A Organização Mundial da Saúde classifica a nova cepa como 'variante de preocupação' (imagem G1)
Até agora a variante Delta é a que predomina, inclusive no Brasil.
A vacinação incompleta, juntamente com o relaxamento das medidas sanitárias e o movimento anti-vacina, é o atual cenário que o mundo vive na quarta onda de transmissão pela variante Delta. As vacinas salvam vidas, mas não são capazes de impedir totalmente a continuidade da disseminação. Nenhuma tem o grau de proteção de 100%, o que significa que sempre haverá uma parcela da população que não responderá com imunidade. Mesmo assim, em caso de uma infecção, os vacinados não devem apresentar um quadro grave, e a probabilidade de internação e morte é baixa. Assim, o sistema de saúde não será sobrecarregado, inclusive com capacidade plena para atender outras doenças predominantes como as cardiovasculares e câncer.
A vacinação tem sido mais lenta na União Europeia do que no Reino Unido e nos EUA
Em meio a situação de conflito entre a necessidade de retomar a economia e as normas de restrição das agências de saúde, a Europa revive o aumento de casos de Covid-19.
Atualmente, países como França, Alemanha, Áustria, Holanda, Eslováquia e Letônia contabilizam uma alta taxa de casos, maior do que no ano passado quando se instalou a pandemia. Com isso, a volta das medidas restritivas provocou protestos nas ruas. As pessoas não querem manter o isolamento e o uso de máscaras novamente.
Num forte apelo das autoridades da União Europeia (UE) para completar a vacinação, inclusive com a dose de reforço 6 meses após a segunda dose, a presidente Ursula Van der Leyen fez um apelo recomendando à manutenção das medidas de proteção.
A European Medicines Agency (EMA), agência reguladora europeia, recomenda que os 27 países membros incluam na vacinação completa a terceira dose de reforço para emissão do “passaporte verde”, que deve conter o histórico de vacinação e testes de Covid negativos para permitir a circulação entre fronteiras, como também frequentar locais públicos abertos e fechados, transportes públicos, cinemas, bares, restaurantes e academias de ginástica.
Italianos se reuniram em Roma para protestar contra o passaporte da Covid (Giuseppe Lami/Ag. EFE)
A UE propõe reconhecer a Coronavac, da chinesa Sinovac, aplicada no Brasil, para permitir a entrada nos países-membros desde que apresentem teste negativo para Covid. Em declaração ao canal CNN da vice-diretora geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Mariângela Simão, “todas as vacinas que forem aprovadas pela OMS vão ser autorizadas a entrar pelo menos no espaço da União Europeia”.
Uma pesquisa publicada na revista Pesquisa Fapesp de novembro de 2021, por Rodrigo de Oliveira Andrade, a Morning Consult, empresa internacional de inteligência norte americana, realizou uma entrevista com 50 mil pessoas de 15 países no período de 5 e 11 de outubro, e observou uma queda gradativa no número de pessoas que não tomaram ou não tem intenção de se imunizar, com exceção da Rússia que chega a 43% da população. As principais justificativas da recusa são por: preocupação com os efeitos colaterais, testes clínicos apressados, não confiam na efetividade, são contra vacinas em geral, não confiam nos fabricantes e supõem que o risco de contrair Covid é mínimo.
No Brasil o panorama da pandemia é mais otimista, com queda no número [1] de casos, internações e mortes devido à forte adesão à vacinação. Mesmo a propagação de notícias falsas não afetou a confiança nas vacinas. Em 18 de outubro, a porcentagem de pessoas com vacinação parcial e completa era de 73%, um dos maiores percentuais[2] do mundo, segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford. No entanto, alguns entrevistados alegam erroneamente que crenças religiosas e hábitos de vida saudável os protegem contra a doença sem precisar de vacina.
Na Rússia, que produz a vacina Sputnik V, a rejeição parece ter fundamento na falta de confiança nas vacinas, sobretudo pela população descrente no Presidente Vladimir Putin, segundo a pesquisa.
Nos Estados Unidos,[3] a resistência às vacinas fez com que o Brasil ultrapassasse o ranking das pessoas imunizadas. Com forte influência política, os estados americanos governados pelo Partido Republicano concentram a maioria dos casos novos e hospitalizações, reflexo da baixa adesão e do negacionismo. Ao contrário, os Democratas pressionam o presidente Biden a só liberar verbas para os estados que cumprirem as metas da vacinação. Os casos mais graves ocorrem nas pessoas não vacinadas.
Na Índia, a segunda população mundial, apenas 20,2% estavam vacinados até meados de outubro devido a falsas notícias de infertilidade e morte causadas pelas vacinas.
Em países do primeiro mundo, as pessoas que se declaram anti-vacina se justificam também pela liberdade individual e direito de escolha somada à desconfiança dos interesses comerciais dos produtores, um sinal de que há uma “preocupação quanto ao uso político e econômico por governos e empresas privadas”, conclui Yurij Castelfranchi da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os europeus, por herança traumática do nazismo e visão crítica de que o desenvolvimento tecnológico provoca degradação ambiental, são mais propensos a acreditar em teorias conspiratórias e crise de confiança supostamente do mau uso da ciência e tecnologia. Um exemplo é o absurdo “estudo” publicado há alguns anos em uma revista científica de renome, que diz que a vacina tríplice causaria autismo em crianças, e na verdade, o autor tinha interesses comerciais em outra vacina recomendada como alternativa.
No dia 26 de novembro, a nova descoberta levou o governo da África do Sul e uma comissão de cientistas, entre eles o cientista de bioinformática brasileiro Tulio de Oliveira, a anunciarem com total transparência a detecção da cepa Ômicron (variante B.1.1529), com dezenas de múltiplas mutações no vírus SARS-Cov-2 nunca vistas antes. As mutações revelam maior capacidade de disseminação e podem ser mais resistentes às vacinas, com potencial ameaça para uma quinta onda. Ainda não há um consenso sobre a real periculosidade desta nova variante, mas autoridades dos governos dos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Japão entre outros, bloquearam a entrada internacional de pessoas vindas da África do Sul e países vizinhos do sul da África (Botsuana, Suazilândia, Lesoto, Namíbia e Zimbábue, até o momento).
Aeroportos são a principal entrada de pessoas contaminadas (imagem Aeroporto de Toronto, Canadá)
No Brasil, a Anvisa também recomendou os protocolos internacionais para barrar viajantes vindos do sul da África. As restrições defendem também o passaporte da vacina. Em declaração controversa, o presidente da república descartou essas medidas, mas defendeu quarentena e monitorar suspeitos de contaminação.
A vacinação de crianças a partir de 5 anos de idade foi autorizada pela EMA, conforme declaração de Jeremy Rossman, professor da Universidade de Kent, no Reino Unido (AFP).
“Em países com baixa taxa de transmissão, a retomada das atividades para circulação deve ser lenta enquanto os números de casos e mortes estiverem baixando”, afirma Maria van Kerkhove, médica especialista do Programa de Emergência em Saúde da OMS. “A comunicação clara com a população sem negligenciar o acompanhamento estatístico da pandemia é importante, e é preciso corrigir a tempo os ajustes necessários em alerta de agravamento”, explicou em entrevista para United Nations, Organização das Nações Unidas para cooperação internacional. Da mesma forma que o uso do cinto de segurança se tornou um hábito que salva vidas, usar máscaras em recintos fechados ou espaços lotados, lavar as mãos, cobrir tosses e espirros, são medidas eficazes que o mundo aprendeu como fatores de sobrevivência, segundo representantes da Organização Mundial da Saúde.
Esta é uma das lições que o Brasil deve assimilar com a quarta onda que assombra a pandemia na Europa. Acompanhar de perto a expansão da variante Ômicron é fundamental antes de relaxar as medidas de contenção da pandemia para barrar a mais nova ameaça.
Revisão ortográfica: Leilaine Nogueira