uma estratégia importante para esse momento da história que estamos vivendo e para todos os outros que estão por vir.
Referências consultadas:
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Imagem fornecida pelo Laboratório do Movimento Humano
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Revisão ortográfica: Anne Preste