Mãos

por João Aranha

09.04.2020

Assim que sentimos algo, seja através dos cinco sentidos, seja através da percepção extrassensorial, nosso cérebro se prepara para a ação. A musculatura fica de prontidão e o gesto surge, quase que sem intervalo de tempo.

Nossas mãos são os principais executores do sentir que uma vez interpretados pelo cérebro se transformam em ação.

A importância das mãos está na proporção direta do número de neurônios que nosso cérebro a elas dedica. Cada um de nossos dedos é privilegiado com uma área específica do cérebro.

Nem sempre foi assim, antes nossos pés eram nossas mãos inferiores. Depois evoluímos e passamos a precisar das mãos para levar os alimentos à boca. Logo as mãos passaram a nos defender e exercer a criatividade, tornando-se cada vez mais dotadas de habilidades.

Hoje, muitas das tarefas que exigiam a presença das nossas mãos estão sendo substituídas por botões e por comandos. Máquinas fazem o que antes fazíamos com as mãos.

A plasticidade cerebral permite que nosso cérebro se adapte às circunstâncias da vida. Considerem aqueles que não têm mãos. Tarefas as mais minuciosas, como pintar, por exemplo, são espantosamente possíveis de se executar com os dedos dos pés. As imagens cerebrais indicam que a área cerebral reservada aos dedos das mãos é substituída pelos dedos dos pés.

Já se sabe que algumas tarefas, como mover objetos, são realizadas por um comando cerebral que prescinde das mãos. Talvez num futuro próximo mãos e cérebros vão se fundir tornando-se um único executor do sentir.

A origem da palavra “mão” pode estar na palavra grega “cheir” e nas suas ligações mitológicas com o mito de “Cheiron” ou “Quíron”, como é mais conhecido. O mito fala da importância das mãos para a humanidade, principalmente para a medicina e as artes. Mas na própria origem da palavra há uma ambivalência, pois “cheir” também pode significar “o que é pior”.

Há mãos que abençoam e mãos que amaldiçoam.

Há mãos que curam e mãos que matam.

Portanto, devemos ter extremo cuidado com o que nossas mãos fazem, para que um dia elas não corram o risco de serem decepadas.



Revisado por Maitê Ribeiro