Como fica o desenvolvimento da primeira infância na pandemia?


Dados do Ministério da Saúde alertam que crianças em casa significa maior risco de ser vítima de violência, negligência e falta de estímulos positivos, necessários ao desenvolvimento.


Matheus Torres

29.06.2021
Fonte: Weekend Images Inc./Getty Images

Com a pandemia, a ideia de produtividade ocupou os indivíduos e as famílias, o que por muitas vezes gerou cobrança e sofrimento causado nas crianças.

A oportunidade e prazer de gerar uma nova vida é algo mágico e inesquecível na vida de qualquer mãe, seja qual for o sexo do bebê, o amor e cuidado entre mãe e criança é único, especial e primoroso. Cuidado esse que teve de ser dobrado desde o início da pandemia da covid-19 que afetou a vida de cerca de 180 milhões de pessoas no mundo.

Com as medidas restritivas de isolamento social, exigidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o mundo passou a se adaptar a um cotidiano diferente, mais conhecido popularmente como o “novo normal”. Mas isso não foi nada fácil. Com o acúmulo de preocupação e estresse coletivo gerado pelo vírus, muitas pessoas estão expostas a desencadear alguns transtornos socioemocionais, tais como: ansiedade, depressão, síndrome do pânico, fobias, entre outros.

Segundo levantamento realizado com 320 crianças na cidade chinesa de Shaanxi, 36% delas sofrem com a dependência excessiva dos pais, 32% são desatentas, 29% possuem um alto índice de preocupação e 21% possuem problemas no sono. Em 2020, o Disque 100, serviço do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, registrou 95.247 denúncias contra 86.800 em 2019, quando não havia pandemia. Para a Sociedade Brasileira de Pediatria, em pesquisa divulgada em abril, aponta que 71% dos registros são decorrentes de violência física, 27% de violência psicológica e 3% são episódios de tortura.

Para a psicopedagoga e professora de educação infantil Tábata Reina, o isolamento social é benéfico ao combate do vírus da covid-19, porém, embora as medidas sejam necessárias, são prejudiciais e podem causar atrasos no desenvolvimento geral das crianças.

“A primeira infância é muito importante por ser um período em que a criança desenvolve toda estrutura e funcionamento cerebral, além de desenvolver o funcionamento físico, cognitivo e socioemocional, por isso é caracterizada por uma etapa muito importante no desenvolvimento humano”, salientou Tábata.

A Unicef divulgou recentemente um vídeo explicativo onde relata um dos principais problemas que podem prejudicar e atrasar o desenvolvimento na primeira infância, com um aumento assustador de estresse tóxico entre as crianças, o recomendável é atender o mais rápido possível suas necessidades, além de interagir e fazer parte do cotidiano.

Márcia Regina é mãe de duas filhas, Thamy de 16 e Lavínia de 3 anos, e está grávida de oito meses do pequeno Matheus. Regina conta que no começo da pandemia viveu com bastante insegurança e incertezas, porém, conseguiu sobressair passando o tempo com as filhas. “No começo foi difícil porque a doença era nova e eu tinha muito medo delas (as filhas) pegarem esse vírus. Esse período foi bom para conviver mais com minhas filhas e poder cuidar delas, principalmente da caçula Lavínia.”

Ao ser perguntada sobre a expectativa da chegada do novo integrante da família, Márcia Regina se mostrou confiante pelo motivo de estar imunizada. “Eu já me vacinei, a expectativa é que ele nasça com a imunidade da vacina, mesmo assim, tomarei todos os cuidados até que essa pandemia passe.”, assegurou.

Márcia Regina no ensaio de fotos junto com suas duas filhas.Fonte: Arquivo Pessoal / Márcia Regina

Como criar uma rotina na pandemia?

Com base no artigo “A importância do estímulo no desenvolvimento da criança” de Neiva Cristiane Flores, o estímulo é de extrema importância para a primeira fase, podendo beneficiar muitos pontos na vida dos pequenos.

”Na educação, os estímulos, são os incentivos, os quais podem ser oferecidos por meio de jogos, brincadeiras, trocas de afeto, conversas, entre outras atividades que auxiliam no desenvolvimento da criança, os quais devem ser oferecidos às crianças desde a Educação Infantil até o Ensino Fundamental para favorecer sua aprendizagem.” (LÜCKE, 2019)

A psicopedagoga Tábata Reina adverte que a presença dos pais é imprescindível e que pode trazer “bons frutos” no futuro dos pequenos. “A presença dos pais é de extrema importância pois são eles a figura determinante durante todo o processo e na mediação da relação da criança com o mundo”. Mas para isso, a participação tem que ser feita da maneira correta, para não a prejudicar psicossocialmente. “Meu conselho para todos os pais é que se estruturem no amor, no respeito, na aceitação de não sermos perfeitos e não buscarmos perfeição em nossos filhos, o momento é de respeito, longe de qualquer cobrança.” – concluiu Tábata.

De acordo com pesquisas feitas e recomendadas pela FioCruz, para lidar com as crianças nessa situação pandêmica, alguns itens devem ser aplicados no dia a dia da criança. Listamos alguns pontos importantes para a criação de uma nova rotina para os pais e filhos nesta fase:

  • Procurar entender suas reações;

  • Estimular a realização de atividades físicas;

  • Preservar os horários de sono da criança parecidamente com a de sua rotina normal;

  • Dedicar tempo a fortalecer os laços do grupo familiar, com brincadeiras e outras atividades;

  • Delegar tarefas em casa, na medida das possibilidades da criança;

  • Possibilitar a manutenção dos laços de amizade da criança, ainda que virtualmente;

  • Elogiar a criança;

  • Aceitar eventuais recuos em etapas de desenvolvimento.

Algumas das habilidades que você pode estimular nas crianças com essa nova rotina, faz com que elas recuperem o conteúdo que seria aprendido presencialmente no ambiente escolar. Além de ser um ponto muito importante, você não precisa gastar dinheiro para fazer isso. Basta ter amor, afeto, ajudá-las em brincadeiras e interagir com um sorriso ou até mesmo com a simples ação de ouvir seu pequeno. Lembre-se, o que você planta hoje, você colhe amanhã.


Assista a entrevista com Mácia Regina:

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Revisão ortográfica: Anne Preste


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