As Vacinas no Mundo Real: a teoria e a prática dos resultados da vacinação em massa

Já está mais do que provado que a vacina é a melhor alternativa para a diminuição de casos e mortes e a volta à vida sem confinamento.


Sonia Okita

14.05.2021
Ilustração: Organização Mundial da Saúde

Novas variantes do Sars-Cov2 no Brasil

A lentidão na vacinação promove a continuidade do contágio e propicia o surgimento de novas mutações no vírus. No Brasil, a Rede Corona-Ômica.BR – MCTI, formada por vinte universidades e centros de pesquisa, identificou mais de dez novas variantes causadas por mutações no novo coronavírus desde novembro do ano passado. Segundo o coordenador da Rede, o virologista e pesquisador Fernando Spilki, a lentidão é motivo de apreensão da comunidade científica e a doença pode evoluir para casos mais graves, inclusive na população mais jovem, aumentando o número de casos e mortes nesta faixa de idade. Até o momento, a variante brasileira P1, identificada inicialmente em Manaus, é a de maior circulação, no entanto, foi detectada mais uma variante, a P1.2, identificada no Rio de Janeiro. Em meio à falta de vacinas disponíveis e ao não comparecimento de pessoas com mais de 80 anos para tomar a segunda dose, o cenário para o surgimento de novas variantes no Brasil é preocupante.

Infelizmente, mesmo diante deste cenário de falta dos imunizantes, governantes fazem o uso político da pandemia, disseminando preconceito e notícias fantasiosas contra países produtores de vacina e prescrevem medicamentos inadequados sem conhecimento científico. Além disso, aparecem em eventos públicos sem o devido cuidado em aglomeração sem máscara, numa afronta às medidas sanitárias recomendadas. A chegada ao Brasil em pequena quantidade da ultra moderna vacina americana Pfizer BioNTech causou grande procura, mas já se esgotou assim como a CoronaVac do Instituto Butantã e Oxford/AstraZeneca da Fiocruz por isso a vacinação está em ritmo lento aguardando a chegada de novas doses.

Numa tentativa de intimidar o governo federal pelo aumento exponencial de casos e mortes desde o início do ano, instalou-se recentemente uma Comissão Parlamentar de Inquérito, a CPI da Covid no Senado Federal, para apurar a atuação do governo na pandemia, considerando que é preocupante e a pior no mundo.

Com o atraso da vacina Oxford/AstraZeneca, a União Europeia faz acordo com Pfizer

Enquanto isso, a União Europeia fechou o maior acordo de fornecimento de vacinas com a fabricante americana Pfizer BioNTech, que prevê 1 bilhão e 800 milhões de doses para o período de 2021 e 2023. Num encontro com líderes europeus no Porto Social Summit 2021, em Portugal, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, fez o anúncio do acordo. O não cumprimento da entrega da vacina Oxford/AstraZeneca, fez a União Européia entrar com uma ação judicial contra a empresa.

Neste encontro, o bloco europeu manifestou solidariedade com a Índia, que sofre o pior momento da pandemia no país e se comprometeram a discutir mecanismos de ajuda e fornecimento de vacinas da União Europeia à Índia, com a perspectiva de que o pior ainda está por vir.

Para reacender o turismo, a União Europeia recomenda que turistas vacinados sejam aceitos contanto que comprovem a imunização pelas vacinas AstraZeneca, Jansen (Johnson&Johnson), Pfizer, ou Moderna. Com o intuito de movimentar o turismo interno, os Estados do bloco devem permitir a entrada dos que tomaram a segunda dose de uma destas vacinas há pelo menos 14 dias. Portanto, o Brasil está fora porque além da situação epidemiológica ser muito ruim, a vacina CoronaVac não é reconhecida (somente para quem tomou este imunizante).

A escalada da vacinação nos diversos países mostra uma grande distância da oferta para ricos e pobres.

O turismo das vacinas

Imagem: br.freepik.co

As agências de turismo em diversas partes do mundo descobriram um nicho de negócios lucrativo, mas acessível para poucos.

Segundo o site de notícias alemã Deutche Welle (DW), os super ricos voam para Dubai nos Emirados Árabes, para receberem as duas doses da vacina que custam 10 mil euros. Com um teste PCR negativo a entrada é permitida sem ficar em quarentena, já que metade da população residente já foi vacinada. Um clube privativo para endinheirados de Londres (Circle Club) oferece um pacote de férias completo por 45 mil euros para Dubai com voos de primeira classe e 3 semanas em hotéis de luxo, além das duas doses da vacina chinesa Sinopharm, ou da Pfizer BioNTech, ou da AstraZeneca.

Na Rússia, as grandes cidades estão vacinando com a Sputnik V em clínicas do setor público ou privado e em lojas de departamentos, sem agendamento para a população local, e por 2 mil euros e 4 dias de estadia para turistas.

Cuba pretende atrair turistas oferecendo a vacina SoberanaO2 de fabricação cubana, a primeira vacina concebida e produzida na América Latina, a partir de junho.

Nos Estados Unidos a fartura de imunizantes atrai turistas, e o brasileiro que quiser se vacinar precisa fazer quarentena em outro país antes de entrar, no México é mais fácil porque não há restrição para brasileiros. Na Times Square e Central Park, em Nova York, e em Miami na Flórida, a vacina da Janssen em dose única é a que deve prevalecer para turistas.

A explosão de casos na Índia e o reflexo no mundo

Imagem: Organização Mundial da Saúde

A Índia é o maior produtor e exportador de vacinas no mundo, cerca de 60%, e devido à explosão de casos e caos no sistema de saúde insuficiente com baixa qualidade de vida, o governo prioriza o mercado interno. Os países que fecharam acordo para compra de vacinas com a Índia podem ter que esperar mais tempo do que o combinado: é o caso de Bangladesh, Uganda, Zimbábue, Arabia Saudita e Marrocos, que já relataram algum atraso no recebimento. O Brasil, por enquanto, ainda não recebeu nenhuma sinalização de alteração de entrega de insumos ou vacinas até o início de maio. O Instituto Serum é o laboratório indiano que produz a vacina Oxford/AstraZeneca. Além das vacinas, de diversos tipos contra diversas doenças, a Índia é uma grande produtora e distribuidora de medicamentos genéricos, sendo conhecida como a “farmácia do mundo”, e que pode comprometer o mercado externo devido ao aumento acelerado de casos de Covid-19 no país.

A abertura gradual em Israel, Estados Unidos e Europa após um ano de pandemia

Preparação da vacina da Pfizer em um hospital de Ashdod (Israel) em 7 de janeiro TSAFRIR ABAYOV/AP

Após vacinação rápida e lockdown, pela primeira vez em 10 meses, Israel não registra mortes por Covid (em junho de 2020 foi a vez anterior em que não houve registro de mortes). Com a segunda maior taxa de vacinação no mundo, de cerca de 52% da população do país, o uso de máscaras não é obrigatório, estando próximo de atingir a tão desejada imunidade de rebanho com o uso da vacina produzida pela Pfizer BioNTech.

Em contraste com a grave situação na Índia, as cidades de Barcelona e Madri na Espanha, Londres no Reino Unido, Nova York, e da Disneylândia nos Estados Unidos, tiveram as medidas de restrição afrouxadas, com previsão de abertura gradual permitindo a circulação em locais ao ar livre sem o uso de máscara, mas com aglomeração em locais fechados, controlada. A retomada da circulação de pessoas e a reabertura das escolas é um caminho para a melhorar a economia e o turismo depois de queda acentuada pelo mundo.

O paradoxo da vacinação em massa nas Ilhas Seychelles com a maior taxa de imunização no mundo

Vista aérea das paradisíacas Ilhas Seychelles, que vão e vêm entre a vacinação bem-sucedida e o ressurgimento de casos

Foto: Yasuyoshi Chiba - AFP

Será preciso uma terceira dose? Ou a imunidade de rebanho é maior que o preconizado cientificamente de 60% da população?

Este arquipélago localizado na costa leste da África, tem a maior taxa de imunização do mundo com mais de 60% de vacinação dos adultos, mas apresenta um aumento progressivo no número de casos. Segundo o jornal americano Washington Post, o país fechou escolas, cancelou atividades coletivas, fechou bares e restaurantes e fez um alerta sobre o número de casos que dobrou em menos de 1 mês. A população de quase 100 mil habitantes, foram vacinadas com os imunizantes Sinopharm, Covishield e em menor proporção com da AstraZeneca, doadas pelos Emirados Árabes. De acordo com o site de notícias argentino, La Nación, dos 1068 casos atualmente, 68% só receberam a primeira dose, isto é, a proteção não foi completa, apesar de não evoluírem com gravidade. Coincidiu também com a reabertura do turismo, principal fonte de renda do país.

Para as autoridades sanitárias, o que chama a atenção é o aumento do número de casos, ao contrário do que ocorre em Israel, Reino Unido e Estados Unidos que também se adiantaram para a vacinação em grande escala e os casos estão em queda significativa.

Existe outra questão muito importante que é a eficácia das vacinas usadas contra a variante sul-africana detectada na Ilha.


Revisão ortográfica: Anne Preste


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