Uma breve visão histórica da velhice

por João Aranha

15.08.2019

Ao fazermos um passeio pela história verificamos que o texto mais antigo que se tem conhecimento, abordando a velhice, data de 2.500 antes de Cristo, escrito por Ptah-hotep, filósofo e poeta egípcio. Nesse texto a velhice é descrita como penosa face o enfraquecimento dos sentidos e da capacidade intelectual, as quais vêm sempre acompanhadas de dores.

Por volta dos anos 400 e 500 A.C. Buda, Confúcio e Platão dão a sua visão sobre a velhice:

Quando o jovem Sidarta, o futuro Buda, saiu furtivamente de seu castelo para dar um passeio pela região, deparou-se com um velho.

Sidarta, que havia sido poupado até então de uma visão da real condição humana, espantou-se com a figura do velho.

Foi dessa forma que Buda travou conhecimento primeiro com a velhice, depois com a doença e, finalmente, com a morte, as causas, segundo ele, do sofrimento humano.

Ao retornar ao castelo, Sidarta entendeu então que ele era a morada da sua futura velhice.

Dando um salto para a Grécia Antiga, encontramos um texto de Platão, em “A República” que narra o encontro entre Sócrates e o velho Céfalo.

Platão, nas palavras de Sócrates, começa dizendo que lhe apraz conversar com velhos “pois são pessoas com as quais devemos aprender e que nos antecederam num caminho que também iremos trilhar, para assim conhecermos como é áspero e árduo ou tranquilo e cômodo”.

É ainda pela voz de Céfalo que Platão diz; “Porque é bem verdade que a velhice nos proporciona repouso, livrando-nos de todas as paixões. Quando os desejos diminuem, a asserção de Sófocles revela toda a sua justeza. É como se nos libertássemos de inúmeros e enfurecidos senhores. No que diz respeito aos desgostos, aos aborrecimentos domésticos, estes tem apenas uma causa, Sócrates, que não é a velhice, mas o caráter do homem. Se eles tiverem bom caráter e espírito equilibrado, a velhice não será um fardo insuportável”.

Há que se considerar também que a visão da velhice no Oriente se diferenciava daquela do Ocidente, pois na China o respeito aos velhos transcendia a própria família e era clara a correlação existente entre velhice e sabedoria como bem atestam as palavras de Confúcio:

“Aos 15 anos, eu me aplicava no estudo da sabedoria, aos 30, consolidei-o; aos 40 não tinha mais dúvidas; aos 60, não havia mais nada no mundo que me pudesse chocar; aos 70, podia segurar os desejos do meu coração sem transgredir a lei moral”.

Freud que vivia numa sociedade que considerava velho o indivíduo que beirava os 50 anos, julgava que “na casa dos cinquenta, as condições para a psicanálise tornam-se desfavoráveis” e “pessoas idosas não são mais educáveis...”.

Paradoxalmente, Freud só refletiria sobre a velhice quando ela chegou a si próprio e, embora tenha se mostrado capaz, intelectualmente falando, até o final de sua vida, assim se expressou ao completar 80 anos: “...não consigo me reconciliar com a desgraça e o desamparo de estar velho e antecipo a transição para o não ser como uma espécie de anelo”.

Sentimentos de baixa-estima decorrentes das perdas do envelhecimento, aliado ao considerável aumento da expectativa de vida, levaram psicólogos e psicanalistas a se preocupar cada vez mais com o que admitem ser possível, ou seja, o envelhecer saudável.

Uma contribuição fundamental para a psicologia do envelhecimento surgiu com o conceito de Life-Span, entendido como o desenvolvimento que ocorre ao longo de toda uma vida.

Este conceito está intimamente ligado à visão do processo de individuação postulado por Carl Gustav Jung que defendia a ideia de que todo ser humano tende instintivamente a realizar o que existe nele em potencialidade, a crescer e completar-se durante o processo de sua vida.

A noção de Life-Span pressupõe que envelhecimento e desenvolvimento são cursos correlatos e que os fatores biológicos não são limitantes, desde que os processos psicológicos já estabelecidos se mantenham e desde que o ambiente cultural não seja um fator proibitivo.

Esta visão se contrapõe a crença de que a velhice inexoravelmente se situa numa posição de crescimento e declínio, pois considera que em todas as fases da vida há ganhos e perdas e é a forma como encaramos e administramos estas situações que poderá levar a um envelhecimento bem sucedido.