VIVER BEM ‣ Pandemia

Foto: FG Trade - Getty Images

Se a legislação trabalhista evoluiu, no que diz respeito às trabalhadoras domésticas brasileiras, a crise econômica dos últimos anos, potencializada pela pandemia da Covid-19, tornou muito mais difícil que as mudanças fossem aplicadas na prática. Com mais de 50 anos de tradição, Veja®, marca da Reckitt Hygiene Comercial, realizou uma pesquisa com trabalhadoras domésticas de todo o Brasil com o objetivo de entender os principais desafios desta categoria.

Para Lívia Berrocal, gerente de propósito da Reckitt Hygiene Comercial, chamar a atenção para este tema traz uma reflexão tanto para as trabalhadoras domésticas, quanto para quem as emprega. "É uma maneira importante de trazer à tona, para a sociedade, a realidade que a classe enfrenta diariamente e, consequentemente, debater a importância da valorização das profissionais e do cumprimento do que é direito delas, ao realizarem a atividade profissional", explica. 

O levantamento foi realizado pelo Plano CDE, empresa de pesquisa e avaliação de impacto especializada nas famílias CDE no Brasil, que contou com a participação de 522 trabalhadoras domésticas de todo o território nacional, entre os meses de julho e agosto deste ano. O resultado apontou que a pandemia tornou este trabalho muito mais competitivo, o que deixa mais evidente a disparidade de poder de negociação entre a trabalhadora e o empregador.

De acordo com o estudo, 41% das diaristas e 42% das mensalistas são trabalhadoras domésticas há menos de um ano, além de 25% das diaristas e 28% das mensalistas atuarem na área de um a três anos, período que também comporta parte da pandemia, sendo que 23% das entrevistadas tinham outro trabalho antes do atual, e, dessas, 70% não desempenhavam trabalhos domésticos. 

"O empregador também teve aumento nos seus custos, redução salarial ou até demissão. Com isso, o orçamento diminuiu e, consequentemente, aconteceram cortes de custos que acabaram impactando na demissão das trabalhadoras domésticas ou mesmo em mudanças como redução salarial ou aumento de horas de trabalho de forma não remunerada", avalia Livia. 

A pesquisa corrobora com a análise de Lívia, mostrando que, durante a pandemia, o número de trabalhadoras demitidas foi alto (27% entre as diaristas e 18% entre as mensalistas), bem como o das pessoas que tiveram redução salarial (20% e 25%). Além disso, o estudo apresenta que a maioria das trabalhadoras já tiveram o pagamento do seu trabalho pechinchado pelo empregador (62% das diaristas e 58% das mensalistas) e realizaram atividades que não eram de sua responsabilidade (70% e 71%, respectivamente). 

Para Breno Barlach, do Plano CDE, "a falta de independência financeira, que ocorre tanto pelo baixo salário como pela alta variação da renda a cada mês, muitas vezes, faz com que estas profissionais se sujeitem a situações que não deveriam". A importância da renda para as profissionais também fica evidente no levantamento, uma vez que 58% das mensalistas e 67% das diaristas afirmam que sustentam filhos menores de idade, sendo que 51% das diaristas e 53% das mensalistas não estão em uma união estável. 

A gerente de propósito da Reckitt Hygiene Comercial afirma, ainda, que a construção de um ambiente trabalhista justo para as profissionais também depende de um esforço coletivo. "Nosso objetivo com essa pesquisa foi conhecer melhor o perfil das trabalhadoras domésticas, principalmente após o impacto da pandemia de Covid-19, além de mostrar para a sociedade como elas são desvalorizadas. Hoje nós analisamos dados e podemos perceber, ainda mais, a urgência de trazermos transformações no cotidiano, para que cada profissional da área tenha acesso ao básico, que é o respeito pelo seu trabalho e aos seus direitos trabalhistas, que são assegurados por lei", finaliza. 

Perfil da trabalhadora doméstica no Brasil 

A pesquisa realizada por Veja® também possibilitou a identificação do perfil desta profissional no País. De acordo com o levantamento, 69% das diaristas e 58% das mensalistas são negras, sendo que 41% entre as diaristas e 39% das mensalistas, afirmaram que não completaram o Ensino Médio. Ainda, mais da metade das trabalhadoras tem outra pessoa na família exercendo a profissão, conforme apontaram 53% das diaristas e 55% das mensalistas.