Entrevista: Dra. Sharon Sanz Simon (*)

por João Aranha

20.05.2020

Dra. Sharon Sanz Simon

Estimulando a mente em tempos de pandemia


CeR: O que o confinamento pode causar às nossas mentes?

Dra. Sharon: O confinamento pode causar desgastes psicológicos. Por linhas tortas, o isolamento é uma oportunidade para aprender, exercer a criatividade e desfrutar de pequenos prazeres.

CeR: Como podemos proceder para enfrentar os desafios do confinamento?

Dra. Sharon: Estimular a mente se torna ainda mais importante. Uma boa forma de iniciar esse processo é se perguntando: se você tivesse mais tempo, o que faria?

CeR: Como podemos estimular a mente?

Dra. Sharon: Três pontos de apoio podem nos ajudar a estimular a mente, aumentando nossa capacidade de enfrentar os desafios do confinamento.

CeR: Quais seriam esses três pontos?

Dra. Sharon: Organize seu tempo e espaço. Temos de reinventar um cotidiano restrito à nossa casa. Crie um calendário da semana com compromissos de trabalho, estudos e outras atividades. Essa “estruturação concreta” do dia a dia ajuda nosso cérebro a criar uma nova organização mental, aumentando o senso de previsibilidade e, por consequência, nossa eficiência, motivação e capacidade de lidar com a ansiedade.

CeR: Qual seria o segundo ponto?

Dra. Sharon: Aprenda coisas novas. O confinamento nos obriga a sair da nossa zona de conforto. Aproveite os recursos online como tutoriais e apps. A neurociência tem identificado benefício cognitivo de atividades de lazer, como leitura, tocar instrumentos, assistir a palestras, fazer quebra-cabeças, malabarismo, aprender idiomas e – claro – exercício físico. Aproveite o universo cultural online.

CeR: E o terceiro ponto?

Dra. Sharon: Cuide do seu “cérebro emocional”. Meditação e mindfullness podem trazer maior equilíbrio emocional, foco, concentração, criatividade e melhoria do humor. Flexibilize seus pontos de vista e mostre aos outros e a si mesmo: estamos isolados, mas não sozinhos. Em tempos de pandemia, estimule-se a ser a melhor versão de você mesmo.

(*) Neuropsicóloga, é doutora em Ciências pela USP e pesquisadora na Universidade Columbia (EUA)
Obs: Esta entrevista foi montada com base em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, de 28 de março de 2020. Foram retirados fragmentos principais do artigo, o qual pode ser lido na íntegra no jornal acima citado.
Revisão: Maitê Ribeiro