Velhos são descartáveis?

por João Aranha

30.05.2020

David Hume (1711-1776) filósofo polêmico, foi um dos defensores de uma corrente filosófica que ficou conhecida como “utilitarismo”.

Segundo Hume, a Ciência é responsável por proposições descritivas, ou seja, cabe a ela informar o que está se passando e construir um cenário com hipóteses e caminhos alternativos.

Porém cabe à Ética (ramo da Filosofia que aborda regras, valores e moral de um indivíduo ou grupo social) fazer proposições normativas, determinando o que se deve fazer com as informações.

O Utilitarismo, levado ao extremo, pode determinar quem é mais útil para compor a sociedade. Já a Ética mexe com a moral, o caráter e as consequências das decisões tomadas.

Na atual pandemia, chamou nossa atenção escolhas que médicos italianos e espanhóis tiveram de fazer, dadas as limitações dos recursos hospitalares, entre graus de gravidade da doença e entre os que teriam maior expectativa de vida.

No caso brasileiro diz o nosso mandatário que: “cada família tem que botar o vovô e vovó lá no canto... e o resto tem que trabalhar”.

Para alguns geriatras, no entanto, estamos vivendo uma “velhofobia”, com preconceito e violência, sobre os que representam 15% da população brasileira, cerca de 32 milhões de almas.

“Isolar velhos pode perder todo o trabalho feito para inserir-los nas atividades sociais”, diz um renomado geriatra.

Cumpre lembrar que os velhos, bem ou mal, nos criaram, e muitos dos idosos sustentam suas famílias com o salário mínimo da aposentadoria. “Ser velho é a única categoria social que nos une” diz, sabiamente, mais uma estudiosa da velhice.

Que prevaleçam, portanto, nossa Constituição e os princípios democráticos que falam de igualdade e solidariedade. Que sejam respeitados os instrumentos de defesa dos mais velhos, como a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso.

Que doravante as decisões tomadas considerem o valor de cada vida, principalmente daquelas pessoas ora tratadas como inúteis e improdutivas, mas que foram, um dia, as responsáveis pela preservação dos nossos valores, construindo a sociedade como hoje a conhecemos.


Revisão: Maitê Ribeiro