O drama dos restaurantes e entregadores de aplicativo durante a pandemia


Cerca de 50 mil estabelecimentos foram fechados por conta da crise econômica gerada pela pandemia. Além disso, os entregadores de aplicativo lutam contra a precarização do seu trabalho


Isabela Alves

19.04.2021
Foto: Julia Thompson/Renato Maretti

Por conta do isolamento social provocado pela pandemia do coronavírus, mais de 50 mil bares e restaurantes do Estado de São Paulo declararam falência durante os seis primeiros meses de 2020. A informação foi divulgada pela Associação Nacional de Bares e Restaurantes (Abrasel).

Outro estudo, este feito pela ANR, apontou que cerca de 600 mil pessoas que trabalham em bares e restaurantes foram demitidas só no Estado de São Paulo. No Brasil, o número passa de 1 milhão de pessoas.

Jacinta Lúcia de Oliveira Cardoso tem um restaurante em Socorro, bairro da Zona Sul de São Paulo, e trabalha neste ramo há 19 anos. Com o início da pandemia, entre março e abril, o estabelecimento ficou fechado durante 30 dias.

“Ficamos sem vender nada e o mais difícil é que as contas continuam chegando. A gente paga INSS, todos os impostos e aluguel. Além da preocupação, porque não estávamos vendendo, tivemos que procurar por alternativas para não fechar”.

Agora, seu restaurante só vende para viagem, mas mesmo assim seu negócio passou por dificuldades, já que as vendas diminuíram em 60%. Durante a quarentena, as regras para frequentar o local também mudaram: não é mais permitida a entrada no restaurante por conta da fase vermelha.

“Se a pessoa entra no restaurante, ela tem que tirar a máscara para comer e depois quer usar o banheiro, então é complicado”. Os cuidados com os funcionários em relação à higiene também foram redobrados, pois, a equipe foi reduzida e também foi feito um investimento para a compra de álcool e luvas para todos.

Jacinta afirma que está trabalhando apenas para pagar as contas e para manter o seu restaurante aberto enquanto esse momento de crise não passa. Antes da pandemia, o estabelecimento funcionava das 6h da manhã, até às 6h da noite, e agora o restaurante abre de manhã e fecha às 15h.

Com os estabelecimentos fechados, a única solução encontrada para muitos proprietários, para evitar a falência, foi migrar para os serviços de delivery ou retirada no balcão. Essa medida foi facilitada graças aos aplicativos de entrega, que tiveram um crescimento significativo neste período.

De acordo com um estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o número de entregadores e motoboys aumentou 3,5% na pandemia, chegando a cerca de 950 mil em todo o país.

Dados do aplicativo 99 Food também revelam que no país, a alta foi de 910% no número de pedidos. Entretanto, em relação aos entregadores, muitos afirmam que a pandemia precarizou ainda mais o seu trabalho.

Com uma rotina exaustiva, os entregadores de aplicativos passam o dia rodando a cidade sem ter uma garantia de salário, alimentação e direitos. Com isso, movimentos sociais passaram a reivindicar seus direitos. Um dos que ganharam maior visibilidade no país foi o Movimento dos Entregadores Antifascistas.

“O movimento surge para que os entregadores tivessem um olhar mais crítico sobre o processo de uberização no país para lutar por melhores condições para a nossa categoria. Somos contra a exploração dos patrões e tudo o que eles usam para tirar o que é nosso por direito”, afirma o entregador de aplicativo Matheus Souza, de 21 anos.

Segundo ele, além da precarização, eles têm que lidar com o desvínculo da empresa com os trabalhadores. Assim, os trabalhadores custeiam o seu próprio meio de produção e suas despesas com saúde, e dessa maneira o lucro dos patrões continua aumentando enquanto eles trabalham de maneira precária.

“Estamos mais sujeitos a acidentes também, pois, as pessoas obrigadas a se sujeitar a condições cada vez mais perigosas para fazer mais dinheiro”, diz.

Matheus afirma que o movimento ainda não teve nenhuma conquista de direitos, mas eles continuaram fazendo greves e irão aumentar os coletivos de entregadores em todo o país para que o movimento crie mais conscientização em toda a população brasileira.


Revisão ortográfica: Anne Preste


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