Brasil pretende se manter no top 10 dos medalhistas paralímpicos e alcançar a 100º medalha de ouro


A vitória dos atletas com deficiência na corrida pela vida sem tempo para vitimização


Sonia Okita

25.08.2021

ge.globo.com

Com o tema de abertura “We have wings”- Temos Asas, o Estádio Nacional de Tokyo recebeu nesta terça, 24, às 8h no horário de Brasília, a cerimônia do início da 16ª edição do Jogos Paralímpicos. Sem público devido à pandemia da Covid-19, o evento apresentou um show de luzes e imagens coloridas simbolizando o vento passando pelo desfile das delegações dos países participantes. Este tema serve de inspiração aos atletas para que abram suas asas e voem com coragem não importa para onde o vento sopre.

A apresentação de músicos e bailarinos com deficiência representa que não há empecilho para o poder do querer sem vitimismo e foi um espetáculo com conteúdo otimista de “mudar seus rótulos para super-heróis, transforme a vida das comunidades excluídas e lute pela igualdade todos os dias”, nos discursos da governadora de Tokyo Yuriko Koike e de Andew Parsons, brasileiro, presidente do Comitê Olímpico Internacional. Os discursos ressaltam que os Jogos Paralímpicos são fonte de inspiração para todos e que a sociedade precisa rever seus conceitos na promoção da inclusão das pessoas com deficiência física ou intelectual em todos os setores.

A entrada dos balões Agito simbolizam o movimento ( globo.com)

O esporte que reabilita - Os Jogos Paralímpicos tem suas raízes em um histórico de reabilitação de militares feridos nas guerras, incapacitados para as atividades que exerciam normalmente. Segundo Ian Brittain, da Concentry Univrsity, na Inglaterra, o esporte é usado para a recuperação física a mental de soldados feridos nos conflitos de guerras, e principalmente dar independência para uma vida plena com reinserção social e modo de sobrevivência pelo trabalho.

A tecnologia adaptada ao atleta com deficiência é desenvolvida para dar conforto e funcionalidade, domínio corporal dos movimentos e força muscular.

Velocistas paralímpicos em ação com diferentes próteses (Daniel Zappe/ Exemplus CPB/olimpiadatododia.com.br)

Deficiência versus Eficiência e Inclusão Social - O esporte paralímpico reflete o perfil de uma sociedade. Os Jogos Paralímpicos são o segundo maior evento multiesportivo de elite do mundo depois dos Jogos Olímpicos. A qualidade dos resultados aproxima os dois eventos, e para superar as dificuldades, a incorporação de tecnologia de ponta torna os corpos competitivos.

Assim como qualquer evento mundial, as competições envolvem grandes patrocínios públicos e privados.

No Brasil, o esporte paralímpico é um incentivo para o desenvolvimento de novos produtos. Os paratletas acabam sendo modelos e também fonte de inspiração. Novos horizontes são criados a cada dia com os amputados tendo uma vida mais ativa e móvel. Para Vinicius Rodrigues, recordista mundial na prova dos 100 metros rasos da classe T63, “tem pessoas que ainda estão presas em casa e o esporte tem o poder de resolver isso”.

“As pessoas com deficiência estão tomando coragem. Quando esse indivíduo souber que o atleta paralímpico tem um trabalho e consegue se sustentar, com certeza ele vai querer se empenhar e desenvolver esse lado do esporte”, concluiu o paratleta do atletismo.

São diversos tipos de próteses usadas no universo paralímpico (Divulgação/CPB)

Segundo a velocista paralímpica Verônica Hipólito, uma prótese de perna pode custar 50 mil reais e de braço 10 mil reais, comentando no canal SportTV2 durante a apresentação da cerimônia de abertura.

As fibras de carbono são muito utilizadas pelas fabricantes de próteses devido à alta resistência, flexibilidade e leveza. Neste segmento a alemã Ottobock e a islandesa Ossur são líderes de mercado e costumam testar seus produtos nos paratletas, porém, cabe ressaltar que a competição é entre os atletas no corpo a corpo e a tecnologia é um auxiliar, não um competidor (plastivida.org).

Além disso, atletas com deficiências visuais, auditivas e intelectuais usam menos recursos tecnológicos, mas participam de competições de diversas maneiras devido a treinos intensos, sem próteses, que pode ser em corridas, salto, natação, esgrima, basquete, e outas modalidades, em busca de medalhas. Só por isso já podem ser considerados grandes vencedores.

O esporte adaptado – a atividade valoriza a prática de superação e inclusão respeitando os limites que cada tipo de deficiência impõe. A iniciação escolar no esporte adaptado é uma forma de inclusão que apresenta o esporte como uma alternativa.

Créditos: ARSSigma – Roteiro de Ed. Física, Julia Pinto /Rafael Kosonics

Leis de Inclusão e cidadania – No Brasil, “não há uma lei que garanta especificamente a inclusão das pessoas com deficiência no esporte, o que existe e beneficia o esporte paralímpico é a Lei da Inclusão da Pessoa com Deficiência (13.146/2015), diz Nadia Xavier, representante do Comitê Olímpico Brasileiro (CPB), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a inclusão social e cidadania."

Embora exista essa Lei, o que garante a sobrevivência do esporte são os apoios não governamentais e instituições sem fins lucrativos, que se tornam na maioria das vezes as únicas fontes de captar recursos. “A única coisa que entendo que seria mais próximo de recurso público é a via lei do incentivo ao esporte, onde também as empresas abrem mão do imposto de renda para uma parte dele aplicar em projetos sociais.” explica Eliane Miada, informando que instituições como a Associação Desportiva para Deficientes (ADD) não utilizam recursos públicos, somente incentivos da iniciativa privada. (coexistir.com.br).

Em relação às políticas públicas, as diretrizes da acessibilidade ainda ficam a desejar, dificultando a mobilidade pelas ruas, nos transportes e espaços públicos e dentro de locais fechados. É direito da pessoa com deficiência viver em um ambiente em que possa desenvolver suas habilidades sem depender de terceiros, com autonomia e independência. Cabe ao Estado garantir esse bem-estar, por meio de implantação de políticas públicas, formuladas não só pelo poder público, como também pela sociedade civil e por aqueles que enfrentam as adversidades de viver em uma comunidade sem infraestrutura. Apenas assim, por meio do diálogo contínuo com esses indivíduos, que o nosso país será, de fato, inclusivo (politize.com).

Certamente a realização de competições entre paratletas serve de modelo a ser seguido na vida real, que cada qual tenha os recursos necessários para ter uma vida plena, cada um a seu modo, exercendo livremente seus direitos como todo cidadão.


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