O humor nos tempos do corona

por João Aranha

18.04.2020

Brincadeira tem hora, é verdade. Mas a rigidez e o policiamento exagerados podem contribuir para um clima carregado que em nada contribui para o estado psicológico, principalmente daqueles que, por dever cívico, permanecem em casa.

Situação grave como a que ora vivemos, requerem certo equilíbrio na dosagem do humor.

Mas convenhamos que o humor funciona como um excelente alívio temporário que ajuda a minimizar as pressões do cotidiano.

O humor bem colocado pode nos acalmar, levar a reflexões e, de certa forma, permitir que cada um de nós possa dar um intervalo nas nossas preocupações normais e, após, dar continuidade às obrigações e deveres que temos como cidadãos conscientes.

É evidente que rir nesses momentos sombrios não muda realisticamente a situação, mas rir pode nos ajudar a modificar os nossos sentimentos sobre ela.

Vejam por exemplo esta imagem acima que está circulando nas redes sociais. Prestando atenção há algo nessa mensagem que além do humor nos faz refletir. Será que nesses momentos de isolamento não cabe relembrar algumas lições, como, por exemplo, considerar a importância daqueles que fazem trabalhos considerados menores. Tente imaginar o que aconteceria com nossas cidades se os lixeiros parassem de trabalhar e os policiais aproveitassem da situação para entrar em greve.

O humor, historicamente, sempre aconteceu de forma paralela aos grandes acontecimentos da humanidade.

Havia humor nas guerras e nas mais sangrentas ditaduras. A reação dos poderes constituídos, no entanto, poderá variar indo da ignorância à extrema retaliação.

Na Rússia stalinista, o povo massacrado continuava secretamente fazendo suas piadas, mas se alguém denunciasse o autor podia-se esperar um aprisionamento em campos de onde poucos saíam vivos.

Na ditadura brasileira dizia-se que o brasileiro só podia abrir a boca quando fosse ao dentista, mas o jornal O Pasquim, que não perdoava ninguém com seu humor cáustico, esgotava rapidamente nas bancas.

Nos tempos do imperador D. Pedro II, a liberdade da imprensa atingiu o seu apogeu. Até mesmo mandatários estrangeiros estranhavam o comportamento do nosso governante que dizia que “imprensa se combate com a imprensa”.

E nosso imperador era alvo de críticas desde a sua vida pessoal até seu estilo de governar, como publicava O Corsário, o Pasquim da época, além de contemplá-lo com vários apelidos depreciativos, tais como Rei Caju (dado seu queixo projetado para a frente) ou de Rei Banana.

D. Pedro II dizia que a seção do jornal que mais lia era a de “queixas e reclamações” pois, segundo ele, era o melhor termômetro para saber quais as críticas e as necessidades que o povo exprimia.

Sim, apesar de tudo e de todos, é possível rir, refletir e atentar com seriedade no que se passa ao nosso redor. Tudo ao mesmo tempo, de forma equilibrada.


Revisão: Maitê Ribeiro