Ajuda mútua e cooperação - Fatores de evolução

por João Aranha

07.05.2020

“Somente seres humanos excepcionais e irrepreensíveis suscitam ideias generosas e ações elevadas.”

Albert Einstein


A ajuda mútua e a cooperação acompanham a humanidade desde os seus primórdios.

Inúmeros exemplos poderiam ser citados, de homens mitificados ao longo do tempo como heróis, de grupos e de ações que visavam o bem estar da comunidade.

Muito precocemente o homem descobriu que necessitava da ajuda de seus semelhantes, desde as atividades menores até aquelas que diziam respeito à sua sobrevivência.

No entanto, os movimentos repressores foram muito maiores e mais intensos em relação a esse estado de consciência, que se manifestava pelos princípios de associação, solidariedade e de comunhão com tudo que nos rodeia.

Existe uma dicotomia entre aqueles que acreditam na cooperação para conduzir a humanidade a uma forma mais harmoniosa de vida e os que pregam o individualismo, a competição e os interesses pessoais — como atestam o darwinismo e o capitalismo — qualidades estas que seriam mais condizentes com o mundo moderno.

Uma nova concepção do que é vida, no entanto, está surgindo por meio da Ciência, e ela nos diz que todos os membros de nossa grande comunidade estão interligados.

Há uma interdependência, ou seja, uma mútua dependência entre todos os organismos vivos. As relações entre os vários membros da comunidade humana realçam a existência de uma parceria, que geraria formas de cooperação.

A parceria pode então se transformar no que se convencionou chamar de “coevolução”, ou seja, quando a parceria ocorre, ela permite que ambas as partes se conheçam melhor, num processo de aprendizagem e mudança que leva a uma evolução conjunta e ordenada entre as partes.

Sempre que se procura aplicar na comunidade humana os preceitos básicos de cooperação e ajuda mútua, existentes na natureza, é inevitável que se fale da organização, principalmente, dos formigueiros e das colmeias.

Animais como as aves, os peixes, as renas, os elefantes e tantos outros mais, costumam deslocar-se em grupos, agindo como se cada um soubesse antecipadamente o que seu vizinho irá fazer, aumentando assim consideravelmente suas chances de sobrevivência, de encontrar alimentos, proteger suas crias e encontrar a rota mais indicada para a migração. Um estudioso do assunto, ao observar tal conduta, assim se manifestou: “Não havia antecipação ou reação. Não havia causa e efeito. Apenas acontecia”.

Cientistas que estudam o comportamento das formigas espantam-se como uma colônia resolve, de maneira rápida e eficiente, os principais problemas de seu cotidiano, de forma coordenada, sem ninguém no comando e sem nenhum controle aparente.

No caso das abelhas, ficam admirados ao observar o processo de avaliação independente e tomada de decisões, que consegue transformar opiniões diferentes em escolhas que beneficiam toda a coletividade.

Mais recentemente, muitos cientistas têm se debruçado sobre esta intrigante questão: como explicar a superação do comportamento de um grupo em relação ao comportamento individual? Como explicar que as ações simples de cada indivíduo, mesmo que haja algum desacordo inicial, resultem num comportamento onde frequentemente a inteligência do grupo mostra-se mais perspicaz do que o mais inteligente membro do grupo? Uma formiga, isoladamente, mostra-se estúpida, desorientada e frágil, mas um formigueiro, como dizem os cientistas, é outra história.

Ao analisar o que se convencionou chamar de ganhos da inteligência coletiva, os estudiosos do assunto detectaram alguns fatores comuns a essas sociedades auto-organizadas e complexas, tais como o respeito à diversidade de opiniões, a independência (que não significa isolamento, mas sim liberdade de pensamento), a descentralização, ou seja, trabalhar com conhecimento local e, finalmente, a agregação, capacidade de transformar as avaliações pessoais em acertadas decisões coletivas.

A esses fatores acrescente-se ainda a coordenação, que permite ajustar o comportamento dos que têm o mesmo objetivo e, principalmente, a cooperação, fator básico que estabelece a diferença do que é viver inteligentemente em sociedade, da simples vida de um bando.

É indiscutível que formigas e abelhas, incapazes de sobreviverem de forma isolada, juntam-se e agem de forma coletivista ou mesmo altruísta.

No entanto, é preciso entender a causa de tal atitude, ou seja, verificar se esses insetos não estariam apenas seguindo seus instintos de sobrevivência e manutenção da espécie, com um comportamento que não pode ser caracterizado nem como egoísta nem como altruísta, já que não foi produto de uma escolha consciente.

Em outras palavras, abelhas e formigas agem segundo um condicionamento biológico que não é alimentado por fatores emocionais ou sociais ou nenhuma escala de valores.

Já a sociedade humana é dotada da possibilidade de entender as coisas e mudar, dispondo da consciência de que seus atos formam uma escala de valores condizentes com a compreensão que tem do todo.

Ao buscar fora exemplos de sistemas cooperativos, o homem esquece que o melhor exemplo talvez esteja dentro dele, ou seja, o maravilhoso funcionamento de seu corpo físico e mental, totalmente integrado.

O mesmo ocorrerá se elevar sua visão para as estrelas, os planetas e o Sol que nos aquece e alimenta. Verá então a mesma ordem, a mesma harmonia e a mesma razão que une a parte com o todo.

Dotado de uma matéria a mais, a espiritual, o homem que valoriza os elementos que o constituem expandirá a sua consciência, até que ela se torne cósmica, substituindo o atual padrão de expansão indiscriminada pela conservação, que permitirá a sustentabilidade.

Substituirá a competição desenfreada pela cooperação, a luta pelo poder pela parceria e, finalmente, o egoísmo pelos valores altruístas, compatíveis com aqueles que acreditam na existência de um mundo mais justo e bem melhor para todos.

Revisado por Maitê Ribeiro