Nos bastidores das Olimpíadas de Tokyo 2021

A cerimônia de abertura no dia 23 de julho de 2021, às 8h (de Brasília) no Estádio Olímpico de Tokyo, é o início oficial da 32º Olimpíada, o maior evento esportivo do mundo

Sonia Okita

22.07.2021

Os jogos começaram na noite de terça, dia 20, com o softbol, uma versão simplificada do beisebol praticado por mulheres. A partida foi entre o anfitrião Japão contra a Austrália, às 21h (de Brasília). Até o dia 8 de agosto, data do encerramento, as 46 modalidades olímpicas acontecerão nas 42 arenas espalhadas pelo país, no entanto, devido ao estado de emergência em que se encontra o país devido à Covid-19, não será permitida a presença de público nos estádios. Por conta disso, para alguns esta é a Olimpíada da Superação, e cada participação e medalha alcançada terá um valor especial.

O Brasil vai estrear com a seleção feminina de futebol, na quarta às 5h.

Foi decretado estado de emergência em Tóquio até 22 de agosto. Na última sexta feira o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado dentro da Vila Olímpica, onde serão recebidos mais de 10 mil atletas nos próximos dias. Desde o início de julho, 14 pessoas ligadas aos jogos testaram positivo, entre integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI), voluntários e dois jornalistas estrangeiros. A cidade registrou mais de 1200 casos e foi o terceiro dia seguido com mais de 1000 casos. Segundo o levantamento do banco de dados Our World in Data, a pandemia já causou a morte de mais de 15 mil pessoas numa população de 128 milhões de habitantes. Um atleta também testou positivo, mas não está na Vila Olímpica e até agora não foram divulgados maiores detalhes.

Política, dinheiro e obrigações diplomáticas

Com baixa aceitação popular devido à pandemia, os jogos seguirão conforme acordo político do governo japonês, representado pelo premiê Yoshihide Suga e a pressão econômica do COI, dirigido por Thomas Bach, nesta histórica empreitada. O risco de piorar os números da contaminação por variantes do coronavírus mais temidos, como a delta, pode deixar um legado sinistro. Para líderes políticos do partido Liberal Democrático, de Suga, politizar os Jogos não é uma virtude dos japoneses, mas desvinculá-los agora é impossível. “O governo pode não ter dado explicações suficientes para sensibilizar a população sobre os jogos e as medidas de restrição”, declarou Shimomura, líder do partido. Bilhões de dólares de dinheiro público foram gastos e nem se cogita em adiar o evento. Com o direito do COI de realizar os jogos, cancelar custaria um valor impagável ao Japão. Os patrocinadores investiram cerca de US$ 3 bilhões de 60 empresas locais, e mais US$ 200 milhões depois do adiamento para 2021. Além disso, houve um custo adicional de US$15 bilhões para renegociar contratos e para medidas anti-Covid. Com a restrição de público, que renderia cerca de US$ 800 milhões com a venda de ingressos e produtos associados ao evento dentro dos estádios, diminuiu a receita esperada. Mais prejuízo.

Cerca de 75% da receita vem dos direitos de transmissão, e por isso o COI nunca cogitou em cancelar o evento. Mesmo assim, o premiê Suga quer provar que Tóquio fará um belo exercício de controle e disciplina na pandemia e seguir o calendário dos jogos. (análise de Leandro Colon para a Folha de são Paulo).

A ausência dos chefes de Estado na cerimônia de abertura é um sinal político ao governo japonês e ao COI. No entanto, a primeira-dama dos Estado Unidos, Jill Biden, comparecerá sem o marido Joe Biden, e é uma presença ilustre tanto quanto a do presidente da França Emanuel Macron, já que Paris será a sede da próxima olimpíada em 2024.

O governo do Brasil deve enviar um representante do Ministério da Cidadania, João Roma, e Marcelo Magalhães, secretário especial de Esportes.

Isolados, os atletas improvisaram treino

No início do isolamento, com os jogos olímpicos adiados, os atletas não puderam se preparar nas melhores condições, mas conseguiram treinar no improviso dentro de casa, com a ajuda da família, entre mesas e cadeiras nos apartamentos, ou no quintal e na sacada, e até em terreno baldio. Usaram todos os recursos que encontraram por conta própria e se exercitaram sem a equipe de treinadores por perto. O mais iniciante dos atletas sabe que talento é importante, mas, para não ficar no meio do caminho “1% é inspiração e 99% é transpiração”, isto é, dedicação é tudo. Mais recentemente, com a vacinação mais abrangente, muitos puderam voltar aos treinos regulares mantendo os cuidados sanitários recomendados.

302 atletas vão representar o Brasil. As modalidades em que o Brasil tem mais chances de medalha são no skate, vôlei, surfe, atletismo, natação, canoagem, futebol, judô, ginástica, vela e boxe. As chances são menores, mas vale a pena acompanhar taekwondo, ciclismo, tênis de mesa, tênis e wrestling (luta livre corpo a corpo), segundo previsão de Leandro Colon.

Os testes para Covid nos atletas e residentes da Vila Olímpica serão diários. Antes de chegar ao Japão, devem fazer testes previamente ao desembarque, e nos três primeiros dias depois de entrar no país. Mesmo antes das provas serão testados e não poderão competir se der positivo para o vírus.

A melancólica passagem da tocha olímpica

As cidades por onde passaram o revezamento da tocha olímpica se restringiu dentro dos parques das cidades, com público afastado das ruas pelas medidas de segurança das polícias locais. Em Hiroshima, cidade marcada como alvo da bomba atômica, o evento ocorreu nas dependências do Parque do Memorial da Paz, um local tão importante como símbolo da paz mundial, e se fosse em outros tempos haveria uma multidão para saudar a chama acesa da tocha da unificação. Em outros importantes centros urbanos como Osaka, Fukuoka e Okayama, as prefeituras tiraram o evento das vias públicas também. Mesmo assim, tanto o governo japonês como o Comitê Olímpico Internacional (COI) segue firme que as Olimpíadas ocorrerão com todas as medidas sanitárias necessárias.

Na cidade de Kashima, o ídolo brasileiro e ex-jogador do Flamengo, Zico foi escolhido para conduzir a tocha olímpica. Zico é considerado uma lenda na cidade onde atua como diretor técnico do Kashima Antlers, e é fonte de inspiração do futebol japonês, atualmente reconhecido internacionalmente.

O medo: boa parte dos japoneses temem a vacina e a realização das Olimpíadas na pandemia

Na cidade de Mito, a 100 km de Tóquio, uma mulher tentou apagar a tocha durante a passagem usando uma pistola de água, e foi presa imediatamente. Uma pesquisa realizada pelo Asahi Shimbun, um dos maiores jornais do Japão, revelou que uma boa parcela da população japonesa é contra a realização dos jogos durante a pandemia. Entre os países do primeiro mundo o Japão está entre os que menos vacinaram, não só por problemas de logística como também pelo alto índice de rejeição à vacina. A mais utilizada é a da Pfizer BioNTech, fabricada com RNA mensageiro sintético.

Dois eventos negativos relacionados a vacinas ocorreram nos anos de 1970 e 1980, quando duas crianças morreram após receberem a vacina tríplice, também aplicada no Brasil como DPT, que é contra difteria, tétano e coqueluche. As vacinas deixaram de ser aplicadas e, como era de se esperar, aumentaram os casos de tosse convulsiva. Em 1980, as vacinas aplicadas contra sarampo, rubéola e caxumba, aqui no Brasil conhecida como MMR tríplice viral, também foram objeto de desconfiança de terem causado meningite em crianças. Todos esses casos levaram o governo japonês a indenizar as famílias que se sentiram prejudicadas. Desde então, a vacinação é voluntária, e por mais de uma década nenhuma vacina foi aprovada.

Novamente em 2013 ocorreram relatos de reações à vacina contra HPV, o papilomavirus humano que pode causar câncer cervical, e novamente foi retirado do programa de vacinação pelo governo japonês. Prevê-se que num futuro próximo as mulheres japonesas terão altas taxas de câncer de colo uterino, algo em torno de 11 mil mortes evitáveis.

Para o professor Shoji Tsuchida da Universidade de Kansai, alguns grupos têm rejeição às vacinas, mas não se caracteriza como um movimento anti-vacina generalizado no país.

Segundo o site da Bloomberg, existem algumas falhas no sistema de distribuição das vacinas em Osaka e outras cidades com alta densidade populacional. Isso retarda a velocidade de imunização e causa insegurança com a chegada de pessoas de outros países.

As novas modalidades esportivas nesta Olimpíada

O basquete 3X3, semelhante ao basquetebol tradicional, é disputado em uma quadra que tem a metade do tamanho oficiais, tem as demarcações oficiais como uma linha de lance livre, uma de dois pontos, e um semicírculo abaixo da cesta. No lugar dos cinco jogadores, as equipes possuem três (como indicado pelo próprio nome), mais um substituto. Em quadra, ficam um ou dois oficiais de jogo, responsáveis por arbitrar a partida e marcar tempo e placar.

Os primeiros jogos serão em 24 de julho, para times masculinos e femininos.

Skate estreia como esporte olímpico nesta edição das Olimpíadas, e o Brasil vai começar pela categoria street nos dias 25 e 26 de julho, e a modalidade park nos dias 4 e 5 de agosto. Rayssa Leal é a atleta brasileira mais jovem das Olimpíadas e forte candidata a medalha.

O surfe será sediado em Chiba, a 64 km de Tóquio. Medina, Italo Ferreira, Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima estão entre os 40 surfistas (20 homens e 20 mulheres) que estarão em ação no Japão a partir do dia 25 de julho, na praia de Tsurigasaki. O intervalo das disputas do surfe nas Olimpíadas está programada para acontecer em 4 dias seguidos, de 25 a 28 de julho. Se as condições do mar não estiverem boas para a conclusão do evento nesse período, as provas podem se estender até, no máximo, dia 1 de agosto. ( cultura.uol.com.br/olimpiadas-toquio-2021).

A escalada esportiva será dividida em três fases: dificuldade, velocidade e boulder (sem cordas de segurança). Os atletas, masculinos e femininos, competirão em todas as categorias e se consagrará quem tiver a maior soma de pontos dados por trajetória, velocidade, resistência e altura. O Brasil não tem representante nesta modalidade.

O karatê, tradicional luta marcial japonesa, se dividirá em duas categorias, kumite (juntar as mãos) e kata (sem contato físico). No kumite, a luta entre dois competidores em três minutos, é pontuada por técnica, e golpes em regiões consideradas alvo, e no kata há a demonstração individual ou de grupo, de técnica, equilíbrio e consciência corporal. O Brasil não se classificou nesta modalidade.

Nesta edição dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em respeito à sustentabilidade foram coletados cerca de 6,21 milhões de aparelhos eletrônicos como celulares, laptops e câmeras digitais para confeccionar 5 mil medalhas de ouro, prata e bronze. Foram extraídos cerca de 32 quilos de ouro, 3,5 quilos de prata e 22,2 quilos de bronze. O desenho foi escolhido em um concurso com mais de 400 projetos ambientais planejados por estudantes e profissionais de design.


Informações:


Os artigos publicados com assinatura são de responsabilidade exclusiva de seus autores e pode não ser necessariamente a opinião do Cidadão e Repórter.Sua publicação têm o propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.