A pandemia do sedentarismo


A tecnologia atual tornou o dia-a-dia rápido e prático. Porém, o resultado desse avanço tecnológico também contribuiu negativamente para a população em geral, tornando-a mais sedentária.


Prof. Doutorando Adriano dos Santos

Prof. Me. Helloã Feliciano de Sales Martins dos Santos

Prof. Me. Ney Roberto de Jesus

Pesquisadores do Laboratório do Movimento Humano

26.07.2021

Vimos nas matérias anteriores a importância que devemos ter com o nosso corpo. Dito isto, vem à tona assuntos diversificados e de grande relevância sobre as relações entre o organismo, fatores de riscos e comportamento sedentário.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) cerca de um em cada quatro (27,5%) adultos e mais de três quartos (81%) dos adolescentes não atendem às recomendações para exercícios aeróbicos e a previsão é que esse número aumente ao longo dos anos. Estamos falando do sedentarismo.

O avanço da tecnologia contribuiu para simplificar a nossa rotina. Não precisamos nos locomover tanto para realizar diversas atividades. Exemplo: o homem não precisa mais caçar para obter seu alimento, e aos poucos deixa de ser necessário ir ao supermercado, pode-se fazer isso com uso de um smartphone. A tecnologia tornou o dia-a-dia rápido e prático, porém o resultado desse avanço tecnológico também contribuiu negativamente para a população em geral, tornando-a mais sedentária.

O sedentarismo está aumentando ano após ano, diversos estudos são realizados para demonstrar a importância de ter bons hábitos alimentares e praticar exercícios físicos, e todos sabemos disso, mas qual a razão de não estarmos colocando em prática? É algo muito complexo e que deve ser observado de maneira ampla pois são diversos os motivos que tornam o ser humano sedentário, mesmo sabendo da importância da prática de exercícios.

Um dos maiores motivos é a produtividade, praticar exercícios e ter bons hábitos alimentares demanda tempo e, tempo é algo escasso no mundo atual em que as demandas são cada vez maiores e nos desdobramos para conseguir cumprir todas, logo qual é a menor das prioridades na rotina e que pode ser descartada e liberar mais tempo na agenda? O estilo de vida mais ativo.

Praticar exercícios físicos demanda tempo e em uma sociedade cada vez mais imediatista, os bons hábitos de vida vão ficando em segundo plano. O resultado de tudo isso é uma sociedade doente e frágil. Você leitor, se algum dia praticou exercício físico, deve ter notado como isto pode beneficiar sua saúde. Até mesmo um resfriado se torna menos frequente.

O reflexo do estilo de vida sedentário é o oposto. Embora doenças como hipertensão, diabetes, câncer, entre outras doenças crônicas não-transmissíveis tenham um potencial genético para o seu desenvolvimento em alguns casos, é o estilo de vida sedentário associado à má alimentação a maior causa de desenvolvimento dessas doenças.

O resultado de tudo isso é o aumento da mortalidade por doenças cardiovasculares. Não é de hoje que estudos associando comportamento sedentário e risco de mortalidade são desenvolvidos. Em 1954 Morris e Raffle estudaram a relação entre taxa de morbidade e mortalidade entre motoristas de ônibus (sedentários) e cobradores (ativos) em uma companhia de ônibus inglesa. Nessa época os cobradores dos ônibus na Inglaterra se deslocavam dentro do transporte para fazer a cobrança da passagem, portanto, realizavam mais atividade física do que os motoristas. O resultado desse estudo mostrou que os motoristas sofriam mais com doenças cardiovasculares e também apresentavam maior taxa de mortalidade do que os cobradores.

Recentemente, estudo publicado por um grupo de pesquisa brasileiro investigou a relação do nível de atividade física e hospitalização por COVID-19, e o resultado mostrou que seguir as recomendações de atividade física (150 minutos de atividade moderada ou 75 de atividade vigorosa por semana) estavam relacionadas à diminuição de 34,3% na taxa de hospitalizações.

A pergunta que fica é: será que se tivéssemos melhores políticas públicas, estimulando/facilitando a prática de exercícios para a população, a taxa de mortalidade pela COVID-19 seria menor? Não há resposta concreta para essa pergunta, mas sabemos que o estilo de vida mais ativo é de suma importância para uma sociedade com maior qualidade de vida.

O reflexo para economia pelo sedentarismo também é catastrófico. Estima-se que os custos com a inatividade física, somados às principais doenças crônicas não-transmissíveis tenham superado 53 bilhões de dólares no mundo todo em 2013.

Concluindo, tratar a prática do exercício físico como uma conduta cotidiana secundária e não primordial, pode resultar no adoecimento cada vez maior da população em geral.


Bibliografia consultada:

  • CREF/SP. Recomendações para prática de atividade física e redução do comportamento sedentário, [s.d.].

  • DE SOUZA, F. R. et al. Association of physical activity levels and the prevalence of COVID-19-associated hospitalization. Journal of Science and Medicine in Sport, p. 1–7, 2021.

  • DING, D. et al. The economic burden of physical inactivity: a global analysis of major non-communicable diseases. The Lancet, v. 388, n. 10051, p. 1311–1324, 2016.

  • GUALANO, B.; TINUCCI, T. Sedentarismo, exercício físico e doenças crônicas. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, v. 25, n. spe, p. 37–43, dez. 2011.

  • LEIVA, A. M. et al. El sedentarismo se asocia a un incremento de factores de riesgo cardiovascular y metabólicos independiente de los niveles de actividad física. Revista Medica de Chile, v. 145, n. 4, p. 458–467, 2017.

  • MAIA, F. DE O. M. et al. Risk factors for mortality among elderly people. Revista de Saude Publica, v. 40, n. 6, p. 1049–1056, 2006.

  • ZILBERMAN, J. M. Menopausia: hipertension arterial y enfermedad vascular Hipertension y Riesgo Vascular, Elsevier Doyma, , 1 abr. 2018.

Imagem fornecida pelo Laboratório do Movimento Humano

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Revisão ortográfica: Sonia Okita


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