O sentido da vida e da velhice

por João Aranha

07.03.2020

Cientistas da Universidade da Califórnia publicaram recentemente um estudo em renomado periódico científico americano comprovando que vale a pena uma reflexão sobre questões fundamentais da vida, entre as quais as relativas ao papel que desempenhamos no planeta em que vivemos e, principalmente, se há sentido em como somos e no que fazemos.

A pesquisa, de maneira geral, revelou que pessoas que encontraram um sentido para suas vidas apresentam melhores condições de saúde, física e mental. Outros trabalhos científicos recentes apontaram que as pessoas que têm um desígnio delineado são mais saudáveis, com tendências para se exercitar mais, cuidar melhor da alimentação e pouca propensão ao estresse.

Chamou atenção o fato de que o ápice de satisfação entre os que encontraram um propósito para suas vidas ocorre na faixa dos 60 anos.

De uma maneira bem simplista, pode-se considerar essa idade como “pré-velhice” e, ao mesmo tempo, uma fase da vida que pressupõe certa estabilização, onde não há mais hiperatividade, abrindo um caminho para uma rotina mais espiritualizada que, muitas vezes, leva à concretização da busca do sentido da vida.

No entanto, ainda segundo a pesquisa, quanto mais a idade cronológica avança maior é a probabilidade de uma mudança de cenário, onde começam a surgir problemas psicológicos e as perdas físicas inerentes ao envelhecimento.

Esse quadro pode levar a um novo questionamento que deságua em dúvidas sobre qual seria o propósito da existência pois os pesquisadores não relutam em afirmar que a pior situação ocorre quando não se consegue definir um significado para estar vivo.

Percebe-se que surge um panorama de dupla alimentação, ou seja, o avanço da idade cronológica leva às conhecidas perdas naturais e o fato de não se encontrar propósito para a vida também ocasiona, por sua vez, perdas físicas e psicológicas.

Tem-se, então, uma vez equacionado o problema, duas variáveis: o envelhecimento e a dificuldade de se encontrar um sentido para nossas vidas.

O conceito de Life-Span preconiza que o envelhecimento decorre de um desenvolvimento que ocorre por toda a vida de uma pessoa e desde que os processos psicológicos já estabelecidos se mantenham e o ambiente sociocultural seja propício, há condições de se ter uma velhice bem-sucedida, mesmo que ocorram as naturais presenças de limitações de origem biológica.

Dessa forma, o envelhecimento está relacionado à capacidade da criação de equilíbrio entre ganhos e perdas voltados para a adaptação que deve ocorrer em todas as fases da vida.

Envelhecimento bem-sucedido pressupõe um quadro de bem-estar físico e social, sem a ocorrência de doenças físicas e mentais crônicas, sem que haja incapacidade funcional e que seja preservada a manutenção da autonomia e da produtividade, além da conservação do papel social, político e dos direitos e deveres da cidadania.

Quando a condição socioeconômica não for favorável, cabe uma participação mais ativa dos órgãos públicos, com políticas mais efetivas na área de saúde, na melhoria das condições de aposentadoria e na criação de oportunidades de trabalho e lazer.

É comum, no entanto, que se dê preferência a posturas assistencialistas em detrimento da autonomia, deixando-se de trabalhar também o ser de cada indivíduo e impedindo-os de que se sintam úteis e ativos, priorizando atividades do tipo recreativas para passar o tempo. São bem-vindas, portanto, iniciativas como a Universidade Aberta à 3ª Idade e cursos ministrados por entidades particulares com conteúdos edificantes para os mais velhos.

Nos tempos atuais, onde imperam a rapidez das mudanças tecnológicas e o surgimento de novos paradigmas, há um clima generalizado de incertezas dificultando, segundo os sociólogos, o processo de adaptação normal que costuma ocorrer quando há mudanças drásticas nas estruturas sociais.

Os idosos, por sua vez, sentem os reflexos decorrentes desses novos tempos, tendo que aumentar sua reserva funcional, modificando seus hábitos e adaptando-se a uma inversão de valores que sobrepõe a tecnologia à espiritualidade. Com isso, encontrar sentido para a existência torna-se uma difícil tarefa.

A busca por auxílio psicoterapêutico é normal e necessária. Meditação, ioga e outras ferramentas modernas também poderão ser úteis.

O psicoterapeuta húngaro Viktor Frankl (1905/1997) criou a Logoterapia, baseada na análise existencial cujo objetivo era ajudar as pessoas a encontrar um sentido para a vida.

Frankl direcionou sua vida a impulsionar os homens a ter uma causa, a usar a liberdade – considerada a característica mais humana que possuímos – para nos livrar da opressão cotidiana.

Frankl aliou a filosofia ao seu método terapêutico visando preencher o vazio existencial com um sentido para a vida, sentido este que está no mundo e não no sujeito que o experiencia.

Disse ainda que a busca da felicidade em si não traz ganhos para o ser humano, porém a procura de uma razão para ser feliz fará com que a felicidade decorra espontânea e automaticamente.

O mesmo ocorre com a autorealização – busca prioritária dos tempos atuais – a qual só aparece quando da realização de um sentido.

O médico e psicoterapeuta húngaro sobreviveu às agruras da 1ª Guerra, às inimagináveis condições dos campos de concentração na 2ª Guerra e jamais entregou os pontos, pois como tinha muito a dizer e ensinar, transformou essa missão numa extraordinária força de vontade para sobreviver.

Seu livro Em Busca de Sentido, cujos primeiros esboços ele mantinha escondidos entre a sua frágil pele e os frangalhos de sua roupa, foi publicado em 1946 e foi considerado pela Biblioteca do congresso americano como um dos dez livros que mudaram a história da humanidade.



Pesquisa de imagens: Eduardo Mendes
Bibliografia:. Journal of Clinical Psychiatry - Universidade da Califórnia - San Diego. Envelhecimento e Depressão: Da Perspectiva Psicodiagnóstica ao Encontro Terapêutico - Tese de mestrado da USP - Dra. Claudia Aranha Gil. Em Busca de Sentido - ViktorFrankl - Editora Vozes. Revista Veja - A Busca por um Sentido - edição de 15 de janeiro de 2020