Entendendo o conceito de cuidados paliativos, seus princípios éticos e humanitários

por Vera Bifulco

01.10.2019

O século XX testemunhou o extraordinário crescimento das populações idosas em todo mundo e, aparentemente, esta tendência vai prosseguir no século XXI.

Em contra partida, o processo de morrer está isolado da vida social normal numa medida maior que antigamente. Como resultado deste isolamento, a experiência de envelhecer e morrer, que nas sociedades antigas era organizada e vivida como tradição e entendida como fator natural, veio sofrendo desvalorização, indiferença e retrocesso nas sociedades que se sucederam.

Com o avanço da medicina, muitas doenças passaram a ter opções de tratamento que buscam melhora de qualidade de vida do paciente e sua família. Família que possui duplo papel, cuidadora e merecedora de cuidados, eu completaria que a família é nosso paciente oculto.

Nesse contexto, o câncer e outras patologias graves passaram a ser consideradas doenças crônicas. Com a fase de envelhecimento mais longa, as enfermidades decorrentes deste prolongamento tornam-se uma realidade na sociedade moderna, em que todos os meios da nova medicina, sejam eles diagnósticos por imagem ou as mais novas drogas existentes no mercado farmacológico, podem retardar, mas não garantir, uma longevidade isenta de decrepitude. Os últimos trabalhos científicos que versam sobre o tema mostram uma preocupação emergente e urgente: investir em Cuidados Paliativos.

Define-se Cuidado Paliativo como uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares diante de doenças que ameaçam a continuidade da vida, com prevenção e alivio do sofrimento. O foco de atenção não é a doença a ser curada, mas o doente, ativo. O objetivo é conseguir que o enfermo tenha direito à informação e alcancem autonomia plena para decisões a respeito de seu tratamento, salvo em doenças que comprometem as funções cognitivas, em que a família, conjuntamente com a equipe de saúde que atende o paciente, promoverá as decisões.

Na fase final da vida, entendida como aquela em que o processo de morte e morrer se desencadeia de forma irreversível, os Cuidados Paliativos se tornam indispensáveis e complexos o suficiente para dar uma atenção específica e contínua ao doente e a sua família, prevenindo desta forma uma morte caótica somada a grande sofrimento.

Os Cuidados Paliativos exercidos por uma equipe multiprofissional demonstram haver recursos para proporcionar ao doente fora de possibilidades terapêuticas de cura, uma sobrevida sem dor, sem abandono, adaptando funcionalmente o doente dentro das limitações de sua doença e, principalmente, confortando-o, acarinhando-o e dando a ele possibilidades de uma vida digna até quando houver vida.