Fotografia: Sebastião Salgado volta à Amazônia

por João Aranha

24.10.2019

Em 1988, o fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, já conhecido internacionalmente, sempre preocupado em documentar a condição humana, visitava a Amazônia e registrava ainda com fotos analógicas, a vida e o cotidiano de vários povos indígenas brasileiros que recentemente haviam estabelecido contato com a “cultura branca”.

20 anos depois, Salgado volta à Amazônia - agora como único brasileiro pertencente à Academia de Belas Artes Francesa e foto-documentarista mais celebrado do mundo.

O fotógrafo passou 60 dias convivendo com várias tribos indígenas, 20 dos quais entre o Grupo Marubo e os da etnia Korubo localizado na Terra Indígena Vale do Javari, na fronteira com o Peru e na divisa do Estado do Amazonas com o Acre.

Para esse trabalho, Salgado já utiliza tecnologia digital de última geração e se fez acompanhar por uma equipe altamente especializada em viagens a lugares remotos e pouco acessíveis, além do jornalista Leão Serva da Folha de São Paulo.

Na bagagem há um purificador de água, um telefone que o liga com o mundo através de satélite, toda uma preventiva farmácia, e um estudo portátil alimentado por duas fontes de energia e uma enorme lona de caminhão que permite ao fotógrafo tirar fotos com o chamado fundo infinito.

Salgado diz que agora já pode fotografar os indígenas em seu habitat cotidiano, quando estão em suas malocas sem janelas, à sombra de grandes árvores e demais ambientes escuros.

Indagado sobre sua técnica, Salgado se limita a dizer que a qualidade de suas imagens cresce com a convivência que estabelece com seu público alvo, numa atenção sempre voltada para a documentação dos conflitos e transformações da sociedade.

No caso dos Koruba, tanto o jornalista como o fotógrafo testemunharam uma situação precária de medo e apreensão, tendo em vista as constantes invasões de suas terras por garimpeiros, madeireiros, caçadores, pescadores e mesmo traficantes que usam as rotas dos rios.

São os lideres dos Korubas que clamam: “Somos gentes como vocês”; “Estão acabando com nossas florestas”; “o que nossos netos vão comer?”.

Para toda população Marubo, estimada em menos de 2.000 indivíduos, há apenas um agente da FUNAI, que cuida de várias outras etnias, localizado a quilômetros de distância e desaparelhado face o crescente corte de verbas.

Salgado espera que com suas exposições e com o livro que está prestes a lançar, chame atenção para o descaso com que nossos primeiros habitantes são tratados.

Para saber mais sobre os Marubos consulte:

  • Quando a Terra Deixou de Falar – Contos da Mitologia Marubo – Pedro Cesarino

  • História dos Índios no Brasil – Manuela Carneiro da Cunha

  • O Inca Pano – Mito, História e Modelos Etnológicos – Oscar Calavia Sáez

  • Enciclopédia Digital – Povos Indígenas no Brasil/Povo Marubo